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O Brasil mergulha no processo de escolha de prefeitos e vereadores. É momento delicado, mas também um dos raros em que o País tem a oportunidade de promover mudanças. O povo está cansado do quadro atual e sente, embora sem as elucubrações sócio-políticas dos especialistas, a necessidade de algo mais que uma Democracia de Paisagem, onde o representante popular pouco sabe ou procura saber da vida real – aquela que frequenta o supermercado e anda de ônibus, bem diferente da receptora dos salamaleques, salgadinhos e cafezinhos dos corredores do poder.
O brasileiro está cansado de ter a vida consumida pelo trânsito, nas grandes e médias cidades, onde a falta de visão ameaça nos transformar num País de vielas. É preciso pensar num transporte coletivo factível, decente, capaz de oferecer uma alternativa a essa situação caótica.
Também não é suportável que haja cidades brasileiras sitiadas pela insegurança e chefes do crime transformando-se em exemplo de sucesso para uma juventude desesperançada. Como um jovem, pobre, infeliz, sem opção de lazer, nascido e criado na periferia, não iria admirar o sujeito que anda de carrão, cheio de mulheres, se a sociedade não lhe deu o filtro para questionar a origem ou a ética por trás de tanta abastança?
É hora de votar no melhor. E digo isso não como militante partidário, mas, suprapartidariamente, como alguém que deseja contribuir para a construção de uma Nação mais digna.
A política está separando o povo dos políticos. As instituições estão desmoralizadas, desrespeitadas por alguns de seus próprios membros, que não entendem a necessidade de transmitir imagem de correção e honestidade à população.
A maioria dos ocupantes dos cargos de vereador, prefeito, governador, deputado, senador e outros integrantes da burocracia do Estado não entende que há toda uma força pulsante, nas mídias sociais, por exemplo, fazendo críticas ácidas ao exercício do poder e tornando populares os perfis mais críticos. É uma massa que não se conforma com as fachadas, como a de um parlamento que se reúne para impor a força do poder e vira as costas aos anseios da sociedade em momentos cruciais, no que chamo de Democracia de Paisagem.
É essa Democracia – a de Paisagem – que não constrói portos, aeroportos ou estradas capazes de oferecer raízes à admirável estabilidade econômica atual. Um comando que não é capaz de gerar massa crítica para dizer ao poder que é preciso investir em ferrovias, uma vez que as nossas são sucatas de um passado cada vez mais distante.
A eleição deste ano, embora disputada no âmbito municipal, nos dá a chance de pensar em tudo isso. Tomara que sejam eleitos gestores e legisladores modernos, que apresentem ideias novas durante a campanha e daí se possa criar uma geração de políticos diferentes, na medida do que o futuro exige de nós.
Sugiro ao eleitor que julgue as promessas, que normalmente vêm aos borbotões, no calor das eleições, com a lupa do factível. Ou o prometido é realizável ou execre-se o demagogo. O Brasil emergirá melhor das eleições, com medidas como essa.
Boa sorte a todos nós.
(*) ARTHUR VIRGÍLIO é diplomata, foi líder do PSDB no Senado e escreve para HiperNoticias aos sábados.
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