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Aos 14 anos, enquanto as coisas no tatame não iam tão bem quanto planejava, ele percebeu que na academia os músculos evoluíam bastante |
Ser faixa preta em judô nunca foi sinônimo de títulos para o cuiabano Cristóvão Santiago Pinheiro da Silva, de 34 anos. Ele até tentou complementar o treinamento com a prática de musculação, mas a arte marcial não era seu ponto forte. Aos 14 anos, enquanto as coisas no tatame não iam tão bem quanto planejava, ele percebeu que na academia os músculos evoluíam bastante.
“Eu sempre quis ficar forte e tinha boa capacidade de definição e simetria”, diz o atual bicampeão brasileiro e sul-americano de Fisiculturismo na categoria sênior até 100 kg e que, em outubro, entre os dias 12 e 14, disputa o mundial Arnold Schwarzenegger, na cidade de Madrid (Espanha). Apesar de trocar de faixa com facilidade no judô, nos campeonatos o jovem atleta deixava a desejar. Foi quando decidiu levar a musculação mais a sério.
Em 1996, aos 18 anos, com 1,75 m e 76 kg, decidiu participar da primeira competição. Disputou e ganhou o Campeonato Mato-grossense de Fisiculturismo na categoria Juvenil (até 80 kg). No mesmo ano, foi para o Campeonato Brasileiro em São Paulo, garantindo o 6º lugar. Até então, aquela havia sido a melhor colocação de um mato-grossense no torneio. No ano seguinte, em busca do sonho de estudar medicina, Cristóvão vai de mala e cuia para Cochabamba, na Bolívia. Lá, além de se dedicar aos estudos, ficou ainda mais inteirado sobre fisiculturismo. “À época, os bolivianos tinham mais conhecimento sobre treino e alimentação do que os mato-grossenses. Isso me ajudou bastante”, conta.
O acréscimo de conhecimento não tardou em dar resultados: Cristóvão foi campeão do departamento de Cochabamba (equivalente a um campeonato estadual) e nacional em 1997, 1998 e 1999. Em 1997, ele competiu pela categoria juvenil. Nos dois anos seguintes, competiu na categoria sênior até 90 kg. Porém, problemas particulares fizeram com que o atleta trancasse a faculdade no 5º ano e retornasse ao Brasil. As dificuldades refletiram nos palcos
. Entre 2000 e 2004 ele ficou sem competir. Em 2001, já em solo mato-grossense, começou a dar aula de musculação em uma academia na capital. A despeito de manter-se longe de competições, o atleta manteve ao longo dos anos o treino de musculação, com foco no crescimento dos músculos (hipertrofia), mas sem cuidar muito da nutrição e da suplementação alimentar. Ainda assim, por incentivo da família, resolveu tentar o campeonato estadual novamente.
O ano era 2004. Levou a categoria sênior e a geral (overall). O ótimo resultado, entretanto, não foi suficiente para manter a motivação e, em 2005 e 2006, preferiu ficar novamente sem participar de torneios. Ainda em 2006, um amigo, Daniel Rosati, decidiu que queria competir e foi para São Paulo, onde ficou por três meses. Lá, Daniel conquistou o campeonato paulista e a Copa São Paulo, ambos na categoria sênior. “A evolução corporal dele chamou minha atenção e, naquele mesmo ano, decidi assistir ao campeonato brasileiro”, diz Cristóvão.
O torneio, em novembro de 2006, foi um divisor de águas na carreira do atleta, pois conheceu Edson Serafim, famoso no meio esportivo. Foi ele quem deu dicas essenciais de preparação para campeonatos e, principalmente, trouxe de volta a Cristóvão a vontade de competir. Então com 132 kg, ele resolveu levar a sério os treinos e a nutrição. “Posso dizer, com toda a certeza, que foi nessa época que me tornei fisiculturista de verdade”, afirma. As vitórias vieram logo. Em agosto de 2007, o atleta faturou o Campeonato Mato-grossense nas categorias sênior até 90 kg e overall (campeão geral). Duas semanas depois, sagrou-se campeão brasileiro, superando o bicampeão Marcelo Caldas, e classificou-se para o sul-americano do ano seguinte.
Em 2008, venceu o torneio da América do Sul, em São Paulo, e ficou em 15º lugar no Mundial, no Bahrein. Voltou a disputar o sul-americano no ano de 2009 e conquistou o vice-campeonato. O segundo lugar, ele conta, foi ocasionado pela dificuldade em conseguir adequar-se à categoria de 90 kg. O peso do atleta, hoje oscila entre 112 e 114 kg, “Forcei demais a dieta para a pesagem e não consegui me recuperar a tempo”, justifica. Foi a última vez que ele disputou pela categoria até 90 kg.
Sete semanas depois, participou do campeonato Mundial, no Catar, já na categoria até 100 kg, e ficou em 9º lugar. Em julho de 2010, venceu na mesma categoria o campeonato Elite de Culturismo em Suzano (SP), competição realizada somente para convidados e que teve somente uma edição. Quatro semanas depois, ganhou de novo o brasileiro nas categorias até 100 kg e geral. No ano seguinte, foi novamente campeão brasileiro nas duas categorias. Ainda em 2011, acrescentou à coleção de troféus o de campeão sul-americano – também nas categorias até100 kg e overall. “Foi o meu melhor ano como competidor”, diz.
LIMITES, TREINOS, DISCIPLINA E CONSCIÊNCIA CORPORAL
O bicampeão afirma que costuma disputar somente dois campeonatos por ano. “O corpo fica debilitado, porque as restrições alimentares são enormes, mais do que em qualquer outro esporte. O corpo consegue responder bem a dois torneios. Mais do que isso, o resultado não é o esperado”, explica. A consciência corporal também é fundamental para quem quer se dedicar ao Fisiculturismo, ele opina.
“O futuro atleta tem que ter essa percepção de saber se tem físico para esse esporte. Há casos de pessoas que querem muito, mas esbarram nas limitações físicas impostas pela genética”, explica. Sua rotina de treinos _off season_ (fora de competições) vai de segunda a sábado. Os músculos são trabalhados separadamente – um por dia por cerca de uma hora –, divididos em costa, peito, posterior coxa, ombros, anterior coxa e braços.
Quatro meses antes das competições, a rotina muda. Os treinos são executados por quatro dias seguidos, sejam finais de semana ou feriados, por mais de uma hora. No quinto dia, descanso. No primeiro dia, ele treina costa e bíceps; no segundo, peito e tríceps; no terceiro, coxa anterior e coxa posterior; e, no quarto dia, ombros. Nessa fase, também entram os treinos aeróbicos de duração de 30 a 40 minutos, para ajudar na perda de peso.
Os cuidados com a alimentação também são intensos. A base é formada por proteínas, vitaminas e carboidratos. Cristóvão evita ao máximo refrigerantes e doces. Nos finais de semana, ele se permite alimentos como pizza, mas com moderação. Mas o maior segredo do campeão não está na genética favorável, nem na disciplina, persistência e paciência. O nome da mãe explica muita coisa – se não tudo. “A palavra-chave é Constância”, finaliza Cristóvão, rindo.
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