Valkiria Rocha Brandão, 30 anos, é pau para toda obra. Dona de uma hamburgueria em São José do Rio Claro (300 km de Cuiabá), ela também já atuou como faxineira, foi promotora de eventos e conta com vários títulos conquistados em campeonatos de futebol. Recentemente, lançou-se como pré-candidata à deputada estadual pelo Cidadania, sendo a única mulher transexual a disputar uma das 25 vagas no pleito de 2 de outubro já declarada até agora.
É casada há 12 anos com Kauã Rocha Brandão. Kauã também é trans. Com ele, tem dois filhos - Yan e Yohan. No parlamento estadual, quer defender políticas públicas para o autismo, fomentar a proteção das pessoas do movimento LGBTQIA+ vítimas de violência e mais incentivos para o esporte.
Em 2016, Valkiria disputou o cargo de vereadora por Nova Maringá (367 km de Cuiabá) pelo PTN. No ano de 2020, disputou em Campo Novo do Parecis (400 km de Cuiabá), onde mora atualmente, o pleito pelo DEM, hoje, União Brasil. Figura, no entanto, como suplente do vereador Beito Machadinho (União).
“Sou casada com um homem trans. E a gente tem dois filhos. Eu nunca fui de falar que vou levantar a bandeira. Até porque não entendia nada sobre isso. Mas, em contato com Clóvis Arantes [coordenador da Parada da Diversidade Sexual de Mato Grosso e militante do movimento LGBTQIA+], fui me inteirando e conhecendo o movimento. Já participei da Parada da Diversidade”, relata ao HNT.
Valkira conta que começou a se interessar por política ainda muito nova. Via em Dante de Oliveira sua inspiração. “Eu acreditava, quando era criança, quando eu via Dante de Oliveira, que um dia eu poderia ser candidata. E meu sonho é ser governadora de Mato Grosso. Eu falava que quando eu fosse governadora as pessoas não iam passar mais fome”, lembra.
Lamenta o preconceito e comenta que os comentários se intensificam em período eleitoral.
“Aqui, no interior, as pessoas sempre me trataram bem. Em Campo Novo do Parecis, fui bem recebida. Mas, na época da política, fui muito atacada, até ganhei alguns processos de pessoas que fizeram chacota com meu nome”, revela.
“Eu queria entender. As pessoas não me conhecem, não sabem do meu caráter. Sempre fui trabalhadora. É só em época de política que as pessoas me atacam com aquelas piadinhas Mas acho assim: eu sou a Valkira e aguento, não posso me diminuir e achar que não posso estar na Assembleia. Eu quero estar onde eu quiser”, emenda.
A pré-candidata também lamenta ser a única trans na disputa anunciada até agora. Ressalta que os partidos políticos têm parte nisso, já que não incentivam candidaturas transgêneras. “Os partidos não procuram. E também não dão valor".
CAUSA
O próximo dia 17, terça-feira, é considerado Dia Internacional de Combate à Homofobia. Na última quinta-feira, o Observatório de Mortes e Violências contra LGBT no Brasil divulgou dados alarmantes que colocam Mato Grosso como segundo estado com maior índice de mortes violentas contra a população LGBTQIA+. Para Valkiria, mais leis deveriam ser feitas para mudar notícias como essa.
“Eu passei por várias coisas horríveis. Perdi muitas amigas travestis. Em Lucas do Rio Verde, foi morta Elaynne Marques. E há pouco tempo, em Juína, perdemos outra amiga. Eu acho que, eu lá dentro [da ALMT], posso lutar por segurança. Mães de travestis, as mães de lésbicas podem confiar em mim”, finaliza.
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