Ela é de Ibiá/MG. Ana Maria Gonçalves foi eleita no último dia 10, a primeira mulher negra imortal, da Academia Brasileira de Letras, após 128 anos de existência. Escritora, roteirista, dramaturga e publicitária, lançou o seu primeiro livro de forma independente.
Ana Maria conta que a sua paixão pela leitura nasceu na infância, quando passou a se interessar pela leitura de jornais, revistas e livros. O seu primeiro livro foi lançado em 2002, Ao lado e à margem do que sentes por mim, e toda a primeira edição foi esgotada apenas com divulgação pela internet.
A escritora trabalhou durante 5 anos naquele que seria o grande start da sua carreira como escritora: o romance Um defeito de cor. Nele é narrada a história da protagonista Kehinde, uma mulher africana que enfrenta inúmeras situações no século XIX, em busca do filho. A obra contempla, com a profundidade das suas quase mil páginas, temas como escravidão, racismo, busca por identidade, maternidade, religiosidade, ancestralidade e resistência. Foi o livro que inspirou o samba-enredo da escola de samba Portela, no carnaval do ano de 2024. É de se destacar um trecho: “Sagrado feminino ensinamento / Feito águia corta o tempo / Te encontro ao ver o mar / Inspiração a flor da pele preta / Tua voz, tinta e caneta / No azul que reina Iemanjá”.
Sobre o desfile inspirado no livro da imortal, ela descreveu a sensação: "Vem uma grande história na cabeça até aqui, de pensar na menininha leitora que eu fui e pensar o que ela diria se tivesse vendo essa história de hoje acontecer. Eu acho que eu não venho sozinha, venho a partir de uma tradição em que a gente louva, respeita e traz junto toda uma ancestralidade.”
A obra acima citada foi inspirada na vida de Luísa Mahin, que é genitora do abolicionista Luís Gama, e trata da escravidão no Brasil, além de tocar no tema mulheres negras com profundidade. A luta antirracista na esfera de discussão da igualdade de gênero apresenta um movimento político e teórico em busca de mudança na visão social, compreendendo o sexismo, a opressão de classes e a identidade de gênero. Dentre os muitos marcadores no entendimento das vulnerabilidades, é precisa a análise das consequências materiais e simbólicas trazidas pela imortal.
A centralidade das mulheres negras dentro da interseccionalidade é exposta nas estatísticas das muitas violências. Ana Maria trouxe em palavras: “Racismo é ignorância. Ignorância é algo ativo, não é algo passivo. As pessoas escolhem ser ignorantes porque estão defendendo um espaço de privilégio, às vezes sem mesmo saber que estão.”
Além da imensa representatividade, a Academia Brasileira de Letras destacou a escritora como de forte atuação no país e no exterior, nos debates das questões raciais ela foi residente e curadora de projetos culturais em instituições de Tulane, Stanford e Middlebury, nos Estados Unidos.
Alice Walker, feminista e autora da obra A Cor Púrpura foi precisa: “A maneira mais comum das pessoas desistirem do seu poder é acharem que não possuem poder nenhum".
Que os próximos anos sejam de vitórias para as mulheres da literatura!
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, membra da Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - Cadeira nº 29.
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