Há um tempo disseram que o problema do governo Lula era de comunicação. Isso já caiu por terra. Existem falhas na comunicação do governo, mas elas não explicam a reprovação ao terceiro mandato do presidente Lula (PT).
Afinal, por que está tão difícil para o governo reverter a alta taxa de reprovação?
Em primeiro lugar, aos olhos da população, o governo está falhando em áreas essenciais. De acordo com a pesquisa Radar Febraban/IPESP, a população percebe piora na saúde (18%), na segurança (16%), na inflação e no custo de vida (12%).
Segundo, existe uma quebra de expectativa de quem votou em Lula e esperava algo parecido com o seu primeiro mandato. Pesquisas qualitativas confirmaram essa frustração. Os eleitores de Lula avaliam que o terceiro mandato está muito aquém das duas primeiras gestões do petista. Na medida que o tempo vai passando estas quebras de expectativas vão cobrando seu preço.
Terceiro, a inflação, que persiste e vem se refletindo no preço dos alimentos, afeta, sobretudo, a base eleitoral principal do governo Lula, os mais pobres. Este é sem dúvida nenhuma o principal fator que explica a crescente avaliação negativa do governo Lula. Comida cara e subindo, corroendo o poder de compra da população, sobretudo a mais pobre, contribui para queda da avaliação de qualquer mandatário.
Uma nova pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que, hoje, 34% dos brasileiros têm de recorrer a bicos para pagar dívidas. As pessoas estão precisando trabalhar mais para conseguir ir ao supermercado. Estão trabalhando mais para comprar a mesma coisa que antes ou até menos. Consequentemente, a qualidade de vida piora. É menos tempo para a família, para descansar, para o lazer.
Quarto, os juros altos e crescendo cada vez mais, afetam diretamente a população. Atualmente, segundo ainda o Instituto Locomotiva, cerca de 40% da população está endividada. Esses brasileiros estão tendo que: cortar despesas para equilibrar as contas (33%); vender bens para equilibrar as contas (17%); tomar novo empréstimo com bancos (17%) e tomar empréstimo com parentes (9%).
O problema dos juros no Brasil, que são muito altos, dificulta que a pessoa saia da condição de endividamento. O principal vilão das dívidas é o rotativo do cartão de crédito que, em maio, atingiu 445% ao ano. Segundo o Instituto Locomotiva cerca de 70% dos endividados estão atrasados no pagamento da conta de cartão de crédito. Já os que devem para bancos ou financeiras somam 43%, enquanto 23% atrasaram a conta do celular e 20% estão no cheque especial.
Uma pesquisa da CNC, a Confederação Nacional do Comércio, aponta que 81% das famílias com renda de até três salários-mínimos estão endividadas. Ou seja, os juros altíssimos afetam, sobretudo, as famílias mais pobres.
Quinto, o governo vem perdendo sistematicamente para a oposição as guerras das narrativas. O prejuízo para a imagem do governo já tinha sido alto no evento do PIX e agora piorou. Segundo pesquisas, o escândalo dos desvios no INSS que afetaram milhares de aposentados, gerou ainda mais repercussão e um rombo ainda maior na imagem do governo.
O governo sabe muito bem que a questão de fundo é econômica. Passa pelo controle da inflação, do corte de gastos públicos que impactam em um maior ou menor grau o uso do amargo remédio que é o aumento dos juros. Ao mesmo tempo, sabe que precisa construir soluções mais efetivas para os problemas principais que afligem os brasileiros: a saúde e a segurança.
Em resumo, as razões da reprovação do governo Lula são profundas e não serão facilmente equacionadas. Iludem-se os que acham que campanhas publicitárias, slogan ufanistas ou discursos inflamados têm esse poder transformador.
(*) RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.
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