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Artigos Quinta-feira, 30 de Julho de 2015, 09:22 - A | A

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Quinta-feira, 30 de Julho de 2015, 09h:22 - A | A

O aziago agosto

O certo é que agosto é um mês marcado por fatos trágicos de relevância para a História

SEBASTIÃO CARLOS

Divulgação

sebastião carlos

 

Agosto se aproxima e com ele a lembrança de acontecimentos fatídicos na História do Brasil. Meras coincidências ou uma sina? O certo é que este agosto de 2015 já entremostra nuvens de tempestades. Que nos aguarda nos próximos longos 31 dias? Mas vamos dar uma ligeira olhada sobre esses presságios, que não são de agora.

 

Como surgiu no calendário o mês de agosto? Ele já nasce como fruto de uma rivalidade. O rancor, a inveja, a desídia teriam influído na fatalidade e tragédias que se concentram nesse mês? E não apenas no Brasil? O oitavo mês do calendário gregoriano recebeu esse nome como homenagem que os romanos prestaram ao Imperador César Augusto [Augustus, em latim]. Julho havia sido a denominação dada em honra ao grande Júlio César. São os únicos meses que em sequencia tem 31 dias. Por quê? É que Augusto não queria ficar menor que Júlio, então decretou que o “seu” mês [que antes era denominado sextilis] tivesse também idêntico numero de dias.

 

O certo é que agosto é um mês marcado por fatos trágicos de relevância para a História. Em 1572, na noite de 23 para 24, teve inicio em Paris, por ordem da rainha Catarina de Médici, o massacre dos protestantes, que perdurou até outubro. O episodio entrou para a História como “A Noite de São Bartolomeu”. Foi um verdadeiro banho de sangue que impregnou na mente dos não católicos da Europa a convicção de que o Catolicismo era uma religião sanguinária e traiçoeira. Para comemorar o feito o Papa Gregório XIII, entre outras homenagens, enviou ao rei da França a condecoração da Rosa de Ouro. Séculos depois, os dois maiores conflitos da humanidade tiveram inicio nesse fatídico mês: a Primeira Guerra em 1914, no dia 1º, e a Segunda em meados desse mês com o deslocamento das tropas alemãs para a fronteira com a Polônia.

 

Acontece que o imaginário popular, com ou sem razão, está prenhe de toda sorte de supertições e crenças a respeito de agosto. Na tradição lusitana existem inúmeras, entre estas, a de que as mulheres portuguesas nunca se casavam no mês de agosto. Neste caso pelo menos havia uma explicação lógica: essa era a época em que os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Casar em agosto representava, tão logo terminado o ato, ficar só, com o amado distante em alto mar, sem saber quando voltaria ou até mesmo se não ficaria viúva. Pois é, sem lua de mel não, gajo. Os portugueses trouxeram a crença do mês fatídico. Quem não já ouviu dizer que “agosto é o mês do desgosto”? No imaginário popular isso não é apenas uma rima. Na região do Araguaia, para só citar um exemplo, os posseiros originais, cuja herança cultural era essencialmente nordestina, não construíam casa nesse mês. No meu ‘Dicionário de Termos e Expressões de Mato Grosso’ no verbete “Agosto inconveniente” trago a razão para essa atitude. Mesmo não acreditando nesse “negócio de azar” muita gente prefere não brincar com as coisas do sobrenatural e não se casa, não se muda, não viaja e não faz negócios nesse mês. É como naquele ditado espanhol: “não creio em bruxas, mas que elas existem, existem”.

 

Mas o certo é que na História do Brasil agosto tem sido um mês marcado por acontecimentos de grandes comoções sociais. O mais marcante deles tem a característica de tragédia grega, ao melhor estilo. Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, Getulio Dornelles Vargas o mais longevo mandatário do país disparava uma bala no coração. Não suportara a pressão que vinha sendo lhe imposta desde o inicio do mandato e que se aguçara terrivelmente nas últimas semanas. Estava em andamento um golpe civil-militar que iria depô-lo, levá-lo à execração pública e provavelmente ao exílio. O gesto dramático reverteu a situação e a Carta Testamento foi o legado do estadista. Inicia com um libelo: – “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão direito de defesa” – e conclui com um canto premonitório: “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.

 

Depois, tivemos uma situação tragicômica, mas que por pouco não conduziu o país a uma guerra civil de consequências imprevisíveis. Agosto de 1961 começa com as agitações populares comuns na época. No entanto, um fato relevante aconteceria e que, por certo, iria provocar graves consequências. No dia 19, recebido no Planalto com honras de Chefe de Estado, foi outorgada a mais alta condecoração brasileira ao revolucionário argentino-cubano Ernesto “Che” Guevara, que estava em visita ao Brasil. Tal gesto foi recebido como provocação por setores importantes da área militar e política. Tudo, porém, parecia transcorrer na maior normalidade institucional quando, na manhã do dia 25, Jânio Quadros toma uma decisão patética: numa folha manuscrita encaminha à Câmara dos Deputados a renuncia à Presidência da República. A partir desse gesto tresloucado, em que o país esteve à beira da guerra civil, os fatos são conhecidos, mas até hoje se discute se ele de fato estava mesmo querendo deixar o poder ou se estava preparando um golpe, para ter mais poder. Aproveitou que Jango Goulart, o vice-presidente, se encontrava em viagem oficial à China para criar um vácuo no poder. E também foi muito esquisito que ele tenha levado consigo para São Paulo a facha presidencial. Enfim ... .

 

Um terceiro episódio igualmente muito triste ocorreu no dia 22 de agosto de 1976. Juscelino Kubitschek, o presidente mais popular e simpático que o Brasil já teve, dirigia-se de São Paulo para um encontro no Rio de Janeiro quando, na altura do km 165 da Via Dutra, o seu automóvel Opala ultrapassou a mureta divisória e bateu de frente com um caminhão. Dois anos antes, JK recuperara os direitos políticos cassados pelo golpe militar e se dizia disposto a voltar à vida pública. Multidões, Brasil a fora, choraram a sua morte e em seu funeral em Brasília, a cidade que inventara, mais de 300 mil pessoas dele se despediram entoando “Peixe Vivo”, a música que marcou a sua trajetória política.

         É, caro leitor e leitora, este tem sido agosto mesmo em anos que começam tranquilos. Como será o mês que se iniciará na próxima semana? As nuvens não são das mais claras. O ambiente de inflação, de recessão, de artifícios e jogos políticos está criado. A insatisfação popular vem crescendo.

 

“Abril é o mais cruel dos meses” escreveu T. S. Eliot [1888 – 1965] num poema, Terra Devastada, [The Waste Land], que conforme a opinião da maioria dos críticos mais renomados, está entre os melhores escritos no século XX. O grande poeta anglo -saxonico, se brasileiro fosse talvez viesse a escrever que o mês mais cruel é agosto.

 

*SEBASTIÃO CARLOS GOMES DE CARVALHO é professor, advogado e historiador.

 

 

 

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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