Jana Pessôa |
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Douglas: meta de chegar a empresário 15 anos antes do pai apostando na capacitação profissional |
Dados do Data Popular 2010/2011 apontam que 72% dos jovens das classes D e E ultrapassaram a escolaridade de seus pais no Brasil. E 68% da classe C, enquanto que o mesmo acontece em somente 10% na classe A.
Os mesmos estudos mostram que na classe A, de cada R$ 100,00 que o pai ganha, o filho obtém com seu trabalho outros R$11,00. Já na classe C, que abrange 104 milhões de brasileiros, para cada R$ 100,00, a segunda geração da família responde com R$ 53,00. Aponta ainda que o carrinho de compras de 8 anos atrás continha 24 categorias de produtos, atualmente tem 42. E está na lista de consumo destas pessoas, a Educação como meio de desenvolvimento pessoal e profissional.
Este é o caso de Joanita Campos Rodrigues, 26 anos, funcionária do Maxvinil Tintas, em Cuiabá (MT). Ela já está à procura de uma especialização em Logística, na qual tem formação superior. Os custos de mercado para esta qualificação variam entre R$ 110 e R$ 980,00/mês.
A escalada dela é um exemplo positivo da dobradinha auto-investimento em capacitação e incentivo das empresas por meio do crescimento de seus funcionários no organograma. “Comecei aqui com 19 anos, em serviços gerais (limpeza). Fui transferida a outra unidade do mesmo Grupo, a Preformax Indústria Plástica, na mesma função, aos 21 anos”.
Na época visou uma vaga de conferente de Estoque na empresa, foi incentivada pelos gerentes, e já começou a cursar a faculdade de Logística, paralelamente à conquista da vaga. Formou-se 2 anos depois e hoje é encarregada da Expedição. O ganho médio de um profissional com a mesma trajetória de Joanita, de uma função a outra, vai de R$ 545,00 a R$ 2.000,00. No início de sua vida como trabalhadora, o primeiro recebimento foi R$ 275,00. Hoje ganha mais que os pais juntos, aos 26 anos de idade.
O pai e a mãe ganham, respectivamente, R$ 375,00 e uma variante média abaixo de R$ 900,00. Ela concluiu o Ensino Médio há 24 meses, aos 42 anos. O pai tem 55 anos e é semi-alfabetizado, sendo trabalhador rural. “Nós, os filhos, somos: duas irmãs com curso superior, uma cursando faculdade de RH, e meu irmão prestará vestibular para Direito em 2012”, esclarece Joanita.
A mudança acontece na faixa etária dos filhos deste “batalhão de braços” que adentra o mercado de trabalho com muita força e tem renda familiar entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. De acordo com o Data Popular, na rede de ensino privado, níveis Fundamental e Médio, a classe C soma 48% do total de alunos, a maior fatia. E a “D” representa 19%.
A quebra do círculo vicioso de grupos familiares impacta diretamente na qualidade de vida e acessibilidade dos netos da primeira geração. E programas do Governo somam para as garantias da continuidade deste alinhamento.
Joanita tem casa própria e está terminando uma reforma de ampliação. Seu filho, João Gabriel, participa do Educa Mais, como aluno de escola pública, tendo graduação escolar de manhã e atividades como capoeira, música e informática, a tarde toda. “Já é uma história diferente da minha, que estudava meio período e trabalhava no outro período, em certa idade ajudando em casa mesmo. E a minha história, por eu ter estudado, é diferente da experiência da minha família. Tenho uma prima que aos 21 anos não terminou a 5ª série primária por que tem que trabalhar. E exerce determinada função por que não tem como estudar para mudar de atividade”, conta, lembrando que um dia já pensou que “para fazer faxina não precisa estudo”. Hoje, esclarece, sabe que “é o contrário, é preciso formação profissional justamente para sair da faxina e chegar a um lugar melhor”.
DESAFIO
superar condições de vulnerabilidade e pobreza do grupo familiar, também por meio dos filhos, é um dos objetivos dos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE), do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e da Educação (MEC), através de programas como o Educa Mais Brasil e ProJovem, entre outros.
E entidades de representação patronal, como a Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso (Fiemt) mantêm escolas e unidades de educação profissional que se somam nestes objetivos oficiais. “Precisamos preparar nossos jovens para este porvir”, contextualiza Lélia a gerente de Educação e Tecnologia do SENAI, Lélia Brum. “Nossa missão é treinar pessoas para apoiar tecnicamente o desenvolvimento do Brasil e do Estado, de forma que esta pessoas, a partir deste conhecimento, se incluam no mercado de trabalho como sociedade produtiva e com renda”.
Para Lélia, “o despertar de Mato Grosso é latente e capacitar a sociedade em novas tecnologias, em técnicas atualizadas, formando diferentes perfis profissionais é a razão de existir da entidade”.
Douglas Paz de Almeida, 21 anos, nível superior em Contabilidade, conferente de Logística na AmBev, salário de R$1.200,00, é um exemplo neste contexto. A mãe concluiu o segundo grau escolar aos 32 anos e o pai aos 37 anos, este segundo paralelamente trabalhando como encarregado de produção. O sonho paterno de ser empresário aconteceu aos 45 anos. “Com certeza a questão educacional atrapalhou a trajetória do meu pai”, acredita o rapaz.
Douglas quer uma história diferente para si. Pensando nisto, atualmente cursa Segurança do Trabalho no SENAI (Cuiabá) e tem o objetivo de assumir esta função na empresa que trabalha em 2013. Em termos de mercado, o salário dele pode prospectar a R$ 2.000,00 e chegar a R$ 4 mil, se arriscar transferência para outros municípios do Estado, declara o jovem. Ele vai além em seu plano e prevê a possibilidade de ser empresário com idade de 30, 15 anos antes do pai. “Em 2020 me formarei em Engenharia de Segurança e não descarto a ideia de abrir uma empresa para prestar serviços nesta área”.
Jocineth da Guia, 27 anos, está no último módulo de Técnica de Alimentos do SENAI, também na capital mato-grossense. Já trabalha na área, como auxiliar da Qualidade, na Sadia, cargo para o qual fez um curso técnico de 3 meses, e vários outros com duração semelhante e conteúdos específicos para sua função, que no mercado é remunerada com salários entre R$ 800,00 e R$ 1.000,00. Com a nova capacitação, “há propostas de empresas do interior do Estado de pagar até R$ 2.300. E normalmente, a média é de R$1.300”, conta ela.
Seu objetivo é chegar a nível superior, “no Staff da Qualidade”. Avaliando a trajetória familiar, ela ressalta que a mãe aposentou-se há 9 anos, como diarista, com R$ 545,00, por causa de problemas de saúde. Jocineth já ganha o dobro, caminha para um aumento de pelo menos mais 50% no salário, e o fato de estar empregada formalmente lhe concede acesso a outros benefícios que a mãe não teve e que são fatores influentes nas condições socioeconômicas das famílias: planos Saúde e Odontológico e até seguro de vida.
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