Considerado reduto do rock em Cuiabá, frequentadores do Cavernas Bar lamentaram o fim das atividades do estabelecimento considerado pioneiro do cenário underground na Capital mato-grossense. Com quase 20 anos de existência, o espaço era visto como ‘muito além do rock’ e, que deixará uma grande lacuna no cenário cultural cuiabano.
Em conversa com o HNT, o músico e frequentador de longa data, Jomar Brittes, comentou sobre a tristeza em torno do anúncio de encerramento do bar, em meio aos desafios financeiros e de infraestrutura que assolavam o estabelecimento.
“O Cavernas sempre foi um espaço de cultura, era um centro cultural, tudo ali era muito mais do que um simples bar de roqueiro. Nós já tivemos diversos shows de pessoas que são famosas internacionalmente no cenário underground e que tocaram no Cavernas, muitos eventos eram realizados lá, o bar em si sempre incentivou muito os artistas locais. Lá teve diversas exposições, feiras de livro e artesanato, não era só os shows. Era um verdadeiro centro cultural no centro de Cuiabá”, comentou.
Foto: Arquivo Pessoal
Show do Carrascos em 2005, primeira banda de Jomar
À reportagem, Jomar lembrou que foi no Cavernas quando sua primeira banda de thrash metal realizou sua estreia aos palcos. Conhecida como ‘Carrascos’, o grupo criado em 2001, foi extinto em 2007.
“O primeiro show da minha banda Carrascos foi lá. Eu já toquei com a minha banda atual, Sr. Infame, mas o último evento que nós fizemos lá foi em 2022, com um tributo ao Black Sabbath”, contou.
No decorrer das quase duas décadas de existência, o estabelecimento foi administrado por três donos diferentes e foi em meio à pandemia de covid-19 que se intensificou a crise financeira e a queda significativa de público no estabelecimento.
“Eu fiquei muito triste com esse encerramento das atividades, mas era uma coisa muito complicada e que iria acabar acontecendo de uma forma ou outra, infelizmente. E isso por diversos fatores, mas principalmente por tudo o que aconteceu durante a pandemia ainda mais tendo em vista os muitos bares que fecharam”, avaliou o metaleiro.
Foto: Arquivo Pessoal
Último show feito por Jomar no Cavernas, Tributo ao Black Sabbath, em 2022
O encerramento das atividades foi anunciado via redes sociais, pelo perfil oficial do Cavernas Bar, no dia 3 de novembro. Veja ao final da matéria.
No post, o estabelecimento se despediu dos frequentadores, lamentou as crises enfrentadas e destacou a história do bar que por tanto tempo “ressoou o poder e a paixão pelo Heavy Metal”.
“Infelizmente, os desafios financeiros e de infraestrutura tornaram impossível manter as portas do Cavernas Bar abertas. A precarização das instalações e a queda significativa de público, combinadas com os altos custos operacionais, deixaram os administradores sem alternativa senão encerrar as atividades. Eles tomaram essa decisão difícil em um esforço para evitar que a situação se deteriorar ainda mais”, aparece em trecho da publicação.
Reprodução
Quando se trata das memórias e experiências que o Cavernas proporcionou ao longo dos anos, o baixista Jean Bass, compartilhou brevemente ao HNT as experiências vivenciadas pela perspectiva de quem “viu o bar nascer em Cuiabá”.
“Muita gente não sabe, mas o Cavernas ele era originalmente lá de Barra do Garças, um bar de rock underground. À época, o dono já tinha organizado alguns eventos aqui, mas nada muito sério. Quando ele chegou com esse bar em Cuiabá, rapidamente ficou famoso entre os roqueiros, ele ficava lá na avenida dos Trabalhadores, em um lugar super pequeno. Sempre que eu saia do trabalho, passava por lá para tomar uma cerveja. Então, a minha relação com o Cavernas se confunde com a história do próprio bar”, confidenciou.
Conforme Jean, foi quando quando o estabelecimento se firmou no endereço que conhecemos hoje, que sua relação ficou ainda mais “afetiva” com o bar.
À reportagem, o músico relembrou que já tocou no Cavernas com ao menos quatro bandas que participou. Sendo elas: ZAGAIA, LOrd Crossroad, Urubu Cão, e POwer Rock Trio, seu grupo atual.
“Por não ser um músico de metal, eu não sou aquele cara que tocava no Cavernas toda semana, mas eu já toquei lá com todas as bandas ao qual participei, várias e várias vezes. Sem contar na relação de intimidade, porque a amizade que se cria entre os adeptos e a relação de fidelidade entre os roqueiros é muito grande, são muito amigos e parceiros que frequentam a cena, até porque antes era muito tudo muito pequeno e acabava que todos se conheciam”, disparou.
Foto: Arquivo Pessoal
Público underground curtindo show no interior do bar, em 2005
Ao comentar sobre fim das atividades, apesar de lamentar, o baixista avaliou que foi o Cavernas o responsável por “abrir as portas” para a cena underground em Cuiabá.
“Antes não existia estrutura pra nada, fazer um show e alugar equipamentos era muito caro. Com o advento dos bares que isso foi mudando, mas levando em conta o contexto do Cavernas na época em que ele abriu, foi ele o responsável por incentivar as bandas daqui e abrir as portas do underground em Cuiabá. Vejo fim com muita com muita tristeza, porque a gente perde um local que de referência, mas tenho o entendimento de que a cena não depende exclusivamente do bar e o rock nunca em si, ele nunca morre”, avaliou.
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