Os 73 anos da imigração japonesa em Mato Grosso são celebrados neste domingo (18). Inicialmente, o processo de colonização nipônica ocorreu no nortão, com a fundação da Gleba Rio Ferro, território onde hoje está situada a cidade de Feliz Natal (a 511km de Cuiabá), a partir de um convite feito pelo então presidente Getúlio Vargas.
O convite ao empresário japonês Yassutaro Matsubara partiu do presidente para ocupar o “vazio demográfico” da época, através do incentivo ao cultivo da seringueira. Alguns anos depois, na década de 1960, outras famílias vieram habitar a região, como é o caso dos Kataguiri, clã-personagem desta matéria.
A comerciante Yukari Katagiri, filha de Teietsu e Minako Katagiri, conta que a história do seu pai no Brasil começou em 1958, na cidade de Bastos (SP). À época, ele trabalhava no ramo de granjas e, nos anos de 1960, surgiu a oportunidade de vir para Mato Grosso na companhia de sua esposa. Além de muito trabalho, o casal enfrentou a malária, uma realidade muito comum para aquele espaço, também marcado pela dificuldade de comercialização dos produtos dos colonos. É o que afirma a historiadora Aldina Cássia Fernandes, autora do livro Japoneses em Mato Grosso: história, memória e cultura.
A pesquisadora explica que, após a formação da Gleba Rio Ferro, resultado de um fluxo migratório interno, principalmente dos estados de São Paulo e Paraná, ocorreu uma imigração direta do Japão, especificamente da ilha de Okinawa, para a Cooperativa Agropecuária Extrativa Mariópolis (CAPEM). Esta segunda colônia ficava próxima à Gleba Rio Ferro.
“Com a vinda dos japoneses, principalmente dos colonizadores Yassutaro Matsubara e todos aqueles que compunham a administração da colonizadora Rio Ferro, também vieram vários equipamentos que foram utilizados na abertura das terras. Eles contribuíram muito com o avanço da fronteira agrícola no norte de Mato Grosso na década de 50. Construíram balsas para a travessia dos rios Paranatinga e Teles Pires. Abriram as estradas para chegarem à área de terras que foram adquiridas pelos colonizadores. Construíram 12 pontes de 10 a 30 metros”, traz a escritora.
Ao mesmo tempo em que enxerga a história da imigração japonesa com tristeza, por entender que parte dos colonos foram enganados, Yukari Katagiri também destaca que, para muitos japoneses, a chegada ao Brasil significou uma prosperidade econômica.
“Depois da Segunda Guerra Mundial, eles passaram por muitos problemas financeiros e emocionais e, no Brasil, muitos se realizaram, assim como meus pais”, explica Yukari, que define Cuiabá enquanto uma “terra de gente hospitaleira”. Na condição de filhos de imigrantes japoneses, Yukari e seus outros três irmãos - que nasceram no Brasil - são chamados de nissei. Sua filha, neta de imigrantes japoneses, é chamada de sansei.
Arquivo Pessoal

Família Kataguiri. Da esquerda para direita: Jorge, Yukari(de blusa branca), Satie (de blusa listrada), a matriarca Minako Katagiri e Takayoshi.
MANUTENÇÃO DAS RAÍZES
A comerciante de comidas japonesas em uma feira do bairro Boa Esperança relata que encontrou na culinária e no idioma formas de manter a cultura dos seus antepassados em seu cotidiano. Yukari complementa dizendo que, na época do Ano Novo, os japoneses comem oden (espécie de caldo de shoyu e peixe, misturado com legumes, tofu e ovos cozidos) e soba (massa típica japonesa à base de trigo-sarraceno) para ter prosperidade no ano seguinte, mas, por Cuiabá ser quente, acabou deixando a tradição de lado.
Assim como Yukari, a outra personagem desta matéria, a cantora Akane Iizuka, também procura preservar as tradições por meio da comida. Entretanto, faz questão de frisar que os japoneses não têm o costume de comer sushi e sashimi todos os dias, falando sobre outros costumes.
“A gente não usa sapatos dentro de casa. Quando chegamos em casa, tiramos os calçados, passamos álcool, esse é um costume que temos antes mesmo da pandemia. Outro hábito nosso é com relação a horário. Nós, japoneses, temos disciplina com relação a isto. Se a gente marca um determinado compromisso para um determinado horário, cumprimos com o combinado”, pontua Akane, mãe de um adolescente de 13 anos nascido no Japão.
VIVÊNCIAS DE UMA “PAU RODADO”
Na “Terra do Sol Nascente”, Akane chegou a trabalhar com música, fazendo jingles para rádio e televisão e participando de uma banda de música pop das décadas de 1970 e 1980. Antes de morar em terras cuiabanas, o que aconteceu a partir da Copa do Mundo de 2014, a artista chegou a morar em São Paulo com o ex-marido e o filho, em dezembro de 2013. Akane recorda que tinha um repertório musical pequeno em português quando chegou à capital mato-grossense e, por isso, não imaginou que voltaria a cantar como profissão.
Porém, com incentivo de alguns amigos e do atual namorado, começou a aprender o idioma local e retomou os palcos em 2015, quando assumiu o vocal da banda “Samurai Cuiabano”. O conjunto toca diversos ritmos, entre MPB, samba, bossa nova, rock nacional entre outros.
A cantora natural da cidade de Osaka declara que, apesar das diferenças culturais, está bem adaptada ao novo “país-lar”, já tendo visitado São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso do Sul, além de várias cidades de Mato Grosso para levar a sua arte. Informa que não mantém contato com muitos japoneses ou descendentes em Cuiabá, assim como Yukari. Para a comerciante, a pandemia contribuiu para aumentar o distanciamento dentro da comunidade nipo-brasileira.
Questionada sobre os aspectos culturais de Cuiabá que mais lhe chamam atenção, Akane menciona o grupo Flor Ribeirinha, os ritmos do rasqueado e do lambadão, a culinária – afirmando que já comeu cabeça de pacu e que gosta da comida “japonesa brasileira” - e o calor humano. “Vocês, cuiabanos, são bem alegres. É muito fácil fazer amizade com o povo cuiabano. A maioria dos cuiabanos recebe as pessoas de fora com muita facilidade”, comenta Akane, que se declarou uma “pau rodado”.
DATA COMEMORATIVA
A data no Estado, instituída pela lei nº 8.939/2008, do deputado Dilceu Dal’ Bosco (UB), é a mesma escolhida para a celebrar a imigração em âmbito nacional, marcada pela chegada do navio Kasato Maru na cidade Santos (SP). A bordo da embarcação, estavam 165 famílias de trabalhadores de regiões pobres do norte e sul do Japão, que vieram em busca de melhores condições de vida.
Segundo informações da Assembleia Legislativa de Mato (ALMT), a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Cuiabá e Várzea Grande conta com alguns serviços para preservar as tradições e a cultura dos descendentes na região que, até 2016, somavam quatro mil pessoas.
"Hoje, as principais atividades da Associação são o beisebol, o gateball e o tênis de mesa. Estamos reativando a Escola de Língua Japonesa, Taiko, Kendo e Karaoke na Associação", explica o presidente da entidade, Jaime Shiguetochi. Ele acrescenta que, além de Capital e Várzea Grande, as cidades de Cáceres e Rondonópólis (a 221km e 217km de Cuiabá, respectivamente) também mantêm associações nipônicas ativas. Todo mês, a associação promove a venda de comidas típicas para obter receita para pagamento das despesas da entidade. Mais informações pelo telefone (65) 9981-0061.
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