Primeiro profissional no mundo a comandar uma experiência de reprodução induzida da piraputanga em condições de campo, o biólogo Keve Zobogany de Szonyi de Silimon, há mais de quatro décadas trabalhando em Mato Grosso em áreas ligadas ao meio ambiente e pesquisas sobre os peixes da Bacia do Rio Paraguai, afirma que a redução dos estoques pesqueiros dos rios do Estado e a destruição paulatina do Rio Cuiabá é consequência de uma série de fatores, incluindo a ganância e a “falta de vergonha na cara” de muita gente, principalmente das autoridades da administração pública.
Segundo Silimon, falta vergonha na cara das autoridades públicas de todos os níveis, que de olho gordo nos impostos fingem que não estão vendo que os resíduos de agrotóxicos utilizados na agricultura mecanizada são levados para os rios, e estão acabando com a ictiofauna. Não veem também que a falta de tratamento de esgotos das áreas densamente povoadas que o Rio Cuiabá corta e que deságuam em seu leito, despejando em suas águas todo tipo de sujeira e resíduos de produtos químicos, estão dizimando os peixes.
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Falta também vergonha na cara do produtor rural que com a ganância de ganhar cada vez mais com a agricultura tecnificada pulverizam suas lavouras com produtos químicos cada vez mais fatais para o meio ambiente. “A soja, o milho, o algodão, são importantes para a economia do Estado; mas não são mais importantes do que o meio ambiente, a vida de um rio. No caso do Cuiabá, é vital para milhares de pessoas que dependem do seu peixe, de suas águas” – afirma Silimon.
Para o biólogo, falta vergonha na cara também dos moradores de margens de riachos e esgotos que correm a céu aberto e de ribeirinhos que canalizam até suas fezes para o Rio Cuiabá e seus tributários; dos produtores de verduras e legumes que utilizam suas águas para cultivar suas suas hortas; dos consumidores que “sabem que estão se entupindo de alimentos cultivados com produtos químicos comprovadamente de alto potencial cancerígenos, mas continuam comendo veneno”. Falta ainda, e principalmente, vergonha na cara dos pescadores profissionais que exercem a atividade na piracema, impedindo a reprodução e o nascimento de milhões, bilhões de peixinhos que deixam de repovoar os rios.
Pesquisadores afirmam que uma fêmea do pacu na idade adulta chega a desovar cerca de 1,5 milhão de ovos na época de reprodução dos peixes, que em Mato Grosso começa em novembro e se estende até fevereiro. É evidente que é muito baixo o índice de fecundação dos ovos na natureza, principalmente em um rio poluído como o Cuiabá, mas mesmo assim nasceriam uma quantidade incalculável de peixinhos se as fêmeas de todas as espécies já em condições de desovar não fossem capturadas por pescadores gananciosos e criminosos para virar comida.
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Atualmente trabalhando por conta própria, prestando consultoria e elaborando projetos ambientais, Keve Silimon garante que a situação do Rio Cuiabá é muito grave e não será revertida se as autoridades em todos os níveis da administração pública não encararem o problema da poluição do curso d’água com a seriedade que a questão exige. “Estão deixando o Rio Cuiabá ser destruído e ninguém faz nada. É só conversa fiada e nada mais” – adverte.
Recentemente, Silimon participou de uma equipe que fez um trabalho para o Veículo Leve sobre Trilho sobre o Rio Cuiabá, descendo por água da comunidade rural do Sucuri até a localidade São Gonçalo Beira-Rio, onde o Coxipó desemboca no Cuiabá, para avaliar a influência do VLT nesse trecho de algus quilômetros. “São tantos os esgotos que deságuam no Rio Cuiabá que desistimos de contá-los” – destaca Silimon.
Para o biólogo, além de estar faltando mais água, em virtude das condições climáticas em constante alterações no Pantanal Mato-grossense – em baías, lagos, tributários do Cuiabá, áreas alagadas, corixos, etc. – para permitir o desenvolvimento dos peixinhos que nascem na piracema, sem controle da poluição não há salvação para o rio. Ele ressalta que alguns poluentes químicos só se decompõem na natureza depois do rio percorrer centenas de quilômetros e outros simplesmente se depositam, causando danos irreparáveis à vida aquática não se sabe por quanto tempo.
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Conforme Silimon, tem muita gente falando “abobrinhas” sobre o Rio Cuiabá sem o mínimo conhecimento de causa. Há quem sustenta até que o sumiço de peixes desse rio, principalmente dos grandes bagres como cachara, pintado e barbado, está sendo causado pela falta de “escadas” para as espécies vencerem a barragem da Aproveitamento Múltiplo de Manso para desovar e onde o Cuiabazinho, nome original do Cuiabá desde as suas nascentes em Bom Jardim, recebe as águas dos formadores da represa – os rios Manso e da Casca.
O biólogo explica que alguns peixes precisam realmente de “escadas” para chegar a cabeceiras de rios na época da desova, entre eles o salmão, que sai do mar durante o período de reprodução, e a truta, já sendo testada em rios brasileiros da região sudeste e sul, mas sem muito sucesso por se tratar de uma espécie muito exigente em relação ao clima. O salmão, por exemplo, fica no hábitat onde desova até morrer, pois é uma espécie anádroma, muito diferente dos peixes das bacias da Amazônia, do Paraguai e do Araguaia, que são migratórias (reofílicas) por natureza e vivem subindo e descendo os rios.
UM TRABALHO BEM SUCEDIDO
Realizada em novembro de 1984 no Rio Cuiabá na Fazenda Pé de Serra, em Nobres, a experiência para a reprodução induzida da piraputanga em condições de campo foi bem sucedida, com alto índice de eclosão dos ovos, de acordo com o Boletim de Pesquisa n° 09, publicado em maio de 1997 pela Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural S/A – Empaer para validação da pesquisa. O objetivo da experiência em campo foi demonstrar a viabilidade da reprodução induzida da piraputanga para aproveitamento na piscicultura.
Sob a coordenação de Keve de Silimon participaram da pesquisa Alinor Caetano de Oliveira, Balzac Santana Lopes, Enock Alves dos Santos e Amaury Bezerra da Silva, os três primeiros biólogos, e os dois últimos engenheiros de pesca, todos com larga experiência em suas respectivas áreas de atuação, principalmente na piscicultura em Mato Grosso e Nordeste do país e que evoluiu muito no Estado depois que a hoje extinta Empa e a Empaer montaram com recursos da Superintendência do Desenvolvimento da Pesca – Sudepe e da Finep (Financiadora de Projetos e Estudos), do CNPq, em Nossa Senhora do Livramento a Estação Experimental de Piscicultura com laboratório para produção de alevinos em alta escala e trabalhos de criação e engorda de espécies nativas.
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As pesquisas sobre a ictiofauna no Estado começaram na Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso – Codemat, através do Projeto Aripuanã, desenvolvido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A engorda da piraputanga em tanques em Mato Grosso vem sendo pesquisada desde 1977 por engenheiros de pesca e biólogos, com a criação no governo de José Garcia Neto (1975-79), com recursos da Sudepe, do Centro de Pesquisas Ictiológicas do Pantanal Mato-grossense – Cepipam. A bem sucedida criação da piraputanga em cativeiro diminuiu a pressão nos rios sobre essa espécie de alto valor comercial por causa do sabor de sua carne.
Com o surgimento do Cepipam, o grupo de profissionais que já vinha trabalhando no Estado para desenvolver a piscicultura, além de atuar em defesa da ictiofauna dos rios da região, passou a contar também com o engenheiro florestal, biólogo e cientista Pedro Nonato Conceição e o biólogo José Augusto Ferraz de Lima. A exemplo da equipe pioneira na desova induzida da piraputanga em campo, os dois também continuam em atividade. Ferraz de Lima virou doutor em biologia do peixe e trabalha atualmente no Estado.
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A produção de alevinos através da desova induzida, geralmente com alto índice de fecundação de larvas que depois viram peixinhos, ao contrário do que ocorre na natureza, dependendo das condições ambientais do hábitat das espécies, é feita com a extrusão dos ovos das fêmeas e do esperma dos machos, por intermédio de delicada e paciente massagem na barriga das espécies.
Antes dessa etapa do processo, é injetado hormônio (hipófise) na fêmea e macho para completar a maturação gonodal. Feita a coleta, sêmen e óvulos são colocados em um recipiente especial e misturados pacientemente e depois acrescentada água para ser feita a hidratação. Em seguida, a mistura é levada para as incubadeiras para eclosão dos ovos, e nascimento das larvas e posteriormente colocadas nos viveiros de alevinagem para a formação dos peixinhos.
PERSPECTIVAS SOMBRIAS
Desiludido, mas não vencido pelas promessas que nunca são cumpridas, afirma Keve Zobogany que “se já não fosse conhecido do brasileiro, o famoso amanhã continua se perpetuando. As providências sempre ficam para o próximo governo que nunca implementam os projetos e quando isso acontece, são descontinuados pelo governos seguinte pela falta de interesse em manter o legado futuro...” – lamenta o biólogo
– Meu filho, já com 30 anos, e meus futuros netos o que saberão do que foi o Pantanal Mato-grossense e seus campos, onde eu tive a oportunidade de desenvolver os meus primeiros estudos? Será que ficarão só nas fotos e nas lembranças de um velho que um dia foi pesquisador? – questiona.
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– Seria infame deixar um triste legado ou apocalíptica previsão para o cenário do nosso bioma pantanal: poluição, desmatamento, destruição. Onde está o legado do Estado e da União para com o bem estar e o direito da população em consumir a água limpa que não seja de garrafão? – indaga Silimon.
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Pedro Nonato da Conceição 29/04/2014
Parabens Keve Zobogany de Szonyi de Silimon principalmente pelo maravilhoso livro que publicaste sobre a identificação dos peixes do Pantanal, nós que chegamos a trabalhar juntos no CEPIPAN em programas ambientais temos memórias para redigir textos sobre quaisquer assuntos mesmo sendo ele de especializações diferentes; contudo, posso não ser especialista em vários assuntos; mas, como Ecólogo tenho o direito de opinar sobre as ciências pertinentes. O Biólogo Erick Campos falou mal da minha pessoa dizendo que eu sou um João ninguém do achismo. Ele não sabe nada sobre a minha pessoa um Idoso sano que tem memória deste Estado e fez muito pela juventude a começar pela fundação da UFMT, que talvez fora o seu lar educacional. Eu tenho muitos livros publicados sobre vários assuntos, se ele não os acha problema é dele. Disse que ele é um verdadeiro Biólogo e que faz verdadeira ciência contando jacarés e descobrindo o que ele come. Eu provoquei a matéria sobre o assunto jacaré na Hypernoticia porque não suportava mais o silencio daqueles que estão ligados diretamente à matéria SEMA e IBAMA. O Governador publicou uma portaria dizendo que o Pescador Amador está acabando com os peixes do rio Cuiabá. Sabe por que os Biólogos do Governo não contestaram? Porque eles têm medo de serem demitidos. Dr. Keve estou feliz pelo que textualizou sobre o rio Cuiabá, eu não conheço nem uma cidade no mundo que foi criada independente de um rio, ou de um lagopois é ele que dessedenta a sua população, inclusive os governantes que não o respeitam e veneram? Porque são ignorantes sobre a evolução do ambiente com o Homem, este que destrói tudo. Como Engenheiro Florestal e Biólogo na área da Botânica, lamento a perda de energia que o Brasil perdeu com as queimadas das florestas tropicais. Hoje nós estamos usando a água num estado pior que os animais selvagens que urinam, defecam e bebem da água estagnada e disponível.
Marta 13/04/2014
A POLUIÇÃO DAS ÁGUAS PELO ESGOTO QUE É JOGADO NO RIO CUIABÁ REPRESENTA UM FATOR DE RISCO PARA A POPULAÇÃO QUE FICA SUJEITA AS DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HIDRICA COMO, COLERA,DIARÉIA,FEBRE TIFÓIDE,HEPATITE ENTRE OUTRAS E TAMBÉM NÃO É MAIS POSSIVEL TOMAR BANHO, BEBER ÁGUA E O CONSUMO DE PEIXES JÁ ESTÁ COMPROMETIDO POR POSSUIREM GRANDE CONCENTAÇÃO DE BACTÉRIAS E COM ISSO TODO O RIO CUIABÁ ESTÁ AGONIZANDO,E A BIODIVERSIDADE DO PANTANAL ESTÁ COMPROMETIDO, È FALTA DE VERGONHA NA CARA DE NOSSOS POLÍTICOS.
Waldir 13/04/2014
É FALTA DE VERGONHA NA CARA DOS POLÍTICOS DESTE ESTADO,PORQUE PARA A COPA DO MUNDO ARRUMARAM DINHEIRO,MAIS PARA OBRA DE SANEAMENTO DO RIO CUIABÁ NÃO CONSEGUEM É BRINCADEIRA,E O QUE FAZ A COMISSÂO DE MEIO AMBIENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA COMPOSTA POR DAL BOSCO E TANTOS OUTROS DEPUTADOS??????
Cidadão Cuiabano 09/04/2014
Em relação à pesca predatória, algumas opções: 1. Sou pescador desde criança nas águas do Cuiabá. Posso observar que a pesca predatória, em todos as suas variantes (pescadores profissionais, amadores, turistas, cevas desmedidas, anzóis de galhos, espinhéis, tarrafão, redes, boiões), está bastante presente, em larga escala, e sem controle, no rio; 2. As espécies de peixes consumidos pela população são atualmente criadas em cativeiro. Por que não PROIBIR a retirada de peixes para fins comerciais do rio? 3. Como consequência, ficaria proibida a venda de peixes do rio, seja in natura ou em restaurantes; 4. O turismo de pesca consciente (cota zero para transporte, pesque e solte, etc), como na Argentina, é fonte de renda sustentável de um inúmero contingente de pessoas na região, permitindo renda muito melhor que a verificada por aqui, seja de pousadas, agentes de fiscalização, piloteiros, restaurantes, etc. 5. A Argentina é sinônimo de peixes grandes. O Pantanal se tornou sinônimo de peixes pequenos. Os pescadores brasileiros hoje pagam milhares de reais para ir pescar lá! E a bacia do Paranazão de lá é a mesma nosssa. E as espécies são as mesmas. A diferença é que lá, por exemplo, o Pintado comumente pesa 30, 40kg, enquanto o nosso, 3, 4, 5kg. Os Dourados pesam 20, 30 kg, enquanto o nosso, 2, 3, 4 kg; 6. Que tal absorver os pescadores profissionais que moram na beira dos rios como fiscais de pesca? Provavelmente se exigiria legislação especial para isto. Mas quem melhor do que eles para conhecerem os pontos de pesca ilegais, as armadilhas, as cevas, a pesca ilegall? E nem necessitariam de diárias, etc, para deslocar-se às áreas de fiscalização. Hoje eles são explorados por atravessadores e infestam o rio com apetrechos predatórios e muitas vezes proibidos. Um turismo forte daria muitos empregos bem remunerados para eles; incentivos à piscicultura também; 7. O pesque e solte é uma alternativa viável. Quem fala ao contrário não sabe do que está falando. Qualquer pesquisa séria a respeito indicará uma perda de no máximo 2%; 8. Que tal pensar seriamente a respeito?
Marcelo Mattos 07/04/2014
Dizem os contumazes jogadores de lixo e detritos, despejadores de esgotos sem tratamento, derrubadores de arvores e plantas das margens dos rios etc. que usam a desculpinha esfarrapada de que a poluição é um tributo ao desenvolvimento. Mas que desenvolvimento? Será que destruir a natureza, acabar com a fauna ictiológica, encher os rios de dragas é mesmo desenvolvimento? Diversos rios na Europa nas mesmas condições ou piores estão empenhados e já conseguiram recuperar vários deles numa demonstração de consciência e civilidade. O Rio Cuiabá ainda tem salvação se medidas urgentes e extremas forem tomadas a tempo para limpar e tornar as suas águas potáveis e adequadas para a sobrevivência dos nossos peixes. Até os rios Tietê e Pinheiros em São Paulo estão em estudos mesmo que atrasadíssimos para tentar melhorar a qualidade de suas águas.
reinaldo celso 07/04/2014
meus parabens, Sr.Pesquisador nos altos dos meus 65 anos, ver o meu Rio que tanto Amo, morrendo a mingua essas aguas que mé ensinaram a nadar , pescar ou remar que , onde criancas e adultos deliciavam de suas aguas cristalinas tão cheirosas que envolve ate hoje as minhas lembrancas de menino e adolecentes. e com muita tristeza no coração que tudo isso e por ganancia de homens Maus. serão punidos por isso podem ter certeza .Canalhas.
Talisia 06/04/2014
O BIÓLOGO ESTÁ CORRETÍSSIMO AO FALAR DO SUMIÇO DE PEIXES E DESTRUIÇÃO DO RIO CUIABÁ É FALTA DE VERGONHA NA CARA DAS AUTORIDADES DE TODOS OS NIVEIS,PORQUE É DEVER DO PODER PÚBLICO É DE DEFENDER E PRESERVAR O MEIO AMBIENTE,NOS TERMOS DO ART.225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL,PARA DAR UMA VIDA DIGNA,SAUDÁVEL E DE QUALIDADE A TODOS NO PRESENTE E NO FUTURO E TAMBÉM O DESMATAMENTO ILEGAIS VEM SENDO UMA ATIVIDADE FORTE NO ESTADO DE MATO GROSSO COM A REVOGAÇÃO PELOS DEPUTADOS DA LEI 235 DA FISCALIZAÇãO E IDENTIFICAÇÂO DE MADEIRAS PORQUE A FISCALIZAÇÃO INCOMODA OS DEPUTADOS E AQUELES QUE INSISTEM EM TRANSPORTAR MADEIRAS IRREGULARES.
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