De olho em uma das três vagas de Mato Grosso para o Senado na eleição de 1978, o governador José Garcia Neto não queria saber de conversa com ninguém quando o assunto era cassação de mandatos de chefes de executivos estaduais da penúltima safra indicada pelo governo da ditadura militar.
Uma das vagas ao Senado era biônica e foi ocupada por Gastão de Matos Muller, depois de cumprir dois mandatos e meio como deputado federal. Nas outras duas, foram eleitos depois Benedito Canellas e Vicente Vuolo.
E Garcia Neto tinha suas razões: seu nome era citado com frequência pela grande Imprensa como integrante da lista de governadores que estariam com o pescoço na guilhotina.
Um dia, porém, depois de retornar de Brasília, Garcia Neto, cujo governo tinha sido manchado em um curto de espaço de tempo entre julho e outubro de 76 por dois fatos de repercussão mundial – os assassinatos dos padres Rudolf Lunkenbein, na Missão Merure, em General Carneiro, e João Bosco Penido Burnier, na cadeia pública do então Ribeirão dos Porcos, hoje Ribeirão Cascalheira, não estava sendo bem visto pela dita "revolução" por causa da prática de nepotismo, concordou em conceder uma coletiva à Imprensa, em seu gabinete, no Palácio Paiaguás.
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Bom de memória que só ele, Garcia Neto aproveitou a ocasião para investir contra os correspondentes dos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil e O Globo, ao lembrar até de títulos e datas de matérias publicadas contra seu governo.
No auge da tensa entrevista, um veterano jornalista cuiabano ergueu os braços e pediu para fazer uma pergunta.
– Pergunta... – disse Garcia Neto.
– Bem, doutor Garcia, eu gostaria de pedir que o senhor me informasse em que pé está a nomeação daquela minha parenta... para diretora da escola...
Sem conseguir dissimular sua fúria, o correspondente de O Estado de São Paulo, Oscar Ramos Gaspar, enfiou a mão direita em sua inseparável capanga, procurando seu 32 cano curto, do qual não se separava nem na hora de dormir.
Felizmente, naquele dia o Gaspar tinha esquecido o revólver debaixo do travesseiro. Ainda bem, pois se não fosse isso, certamente Mato Grosso ia entrar para a história como palco de um assassinato de um jornalista por outro jornalista durante uma coletiva...
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