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Acusar a obra do jornalista, cronista e escritor Gabriel García Márquez de incitar e fazer apologia à pedofilia é cretinice, para dizer o mínimo, de quem propala essa leviandade. Mas, por mais absurda e repugnante que seja a acusação, tive o desprazer de ler, dia desses, em uma resenha de um jornal qualquer, certo indivíduo, que arrotava ser “crítico literário”, tentar desqualificar a magia, o encanto do conteúdo da vasta criação de Márquez, particularmente sua obra mais marcante: “Cem Anos de Solidão”.
Crítica, quando embasada em conhecimento e movida pela honestidade intelectual, mesmo se discordando dela, é preciso respeitá-la em nome da diversidade de opinião e ninguém, por mais genial que seja, pode estar imune a sofrer questionamentos. Porém, buscar denegrir, com acusações solertes, um criador que é bom em tudo que faz: de uma simples crônica de poucas linhas, a ensaios e romances alentados, merece repúdio.
E é o que agora faço, através desta modesta coluna, por discordar que a obra de Márquez seja nivelada ao rés da imundície. Ou da subliteratura.
O que, de resto e felizmente, não foi e nem será maculada por juízos distorcidos, a exemplo deste ao qual me refiro e que, à semelhança de outros iguais, vai para a lata de lixo – não da história, mas as comuns mesmo, enquanto a obra de Gabriel continuará fazendo História.
Confesso, causou-me estupor constatar a infeliz conceituação dada a um clássico da literatura latino-americana e universal. Já li e reli umas três vezes “Cem Anos de Solidão” e não percebi nenhum resquício de louvor, indução, seja lá o que for, à pedofilia. Um pouco de erotismo, bem dosado, não gratuito, sim, o livro contém, mas como parte natural da narrativa, sem apelos sexuais grosseiros ou exaltação mórbida à taras e degenerações.
O que me leva a supor que por traz da personalidade do tal crítico que enxergou conteúdo repulsivo em García Márquez se esconda um escritor frustrado, talvez um reprimido sexual. Possivelmente, trata-se de um elemento preconceituoso, quando não, por lhe faltar talento para o ofício, invejoso da genialidade do colombiano e Prêmio Nobel da Literatura.
Minha primeira leitura de “Cem Anos de Solidão” foi no original, em espanhol, e teve o sabor de uma descoberta fascinante, coisa inesquecível que guardo até hoje como uma relíquia cultural, e lá já se vão quatro décadas passadas. Quando me recordo, ainda hoje, desse encontro, logo me vem à memória boas lembranças de uma experiência gratificante. Tipo troca do primeiro beijo com a namorada tão desejada dos tempos de adolescência ou daquele doce predileto que assanhava as lombrigas nos idos da infância e, como jóia inacessível, ficava guardado em um pote na cristaleira da vovó, longe do alcance de nossas mãos pequeninas, mas não menos ávidas.
Foi impactante, um divisor de águas em minha estrutura intelectual, manter esse primeiro contato com a obra de um romancista que já despontava então como mestre de um estilo inovador, peculiar, atualmente conhecido como “Realismo Fantástico”.
Mas, naquela época, por volta de 1967/68 , quando o livro foi lançado, sabia-se apenas (e eu, modéstia à parte, percebi de imediato, extasiado) que tratava de algo magistral e surpreendente na literatura, porém não estava ainda claro que aquela obra pontificaria como um marco de uma nova escola da literatura mundial, surgida na América do Sul e rivalizando com a européia, sem favor algum.
Inflando nossos egos latinos e enlevando nossos espíritos.
(*) MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA é é jornalista. www.paginaunica.com.br. E-mail: [email protected]
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Paulo Ronan Ferraz Santos 24/10/2011
Mário Tá assim Mário ..... a academia tem produzido esta gente cheia de preconceito e sugerindo uma suposta revisão do "realismo fantástico" .... e o que é pior, muitos aqui do Brasil estão entrando nessa ... aliás eu nunca vi muito boa vontade da nossa literatura com Garcia Marques ... falo de escritores, críticos, editores etc... quando falo isso excluo gente como Lispector, Lemisnki, Verissimo, etc
Honeia Vaz 24/10/2011
...repensar estes conceitos hipócritas!
Honeia Vaz 24/10/2011
Minha nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... Quem é o tal crítico? E os sentidos sensuais deste livro não passam por assédio ou algum tipo de violência a criança, mas podemos falar em desejos e sensualidade de maneira geral em alguns momentos, que não é o foco da edição, mas retrata sentimentos e cotidianos de quaisquer um de nós, mas com mais magia, como se fosse um grande conto de fadas. No entanto, vamos reforçar (para salvar outros escritores, que em suas linhas, "o bicho pega mesmo": Anis Nïn, Harold Robbins, Jorge Amado, entre tantos e bons), se nos livros não pudermos falar daquilo que realmente acontece nos cérebros e mentes e é real, nos mais secretos recônditos, estamos ferrados como ci-vi-li-za-ção, tendo em conta que o que nos diferencia mesmo dos animais é saber que estamos lendo um livro ou vendo um filme e na sociedade determinadas atitudes são regulamentadas, exige comportamento social, não animal. Isso é livro para adulto gente, espera-se que, no mínimo, se possa discernir uma coisa da outra! Essa sociedade é hiócrita mesmo: alguém já ouviu falar de tarado intelectual, destes que abusam de crianças? Pois é...E tem uma outra vertente que acho até engraçada: se é homossexual masculino não deixa menino perto, por que ele pode abusar! Olha que ridiculo, que cretinice, quando temos tantos pais de familias que abusam de crianças. Ser homossexual é desejar outro homem, nada tem a ver com desejar meninos, isto é outra história. Mais uma que outro dia ouvi de uma senhora que chegou a brigar comigo: o tal padre aqui de Cuiabá que tinha caso coma menor: \"A menina é que é sem-vergonha, nãoo padre. Elas provocam os padres, coitados!\". Olha, muita adolescente é realmente sensual e pode até ter o comportamento de provocar, mas quem tem contrato com Deus é o padre. E neste trato está que ele deve fazer frente ao mal presente, resgatando suas ovelhas, não c...elas! Nada a ver esta do Gabriel Garcia (que é meu escritor preferido ao lado do Jorge Amado), precisamos começar a r
Kleber Lima 23/10/2011
Imagina se esse crítico em questão ler Memórias de Minhas Putas Tristes, última obra do Gabriel G. Marquez. Vai processá-lo então. Só discordo do amigo Mário Marques numa coisa: pelo seu relato, o problema desse crítico não é inveja, apenas - É BURRICE pura e simples!
4 comentários