Zenaide Wonsoscky, contadora, professora e nutricionista de 46 anos, é chefe de família há seis anos. Separada, ela faz uma verdadeira ginástica para lidar com três profissões e criar dois filhos.
Como contadora, Zenaide trabalha em home office com horários flexíveis. Na docência, além das aulas à noite, ela precisa estudar e preparar o material didático. Como nutricionista home care, atende mensalmente 19 pacientes acamados, acompanhando sua rotina nutricional e reportando ao Estado sobre suas condições de saúde.
Com todas as responsabilidades da casa no colo, Zenaide ainda precisa arranjar meios de conciliar o trabalho com a educação dos filhos e a convivência em família.
“A rotina é baseada na divisão de tarefas. Todos ajudam em casa, mas tento reservar um tempo para fazermos algo em família, como ir a uma pizzaria ou ao cinema”, conta.
Embora pareça extrema, essa é a realidade de mais da metade dos domicílios brasileiros. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), no trimestre de abril a junho de 2024, 51,7% dos domicílios brasileiros eram chefiados por mais de 40 milhões de mulheres. Há dez anos, o percentual era de 35,7%.
À primeira vista, esses números podem parecer um sinal de maior empoderamento e independência feminina, mas a realidade é diferente.
Um estudo do Dieese revelou que, mesmo estando à frente da renda familiar, as mulheres continuam ganhando menos que os homens na mesma função. Sem equidade salarial, a situação de vulnerabilidade persiste, afetando não só as mulheres chefes de família, mas também crianças e jovens que saem da escola para trabalhos precários, visando complementar a renda familiar.
Além de ganhar menos, as mulheres acumulam os afazeres domésticos, que são invisíveis. Elas precisam se desdobrar para sustentar a casa, os filhos, manter os empregos e ainda cuidar da saúde física, mental e do aperfeiçoamento pessoal.
PANELA DE PRESSÃO
Para Zenaide, embora o cansaço seja uma sensação recorrente, os deveres com a família falam mais alto. “As pessoas perguntam como consigo dar conta de tudo, e eu sinto que estou no automático, mas a responsabilidade me obriga a continuar”, detalha.
Para ela, o 'alívio' vem por ter ao seu lado filhos que dão suporte à rotina exaustiva. “A sorte é que meus filhos são pessoas maravilhosas e compreensivas”, completa.
Além da sobrecarga de trabalho, muitas mulheres chefes de família sofrem com a incerteza financeira, afetando sua saúde mental. O isolamento social também é um problema, já que o acúmulo de múltiplos papéis deixa pouco tempo para autocuidado e interações sociais significativas.
NECESSIDADES EM SEGUNDO PLANO
A rotina exaustiva é compartilhada por Suely Nogueira, 43 anos, que se desdobra entre serviços de diarista e auxiliar de serviços gerais no Hospital Estadual Santa Casa. Após o falecimento de sua irmã, ela assumiu a responsabilidade de cuidar de seus três sobrinhos, além de seus dois filhos.
“Minha rotina é assim: faço três, às vezes quatro diárias por dia. Dia sim, dia não, fico das seis às seis no hospital. Entre uma diária e outra, corro para casa e faço comida”, explica.
“Quando chega à noite, penso: dei conta. No outro dia, tenho que dar conta de novo. Meu foco é olhar para frente. Minha balança precisa estar equilibrada: de um lado, ‘eu dou conta’ e do outro, ‘eu vou conseguir’”, consola-se.
A promoção de políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e combatam a violência contra as mulheres, além de garantir melhores salários, é vista como essencial para aliviar essa sobrecarga.
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