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Cidades Sábado, 12 de Maio de 2018, 11:25 - A | A

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Sábado, 12 de Maio de 2018, 11h:25 - A | A

TROCA COM NÃO ÍNDIOS

Indígenas buscam conhecimento para auxiliar nas aldeias

JULIANA ALVES - ESPECIAL PARA O HIPERNOTÍCIAS

Nos últimos anos, vem crescendo cada vez mais o acesso de indígenas aos cursos de graduação. Apesar da troca cultural, eles relatam sobre o preconceito que ainda sofrem e as dificuldades nas aldeias. Ainda hoje, os descendentes dos primeiros povos do Brasil, sofrem com preconceito e estereótipos. Apesar da ilusão de que eles vivem isolados, os índios estão entre nós com seus costumes e conhecimentos, assim como a cultura do não indígena também está inserida entre eles.

 

Marcos Lopes/HiperNotícias

Dia do Índio

 

A Universidade Federal de Mato Grosso oferece o Programa de Inclusão Indígena (PROIND) “Guerreiros da Caneta”. O PROIND serve como auxilio e orientação para os alunos que saíram das suas aldeias e estão tendo esse primeiro contato dentro da UFMT e na própria cidade. Além disso, o programa oferece sobrevagas nos cursos que aceitam receber esses indígenas. Por exemplo, o curso de Direito oferece semestralmente 20 vagas pelo Enem e nessas estão incluídos os cotistas, porém caso o curso aceite, ele pode oferecer até três vagas a mais, exclusivamente para os índios.


A Coordenadora do Programa, Professora Carmen Lúcia, contou que a iniciativa busca guiar o aluno, sem maiores dificuldades. Muitos alunos, por exemplo, não sabem que tem direito ao passe livre estudantil e o PROIND também oferece um auxílio para que possam conseguir moradia e alimentação. Ela relatou algumas dificuldades para conseguir essas sobrevagas. Alguns cursos não aceitam e chegam até a alegar não ter estrutura para receber um indígena.


A Professora Carmen Lúcia contou também que no mínimo duas vagas devem ser oferecidas, pois se fosse apenas uma vaga o aluno poderia se sentir muito isolado. Ela falou também sobre algumas dificuldades com o idioma, por exemplo, que muitos deles tem. Nas aldeias, cada etnia costuma ter sua própria língua e ao decidirem cursar uma universidade eles devem se tornar bilíngue, ou seja, aprender o português.

 

Hugo Dias/HiperNotícias

Protesto índios

 

“Nós somos tão etnocentristas que muitas vezes não percebemos, os professores não percebem a dificuldade que eles podem vir a ter. Às vezes uma palavra que eles não sabem o significado já causa essa dificuldade”, declarou Carmen Lúcia.


O estudante Eric Timóteo Iwyrâkâ Kamikiawa, da etnia Kurâ – Bakairi, estudante do curso de Ciências Sociais participa do PROIND desde 2012. Ele contou que estudou a vida inteira na aldeia e nesse período se identificou com as disciplinas de sociologia e filosofia. Escolheu o curso na UFMT pela oportunidade de aprofundar mais nessas áreas e diz que já é uma linha para quem quer ser antropólogo. Ele quer estudar sobre os territórios, algo voltado para a sua aldeia, ter pesquisas e resultados.


“É um compromisso que a gente tem com a comunidade. É diferente quando a gente faz um curso por querer, tipo ‘vou terminar o estudo e trabalhar pra mim’. Não, pra mim é um pouco mais complicado, porque eu estou aqui representando a comunidade, a aldeia, o território de onde vim. Então, voltarei sim para lá, não sei como vou trabalhar, mas eu pretendo me juntar a aldeia, escola, o que tiver pra me incluir ali dentro e desenvolver um trabalho social junto com a comunidade.”


Eric contou também sobre o preconceito que viveu quando chegou e que quando notam que ele é índio, os rótulos quase sempre aparecem. Ele teve algumas dificuldades em falar o português e as pessoas começavam a rir. "O preconceito é forte e eu senti muito isso, sabe. Ninguém falava, mas eu via".

 

Hugo Dias/HiperNotícias

Protesto índios

 

Maria Elizandra Lopes Torekureuda é da etnia Boe – Bororo é formada em psicologia e atualmente mestranda de antropologia social, também pela UFMT. Ela contou que escolheu a psicologia, pois duas familiares tinham deficiência e ela criou curiosidade sobre o assunto, além de perceber que elas não recebiam os cuidados necessários dos profissionais de fora da aldeia.


Maria falou sobre o compromisso em voltar para a comunidade, porém na profissão ela não pode trabalhar com conhecidos e familiares, algo difícil na aldeia onde todos se conhecem. Então decidiu pela antropologia. “Eu optei também pela antropologia porque eu vejo que posso fazer mais pelo meu povo do que só na psicologia. Eu posso trabalhar para os dois e não preciso deixar de trabalhar com o meu povo, eu posso fazer projetos”.

 

Ela fala que a sua vinda foi pelo programa e até então seria inviável ela e outros indígenas entrarem na universidade. “A cota é bem válida, mas se observar tem poucos indígenas realmente da aldeia que conseguem entrar pela lei de cotas. Muita coisa tem que ser mudada para atender os estudantes indígenas que realmente vem da aldeia”.


Eric e Maria contam que o PROIND tem como assegurar quem é indígena e quem não é. Eles se referem a Lei de Cotas na qual existe a auto declaração de ser preto, pardo e índio. “Não adianta nada trazer estudante indígena para vim estudar aqui se não tem assistência, auxílio, alimentação”, conclui Eric Timóteo Iwyrâkâ Kamikiawa.


Ilhosmar Elvis Tsaibata Tse Tsioca, é estudante de Serviço Social na Universidade Federal de Mato Grosso. Da etnia Rikbaktsa, cresceu na aldeia e pretende voltar ao local de origem para praticar a profissão. Ele acredita que esse tipo de trabalho é necessário e melhor quando praticado por outro indígena na comunidade.


Ele defende que a Lei de Cotas, sancionada em 2012, facilitou o acesso às universidades, porém mais vagas e divulgação são necessárias, além do incentivo ao índio. Relata que as aldeias precisam de mais investimentos na educação e saúde, e com isso, os índios estão cada vez mais buscando formação acadêmica e após esse período de estudos, decidem voltar para as suas aldeias para ajudar a suprir a necessidade do seu povo.


A Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso (SEDUC) desenvolveu projetos visando a formação de professores indígenas. Entre eles, está o professor Juarez Paimy Rikbaktsa. Ele relatou sobre a importância de tratar a cultura indígena a partir da infância. Trabalhar a arte, o canto, a dança, a pintura, jogos e brincadeiras indígenas, para impedir o crescimento do preconceito.


Hoje os índios usam celulares, as aldeias têm internet, computadores, escolas, postos de saúde, mas muitos enxergam que esse avanço tecnológico não deve ser usufruído pelos povos indígenas. “A palavra índio se tornou pejorativa. As crianças estão construindo a sabedoria deles para o futuro. Quem somos? Somos povos originários do Brasil”, relata Juarez.

 

Cassiana Oliveira da Silva, natural de Cuiabá, também é mestranda em antropologia e conta que apesar de ter descendência indígena seu conhecimento sobre os povos se limitava aos livros de história e literatura. Esse contato direto só aconteceu dentro da UFMT no curso de Ciências Sociais. Após entender melhor a história e a vida dos índios através dos colegas, ela se tornou uma apoiadora da causa e defende a ampla participação desses povos e outros como quilombolas e ribeirinhos dentro da universidade.


“O meu convívio com eles na sala de aula, no dia a dia, foi completamente diferente daquilo que eu tinha estudado nos meus livros de história, durante toda a minha vida. A percepção de um mundo diferente, uma cultura diferente, um modo de ver diferente, fez total diferença na minha formação em ciências sociais e na minha vida. [...] Estar na sala de aula e fazer um diálogo com teoria científica através da perspectiva indígena, traz uma outra visão de mundo que eu não teria. [...] Isso faz diferença para a nossa percepção de mundo, faz diferença para a nossa construção como pessoas. Como seres humanos dotados de conhecimento e sabedoria”.


De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) foram registradas no Brasil 274 línguas indígenas e cerca de 17,5% da população indígena não fala a língua portuguesa. Atualmente em Mato Grosso existem cerca de 43 etnias indígenas.

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