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Polícia Domingo, 10 de Março de 2024, 14:13 - A | A

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Domingo, 10 de Março de 2024, 14h:13 - A | A

LÍDER EM FEMINICÍDIOS

Delegada lista religião, machismo e distinção de papéis como fatores que tornam Estado "campeão"

Em entrevista ao HNT, Jannira Laranjeiras traçou um perfil do agressor, ressaltou a importância da denúncia, inclusive fazendo imagens das agressões, e apontou soluções para diminuir as mortes ocasionadas por violência de gênero 

SABRINA VENTRESQUI
Da Redação

A delegada Jannira Laranjeira, que coordena o Plantão de Atendimento 24 horas às vítimas de violência doméstica e sexual de Cuiabá, elencou o machismo, a religião e os papéis de homem e mulher definidos pela sociedade como fatores determinantes para que Mato Grosso amargue o primeiro lugar como o estado brasileiro em que mais se mata mulheres no país, com 46 feminicídios notificados apenas em 2023. 

“A violência doméstica é multifacetada. Mas a questão social, de falta de segurança no lar, de entendimento, de conscientização, de saber que você é vítima e nós vivemos no estado interiorano. Nós somos um estado em que o conceito de machismo e o comportamento machista é muito enraizado. Estamos tentando desconstruir esses conceitos da sociedade. Todas as vezes que a gente faz um evento preventivo, a gente está conscientizando, dizendo que é violência, desconstruindo o que é machismo. Esse comportamento que julga a mulher, que acha que a mulher tem que ser submissa e cuidar das obrigações do lar, a gente desconstroi que não é isso que é verdadeiro. Que o verdadeiro é a participação do homem nas atividades do lar e da mulher na atividade social”, explicou a delegada à reportagem.

“A gente sabe que nosso Estado é religioso, tem religião dentro da comunidade. Então, isso também é um dos fatores que faz com que a mulher continue se submetendo a esse tipo de violência”, complementou.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgada na quinta-feira (7), no ano de 2023, Mato Grosso foi um dos 18 estados brasileiros que apresentou taxa de feminicídio acima da média nacional, que é de 1,4 mulheres assassinadas a cada 100 mil, e registrou 2,5 mulheres mortas no mesmo grupo, ocupando o primeiro lugar no ranking de violência de gênero. Contudo, apesar da taxa elevada, o Estado teve redução de 2,1% na taxa de vitimização por feminicídio, pois, em 2022, o número chegou a 47.  

Em entrevista ao HNT, Jannira Laranjeiras traçou um perfil do agressor, ressaltou a importância da denúncia e apontou soluções para diminuir as mortes ocasionadas por violência de gênero. 

Um estudo feito com as 107 vítimas de violência doméstica atendidas pelo programa Ser Família conseguiu traçar o 'rosto' do agressor, com faixa etária, índice de escolaridade e empregabilidade. “Ele tem grau de escolaridade baixo. É jovem, está entre a faixa etária de 25 e 39 anos e geralmente é empregado”, disse.

No entanto, isso não significa que homens que possuem alto grau de escolaridade não cometem feminicídios, mas, sim, que a incidência é menor. Nessa toada, é possível citar, inclusive, o caso do empresáiro Carlinhos Bezerra, filho o ex-deputado federal Carlos Bezerra (MDB), autor dos assassinatos brutais da ex-namorada, Thays Machado, e do namorado dela, Willian Cesar Moreno, praticados no bairro Consil, no dia 18 de janeiro de 2023. O fato marcou o início da violência de gênero no ano, que levou o Estado à triste estatística. 

FAMÍLIA

Ainda segundo a delegada, a opinião familiar também influencia na tomada de decisão das mulheres que sofrem violência doméstica, pois, ao obedecer os conceitos de “honrar pai e mãe”, algumas mulheres continuam em um relacionamento com o agressor para agradar os familiares, que muitas vezes sabem da violência e incentivam a manutenção da relação sob o argumento de que o homem é um “bom pai”.

“A família sabe que ela sofria. Mas, a família sabe que a mulher é vítima e fica alimentando. ‘Não, mas ele é um bom pai’. Não tem como ser bom pai e não ser bom marido, tem que ser os dois, tem que ser bom para mulher e para o relacionamento. Porque se você agride sua mulher na frente do seu filho, você não é bom pai. Bom pai só porque trabalha e traz comida pra dentro de casa?”, indagou.

 A coordenadora também foi enfática ao dizer que a mulher não pode ter medo de denunciar, já que medidas protetivas salvam vidas. Ainda na mesma amostragem, entre as assistidas pelo programa Ser Família, ficou demonstrado que 89% das mulheres que foram mortas não tínham medida protetiva contra os companheiros. No entanto, uma pequena porcentagem teve a medida concedida pela Justiça, mas, ainda assim, foi assassinada. Dessa forma, Jannira explicou que é preciso analisar esses casos para entender onde está a falha e repará-la.  

LEIA MAIS: Relatório aponta que maioria das vítimas de feminicídio não tinha protetiva 

“A medida protetiva salva vidas sim. Oitenta e nove por cento das mulheres que morreram não tinham medida protetiva e nem boletim de ocorrência [contra o agressor]. Ou seja, é o mínimo de mulheres que morreram que tinham medidas protetivas e boletim de ocorrência. Veja, denunciar vale à pena. Medida protetiva salva vidas. Agora, nós temos que pegar essa estrutura e ver onde nós falhamos”, destacou.  

Nesse contexto, a autoridade aconselhou as vítimas a gravarem as agressões, já que, durante a confecção do boletim de ocorrência, esses elementos comprobatórios podem ser adicionados e dar força às denúncias. 

“Você pode fazer denúncia, pode juntar até vídeo, fotos, na medida protetiva aqui também no site da Polícia Civil, você junta fotos, vídeo, print, vai salvando. Grave vídeo, coloque um dispositivo de filmagem no seu celular, deixa lá gravando os gritos, os xingamentos, a quebradeira. A gente tem que ensinar mesmo à mulher como se defender, a como constituir prova e denunciar”, propôs. 

GUERRA DE VERSÕES

Jannira ainda desmistificou um dos argumentos muito utilizado pelos agressores, especialmente em crimes sexuais, para intimidar e silenciar a vítima: de que seria uma “guerra de versões”, ou seja, a palavra dela contra a dele. Todavia, a autoridade policial explicou que as delegacias contam com um aparato tecnológico capaz de colher o material genético do criminoso e identificá-lo, ao fazer o confronto de dados. Por isso, ela pede para que as vítimas preservem o local da agressão ou abuso e as roupas que vestiam quando ocorreu o crime.

“Além disso, nos crimes sexuais, mulheres, guardem as roupas que foram abusadas, a gente consegue extrair material genético. No local onde aconteceu, não lave, preserve. Se for um chupão, penetração, esfregão, a mulher tem que vir direto para a delegacia denunciar, porque a gente vai submetê-la a um exame de corpo delito e vamos conseguir alcançar o DNA masculino. Então, não vai ficar só a palavra da vítima, como eles falam. A gente tem material genético, a gente alcança, a gente tem prova técnica para produzir. Então, você pode ter sido abusada em quatro paredes, nas escuras, sem ninguém ter visto, mas a sua palavra vai ter força”, esclareceu. 

Divulgação

Relatório violência contra mulher

 

Por fim, a autoridade avaliou que o caminho para mudar o cenário é a conscientização, tanto da vítima quanto do agressor.

“Primeiramente, a gente tem que conscientizar que a prevenção é fundamental, as crianças têm que nascer, têm que crescer tendo conhecimento que é violência. Porque a Lei Maria da Penha não é conhecida. As mulheres não sabem para que que ela serve, sabe que existe uma lei para proteger mulheres, mas não sabe efetivamente o alcance da lei. Elas não sabem e nem o que é a violência. Que o xingamento, que o arremesso de objeto, que é a obrigatoriedade de manter relação sexual no casamento, que tudo isso é crime. Então, a gente tem que primeiro trabalhar essa conscientização. Depois, disseminar todas as ferramentas de proteção. A gente quer trabalhar o agressor e colocá-lo para reflexão. Ele precisa ser direcionado para algum programa que faça ele refletir o que é a violência”, pontuou.

Outro passo importante, segundo Jannira, é educar os filhos das vítimas de violência de gênero para que eles não repitam o mesmo comportamento agressivo do pai. 

“Os filhos, muitas vezes, vão reproduzir ou serão vítimas. Então, o que a gente pode fazer? Educação. As palestras, encontros, todas as vezes que a gente se mobiliza, que a gente vai à imprensa, a gente está ensinando e fazendo uma ação de prevenção, porque estamos explicando o que é crime, quais são as ferramentas [para se defender], onde eu posso ligar, com quem eu posso falar”, concluiu.   

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