A sobrecarga e o silêncio estão levando muitos profissionais ao sofrimento emocional e mental. A observação, feita pela psicóloga especialista em análise do comportamento e pós-graduanda em neuropsicologia, Luana Estela de Arruda, dá-se diante de episódios de extremo estresse vividos por trabalhadores da área de segurança pública, que não fogem ao volume de pessoas com o mesmo problema. A tensa e exaustiva escala de trabalho nas ruas, sob a missão de salvar vidas e combater a criminalidade, junto ao silêncio diante de superiores e familiares, estão afetando policiais, que vêm emitindo sinais de alerta de que é preciso investir em ações de prevenção, locais de apoio e campanhas de valorização à vida dentro dos quartéis.
A análise da especialista é baseada nos últimos acontecimentos envolvendo policiais militares no Estado, como foi o caso do vídeo do sargento de Guarantã do Norte (a 708 km de Cuiabá) que, em lágrimas, desabafou nas redes sociais dizendo que estava abandonando o serviço policial porque, nas palavras do militar, “ele queria ser gente”.
A psicóloga reforça que é importante pedir ajuda e ser acolhido adequadamente. “É perceptível a qualquer pessoa que há um sofrimento mental estabelecido pelo autor, no entanto, que os motivos ou dispositivos que desencadearam esse sofrimento emocional seguem sigilosos”, afirma Luana Estela.
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Se o pedido de ajuda não é feito ou não é acolhido adequadamente, com apoio profissional e acolhimento familiar, infelizmente, situações podem desencadear tragédias, como a registrada nos dias 21 e 22 de outubro, no Estado, que abalaram a equipe policial da 18ª Companhia Independente de PM, em São José do Rio Claro (a 295 km de Cuiabá). Na ocasição, o sargento Gabriel Castela atirou no colega de farda, sargento William Ferreira, e, no dia seguinte, tirou a própria vida com uma arma de fogo, na frente dos parceiros de batalhão.
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Na avaliação de Luana Estela, já existem avanços na valorização da saúde mental da população em geral dentro das políticas públicas, mas nas forças de segurança é preciso continuar essa caminhada. “É preciso espaços para cuidados e avaliações para continuar esta caminhada, para proporcionar apoio, por meio de campanhas de prevenção e conscientização da valorização da vida junto aos policiais”, sugere a especialista.
Sobre a situação do sargento que divulgou o vídeo dizendo que deixaria a PM, o comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Alexandre Corrêa Mendes, em pronunciamento público gavado em vídeo, declarou comoção com a situação e disse que o policial já está sob os cuidados e atendimento especializado. Mendes ainda ressaltou estar ciente dos danos causados pelos poucos investimentos em saúde mental dentro da corporação e as consequências da adoção de reposição de efetivo policial para suprir a demanda nas ruas.
“Sei muito bem que precisamos ser mais assistidos, sei muito bem que a jornada extraordinária não é uma política salarial, mas um meio alternativo de reposição de efetivo policial. Estamos trabalhando diariamente pela saúde mental da minha tropa, o policial já está sob cuidados e atendimento especializado. A Polícia Militar atende diariamente policiais que precisam de ajuda, mas não divulgamos por ética profissional. Problema emocional acontece em todas as classes e instituições, e na PM não será diferente”, ponderou coronel Mendes.
Segundo o comandante, neste ano, mais de 500 policiais militares receberam atendimento especializado relacionado à saúde mental.
A reportagem HNT procurou a assessoria de imprensa da PMMT para obter informações sobre como é realizado o acolhimento e o atendimento psicológico dos policiais militares que procuram a Coordenadoria de Assistência Social da Polícia Militar (CAS). A instituição respondeu: “os policiais militares procuram a unidade ou são encaminhados até, onde são realizadas entrevistas a modo de ver qual a necessidade que aquele militar tem. Nisto, são realizados encaminhamentos a unidades de saúde, encaminhamentos para psicólogos e psiquiatras, tanto da rede pública quanto privada, onde é feito esse acompanhamento e acolhimento ao policial e seus familiares ”.
Nesta sexta-feira, o comandante-geral da PMMT, na abertura de um workshop, abordou o tema saúde mental e falou sobre ele com os policiais que participavam no evento, no Teatro Zulmira Canavarros, na Capital.
“É de suma importância um debate saudável sobre temas tão atuais e que estão em evidência na nossa corporação. Muitas vezes, os problemas de saúde mental começam de maneira silenciosa, e temos que mostrar para nossos colegas que não estamos sozinhos. Afinal, esse colega precisa de ajuda para que ele possa cuidar de sua saúde e estar em condições de cuidar do próximo e proteger a vida do cidadão”, destacou.
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