O diretor do FMI para a América Latina, Nicolas Eyzaguirre, considerou adequados os recentes cortes de juros praticados pelo Brasil mas alertou repetidamente de que é preciso "tomar muito cuidado para evitar o superaquecimento da economia" e não obter efeitos mais fortes do que se espera. Ele também criticou tendências protecionistas dos países da região.
O Brasil utilizou uma política contrativa em 2010 e parte de 2011 para moderar o crescimento e evitar a inflação diante da forte entrada de capitais externos. Mas as ações do governo e o agravamento da crise global fizeram "com que a economia se desacelerasse demais", disse Eyzaguirre. "Agora estamos vendo uma reversão das medidas, com forte redução das taxas de juros, o que é adequado."
Na quarta-feira (18), o Banco Central anunciou a redução da taxa básica de juros, a Selic, de 9,75% para 9%, o menor patamar em dois anos.
O problema, segundo o diretor, é que a situação internacional continua fortemente favorável ao crescimento da economia dos emergentes devido ao alto preço de commodities e as políticas de estímulos à economia (expansionistas) dos países desenvolvidos. Eyzaguirre mencionou especificamente o expansionismo americano em relação ao dólar, seguido de ações similares de Europa e Japão, e o crescimento da demanda interna da China, que vem forçando o preço das commodities para cima.
Frente a esse quadro de estímulos duplos, há risco de superaquecer a economia brasileira. "É preciso construir defesas para ter uma situação fiscal, monetária e financeira saudável, de forma que quando as condições externas mudarem haja margem de manobra", afirmou o diretor.
Em relação ao protecionismo, Eyzaguirre disse que essa é uma tendência natural em situações de forte fluxo de capitais externos. "O problema é que a maior parte, se não a totalidade, da região já enfrentou problemas graves de crescimento quando o protecionismo ganhou força no nível mundial", afirmou o diretor. "Isso pode ajudar no curto prazo, mas cria precedentes que podem ser muito prejudiciais no médio prazo."
O FMI e o Banco Mundial mantém projeções otimistas para o crescimento da América Latina. Segundo o fundo, o crescimento para América Latina e Caribe em 2012 deve ficar em 3,7%. Eyzaguirre porém ressaltou que as condições favoráveis são temporárias e a região precisa se preparar para lidar com mudanças nos preços das commodities e nos fluxos de investimentos externos, além das consequências da crise na zona do euro. "Preservem a flexibilidade do câmbio e mantenham políticas macroprudenciais; parem de exacerbar o superaquecimento e comecem a poupar", sugeriu.
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