O excesso de vigilância, a crise humanitária e a perseguição sionista a jornalistas foram as primeiras impressões do repórter-fotográfico Ahmad Jarrah após sua chegada no Líbano. Logo no primeiro dia no país, na terça-feira (12), Ahmad e a família foram recebidos com um bombardeio perto o suficiente para fazer com que as janelas da casa onde estão hospedados tremessem.
A cautela começou ainda na chegada em Beirute, capital do Líbano. Ahmad, a mãe, a esposa e seu filho precisaram passar pela Turquia antes de aterrissar em território libanês. Já no aeroporto, o fato de se tratar de um jornalista levantou preocupação. A imprensa, segundo os relatos colhidos por Ahmad ao longo de quase uma semana, se tornou um dos principais alvos do exército israelense.
“A primeira coisa que me falaram, que me orientaram foi para tomar cuidado porque eles estão caçando jornalistas. Não é coisa aleatória, não é que atingiu sem querer, bombardeou um lugar onde os jornalistas estavam. Não, eles estão mirando mesmo. Não à toa morreram 100 jornalistas da Palestina e do Líbano”, narrou o repórter-fotográfico ao HNT.
No caminho até o destino final, o Vale do Becaa, Ahmad se deu conta da complexidade da situação. Ele e a família precisaram passar por dezenas de checkpoints, locais onde o Exército libanês monitora a passagem de pessoas pelas estradas. Segundo relatos da população libanesa, no céu, drones e caças israelenses também acompanham quem se desloca sobretudo para a região mais ao Sul do país.
“Nos alertaram que a imprensa é o primeiro alvo que eles estão atingindo exatamente para evitar que a informação chegue ao ocidente. Onde tem jornalista, eles bombardeiam. Intencionalmente. Isso ficou muito claro para gente no relato de todo mundo. Inclusive, falaram que o colete escrito “press” é as vezes pior porque já identifica que é um jornalista e facilita o ataque. Eu não estou falando da zona de guerra propriamente dita, em Gaza. Mas tem locais aqui dentro do Líbano que não podem ser visitados porque é passível de ataques, assassinato. Então estamos tomando esse cuidado”, contou Ahmad.
O plano, segundo ele, é mapear os lugares onde é possível se locomover com segurança e, depois, entrar nos campos de refugiados para escutar as histórias de quem vive diariamente a crise humanitária que assola o país. Numa temperatura de 6° C e às vésperas do início do inverno, milhares de sírios e palestinos se abrigam no Líbano sem condições mínimas de dignidade, embaixo de lonas, sofrendo com a falta de comida e saneamento.
“O Líbano tem sofrido muito isso. O Líbano está sofrendo bombardeios no Sul. Inclusive con armas proibidas por resoluções de guerra. Israel está lançando, por exemplo, fósforo branco e isso está documentado. O Líbano também tem sofrido muito porque desde muito tempo é um destino tanto de refugiados sírios, quanto de refugiados palestinos e a estrutura num campo de refugiados é absolutamente precária. É muito pior que as favelas brasileiras e é, muito provavelmente, o destino daqueles palestinos que conseguirem fugir e sobreviver. A vida em campos de refugiados é uma vida desumana. Uma vida que não tem segurança, não tem dignidade, não tem nada. É um chão de terra, uma lona e só”, lamentou o repórter-fotográfico.
“Você tem uma crise humanitária oriunda do genocídio porque não existem forças iguais. Você tem o exército mais poderoso do mundo contra uma população 70% civil e mesmo aqueles que sobreviverem vão viver numa condição desumana. É uma situação de calamidade”, completou.
Quase sem acesso à internet, Ahmad Jarrah também transformou o perfil no Instagram em um vetor de informações para além das fotografias. Neste sábado (16) o repórter-fotográfico fez a primeira live relatando o panorama encontrado no Líbano. Assista:
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