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Artigos Terça-feira, 04 de Outubro de 2022, 09:50 - A | A

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Terça-feira, 04 de Outubro de 2022, 09h:50 - A | A

GIOVANA FORTUNATO

Câncer de mama e terapia hormonal

GIOVANA FORTUNATO

Reprodução

GIOVANA FORTUNATO

 

O câncer de mama é o tipo de neoplasia mais frequente no mundo (exceto tumores de pele não melanoma) e a primeira causa de morte por câncer na população feminina no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Para o Brasil, estimam-se 66.280 casos novos de câncer de mama, para cada ano do triênio 2020-2022. (INCA). A patologia de mama feminina ocupa a primeira posição mais frequente em todas as regiões brasileiras.

Ele não possui causa única, uma vez que diversos fatores estão relacionados ao seu desenvolvimento, sendo os mais conhecidos: idade, fatores genéticos, hereditários, hormonais e ambientais, além da história reprodutiva.

No Brasil e no mundo, a incidência de câncer vem aumentando nos últimos anos. Os casos entre mulheres com menos de 35 anos também tiveram sua proporção ampliada: a incidência, que historicamente era de 2%, gira agora entre 4% e 5%.

Os fatores hormonais estão relacionados principalmente ao estímulo do estrogênio, seja ele produzido pelo próprio corpo ou aquele obtido por meio da reposição hormonal. Esse hormônio é responsável por estimular as células mamárias até o encerramento da menopausa. A partir daí, surge o cuidado em relação à reposição hormonal.

Conhecida das mulheres que vivem o climatério, a terapia hormonal é recomendada principalmente por ajudar a aliviar os sintomas típicos dessa fase, como ondas de calor, oscilação de humor, insônia, perda de memória, dores articulares, tontura, queda na libido, sintomas urogenitais. No entanto, uma grande preocupação de muitas mulheres é se a reposição hormonal na menopausa pode causar câncer de mama.

De acordo com o Inca, a terapia de reposição hormonal, principalmente a que combina o estrogênio com progesterona, eleva o risco de desenvolvimento do câncer de mama.
A terapia não é recomendada para quem tem histórico familiar ou pessoal de câncer de mama e do endométrio, trombose e/ou doenças cardiovasculares, justamente por aumentar os riscos de desenvolver esses problemas.

Os hormônios utilizados, a dosagem e o tempo de tratamento são determinados pelo médico especialista após avaliação criteriosa do caso, levando em consideração a individualidade de cada paciente.

A atual metanálise britânica , ou seja, análise de diversos estudos realizados sobre o assunto, foi publicada no periódico The Lancet e envolveu os dados de mais de 108 mil usuárias que desenvolveram a doença.

De acordo com a pesquisa, enquanto o risco geral de mulheres entre 50 e 69 anos desenvolverem câncer de mama é de 6,3%, aquelas que fizeram uso diário da combinação de estrogênio e progesterona —uma das mais comuns da reposição hormonal — por cinco anos tiveram o risco aumentado para 8,3%.

O estudo ainda mostrou que o risco persiste mesmo após 10 anos da interrupção do uso hormonal, informação que não era consenso antes entre os médicos. O que chamou a atenção no estudo atual britânico foi o fato de que a terapia de reposição hormonal pode ter riscos ainda maiores se for utilizada por mulheres acima do peso ou obesas ou ainda que façam uso excessivo de álcool.

Após uma certa idade, espera-se que as células mamárias, que são sensíveis aos hormônios femininos, não tenham mais esse estímulo hormonal para se multiplicarem. A terapia de reposição vai continuar esse estímulo. Se há alguma célula cancerígena, é como um estímulo de gatilho para essas células.

Mesmo que não exista alguma célula anormal, no entanto, a continuidade no estímulo aumenta as chances do eventual surgimento de alguma mutação que leve à formação de tumores.

É importante que a mulher seja informada para que possa levar isso em consideração na hora de optar ou não pelo tratamento. A paciente precisa saber que o recomendado é que a reposição não dure mais do que cinco anos, já que, após esse período, os riscos se intensificam. Cada paciente deve ser individualizada na continuidade da terapia após esse período.

É necessário que a mulher e seu médico avaliem a real necessidade de se fazer uso de hormônios nessa fase da vida e, caso seja realmente necessário, na janela de oportunidades, que a aplicação seja feita pelo menor tempo possível. Existem outras formas de tentar lidar com os efeitos da menopausa na saúde e na qualidade de vida, como a prática de exercícios físicos e o controle da alimentação. O uso de hormônios precisa seguir critérios rigorosos.

Assim, a reposição hormonal, se necessária, deve ser criteriosa, individualizada e por pouco tempo, respeitando sempre a história patológica familiar, pessoal e o estilo de vida.

(*) GIOVANA FORTUNATO é ginecologista e obstetra, especialista em endometriose e infertilidade, é professora no HUJM e integra a equipe da Clínica Eladium.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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