“A futura sogra, que era professora e tinha um gênio adorável, dizia sempre:
– O essencial no casamento é a compreensão. E insistia, acima de tudo, num ponto que lhe parecia essencial:
– Nada de discussões! Nada de bate-bocas!
Como neste trecho do conto “O chantagista”, do dramaturgo e cronista irônico Nelson Rodrigues, muitos têm a mesma crença da sogra, que o casal perfeito é aquele que nunca discute. Neste século, acredito que as redes sociais aumentaram a idealização de que existe em cem por cento dos momentos história de amor feliz ... na vida online.
Contudo, em algum momento no relacionamento, especialmente os mais longos e gratificantes, um do casal é sujeito fazer algo que incomoda o outro em coisas triviais outras nem tanto. Só que nesses desentendimentos é corriqueiro que ora um dos pares impõe seus critérios de forma excessiva ao outro ora há o que deixa de lado sua vontade para agradar constantemente o outro e se cala.
Recordando a época do nosso nascimento, a primeira relação de contato que temos não é com o obstetra nem com a lista infinita do enxoval, é com a mãe. O que ela pensava e sentia influenciou no que pensávamos ou sentíamos. Tais crenças e sentimentos podemos carregar para a vida adulta, se não transformados. Por conseguinte, eles refletirão no que pensamos a respeito de nós mesmos, da vida, do dinheiro e irradiará nos nossos relacionamentos amorosos.
Nesse contexto, por exemplo, Clarissa Pinkola Estés, em um dos meus livros preferidos que releio algumas vezes e indico, “Mulheres que correm com os lobos”, faz uma analogia da raiva a um marido irado. Diz que aquela emoção pode crescer diante de assuntos, tons de voz, palavras ou outros gatilhos que a faça lembrar dos acontecimentos originais, que a faz com que perca o controle. E como solução ela recomenda “entrar nas montanhas” concretas e do mundo subterrâneo (inconsciente).
Em acréscimo ao que ela disse, aqueles mantras podem ser vividos tanto na nossa infância ou pelos nossos pais, avós, como também pelo cônjuge e/ou familiares deles. Todos podemos ser submetidos a repetir comportamentos ou pensamentos daqueles, mesmo sem ser ditos ou vistos, pois são vínculos que são sentidos ou intuídos. A constelação familiar é uma técnica terapêutica que auxilia a investigar o que esconde esses tipos de conflitos e a evitar as armadilhas das repetições transgeracionais inconscientes.
Assim, quem sabe chegar no entendimento da sogra do conto na parte que alega que o essencial no casamento é ter compreensão. Ademais, sermos nós mesmos e estarmos atentos ao que nos incomoda, também ter sabedoria de saber o tempo e o espaço de deixar as coisas se resolverem sozinhas, a hora de ouvir e ser ouvido, de olhar nos olhos e se explicar e dar esta oportunidade ao outro, de entender a necessidade e posição deste e, ainda, de agir e se expressar de maneira neutra, com consideração e respeito a fim de resolver um problema de forma construtiva e nos enriquecer como pessoas e trazer crescimento ao relacionamento.
(*) BRUNA BERTHOLDO é Advogada e Terapeuta facilitadora em Constelação Sistêmica Familiar Individual e Neuroconstelação.
Escreve para HiperNotícias às terças-feiras. Instagram e facebook: brunabertholdocf. E-mail: [email protected]
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.
Angelica 30/11/2023
Adorei o texto. Parabéns!!!!
1 comentários