Já abalado pela onda global de depreciação de divisas emergentes, o real também teve seu desempenho influenciado por questões técnicas, como a disputa pela formação da última taxa ptax de maio, na primeira etapa de negócios, e a rolagem de posições no segmento futuro.
A preocupação com a questão fiscal, aguçada pelo bombardeio do setor produtivo e de parte da classe política ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) decretado pelo governo Lula, segue como ponto de atenção e contribui para reduzir o apetite por ativos locais.
Com máxima a R$ 5,7405, pela manhã, o dólar à vista fechou em alta de 0,93%, a R$ 5,7195 - maior valor de fechamento desde 7 de maio (R$ 5,7635). A moeda termina a semana com ganhos de 1,28% e sobe 0,76% no mês. As perdas acumuladas no ano, que rodaram acima de 8% ao longo de maio, agora são de 7,45%.
Lá fora, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em leve alta e rondava os 99,380 pontos no fim do dia. Entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, as maiores perdas foram do rand sul-africano e do peso chileno, seguidos pelo real.
"Independentemente dos dados nos EUA hoje, que foram muitos, o vetor mais relevante para o câmbio foi sem dúvida a intensificação da guerra comercial, com Trump acusando a China de não cumprir o acordo firmado. Isso foi o 'driver' para um movimento mais clássico de aversão ao risco, com fortalecimento do dólar", afirma a economista-chefe da Buysidebrazil, Andrea Damico. "O real não é a pior moeda, mas é uma das piores. Temos nossas questões, como a repercussão negativa do IOF, que pode ser revogado".
À tarde, Trump voltou a criticar a China por ter "violado" partes do acordo comercial, mas disse que pretende conversar com o líder chinês, Xi Jinping. "Espero que possamos resolver isso", afirmou o presidente dos EUA, pontuando que está muito feliz com a decisão judicial que manteve a validade das tarifas comerciais anunciadas pelo seu governo.
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, destaca que o dólar chegou a trabalhar ao redor de R$ 5,60 em certos momentos do mês e havia expectativa de poderia engatar uma rodada adicional de queda. O otimismo com a moeda brasileira foi contido pela confluência de uma piora do ambiente externo com a volta dos ruídos políticos e fiscais domésticos.
"O real poderia ter até tido uma dinâmica mais favorável quando o exterior estava mais tranquilo, mas veio o pacote fiscal, com as dúvidas sobre o IOF, que piorou a percepção de risco dos investidores", afirma Costa, ressaltando que a deterioração dos fundamentos das contas externas pode pesar sobre a moeda brasileira ao longo do segundo semestre, quando já não haverá o fluxo de entrada de dólares pela exportação da safra agrícola.
Nos EUA, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida do Federal Reserve, subiu 0,1% em abril, com alta de 2,1% na comparação anual - ligeiramente abaixo da previsão dos analistas (0,2% e 2,2%). Já o núcleo do PCE - que excluí itens mais voláteis - avançou 0,1% no mês e 2,5% na comparação anual, em linha com o esperado.
A safra de indicadores não mexeu com a aposta predominante de que o Federal Reserve promova uma redução de 50 pontos-base da taxa básica neste ano, com um corte inicial em setembro. Por ora, a avaliação é a de que a política monetária está bem posicionada diante das incertezas provocadas pelas políticas da administração Trump.
"A probabilidade maior ainda é de cautela e manutenção dos juros, a despeito do core da inflação do PCE dentro do esperado", afirma o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, ressaltando as incertezas provocadas pela disputa jurídica nos EUA em torno do tarifaço de Trump.
(Com Agência Estado)
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.