Com mais de 300 anos, Cuiabá é uma das cidades brasileiras que reúnem uma série de histórias e narrativas tradicionais, contribuindo para o enriquecimento do folclore brasileiro. Mas, a tradição de contar essas lendas e alimentar o imaginário da população vem perdendo força nos últimos anos. E a tecnologia, que poderia ser aliada na preservação do costume, é tida como uma "vilã".
Neste 22 de agosto, Dia do Folclore Brasileiro, o professor e escritor Pedro Félix chama a atenção para o problema. "A tecnologia ao mesmo tempo que aproxima para a história ela te afasta", avalia. Félix é autor de "O minhocão de baús”, lançado em 2019, uma das obras que tenta resgatar as lendas cuiabanas.
“Essa questão da globalização, ao mesmo tempo que te aproxima da história, ela te distancia também, porque você não tem tanto esse contato físico, por exemplo, de rodas de conversas, de encontros como eram comuns antigamente. Hoje você faz uma pesquisa e sabe toda a história”, disse Félix ao Hipernotícias.
O professor ressalta que esse costume de contar histórias foi se perdendo com o tempo e que a comunicação oral está perdendo espaço para as “mensagens instantâneas”.
“Antigamente, você tinha aí várias rodas de conversas com ribeirinhos, mas com o tempo isso foi se perdendo. Hoje as pessoas mais velhas não têm mais esse costume e as crianças, a geração mais nova, ficam a maior parte do tempo conectadas em seus smartphones. Era algo que criava vínculos familiares”, ressaltou o historiador.
Lendas da Capital
O historiador lembra que O Minhocão é uma das lendas mais conhecidas da Capital e durante muito tempo aterrorizou ribeirinhos que acreditavam na existência de cobra gigante. O monstro, conforme a lenda, vive nas profundezas do Rio Cuiabá e virava barcos para devorar os pescadores, levantava grandes ondas e desmoronava barrancos às margens do rio.
“Mentiroso e pescador são as mesmas pessoas. Essa é apenas uma de muitas histórias que se passam por nossa Capital. Diz a lenda que 22 militares foram comidos pelo minhocão em um ponto conhecido antes como a Pedra 21, no Porto”, contou.
Segundo o historiador, outra lenda da Capital é a “Alavanca de ouro”. Ele conta que a história teve início com dois índios que saíram do Coxipó da Ponte atrás de mel ou especiarias para os seus donos, pois eram escravizados. Assim que retornaram, disseram que encontraram muito ouro. "Essa história se passa próximo a Igreja do Rosário. Muitas pessoas vieram de São Paulo para procurar ouro".
Segundo Félix, em dado momento, encontraram uma alavanca brilhando ao fundo e enquanto cavavam o local, mais a ponta ficava distante. "Quanto mais era escavado, as pessoas eram "engolidas" pelo buraco. Só se via a ponta dela brilhando. Muitas vidas se perderam", comenta.
Outro conto bastante conhecido é Tibanaré. Uma lenda que circula entre os cuiabanos desde 1920. Descrito às vezes como um velho pedinte, outras como um pássaro mágico ou ainda como uma espécie de transmorfo, alternando entre as duas formas. A marca do Tibanaré é seu assobio tênue que ecoa pelas ruas de Cuiabá ao anoitecer.
Negrinho d'água
Também conhecido como Caboclo d'água em outras regiões, é uma espécie de Saci-Pererê do rio, que vive fazendo travessuras com os pescadores. Andam em bandos e, no fundo dos rios, há a cidade dos negrinhos d'água. Às vezes, quando capturam um pescador, levam-no para o fundo do rio para dar-lhe surras.
Pé de Garrafa
Um dos mitos mais conhecidos do Estado, a lenda do Pé de Garrafa fala de um homem-bicho, com o corpo coberto de pelos, exceto ao redor do umbigo e, claro, um dos pés tem o formato do fundo de uma garrafa, por isso se locomove aos pulos, deixando pegadas redondas, assustando com seu grito e com os assobios que indicam que é dono do território. Ele é capaz de hipnotizar quem encará-lo, arrasta as vítimas para sua caverna e as devora.
Mulher de Branco
A famosa Mulher de Branco ganhou uma nova identidade, por aqui ela é pantaneira e seduz os homens com sua beleza alva em estradas noturnas, fazendo-os perder o controle e desaparecendo sem deixar rastros. Em outra versão, ela os leva até uma mansão luxuosa e no dia seguinte, eles acordam nus e enrolados em espinhos. No lugar onde antes havia a casa, não há mais nada.
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