Retomar a rotina de percorrer longos quilômetros na boleia à frente de uma carreta é o objetivo da motorista Shyrlley Dias da Costa. Aos 54 anos, a mato-grossense afirma encontrar dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho. O motivo é a idade. Segundo Shyrlley, as empresas aprovam o seu perfil e o currículo, no entanto, quando observam a data de nascimento, recuam e acabam não a contratando.
A mato-grossense tem 10 anos de registro em carteira e oito anos como autônoma na função. No último processo seletivo, que concorreu em Cuiabá, viveu uma situação constrangedora. Shyrlley lembra que passou em todas as etapas e chegou a levar sua documentação ao recursos humanos da empresa, mas foi surpreendida com uma negativa antes de fazer os exames médicos.
"A responsável pelo departamento explicou que não poderia ficar comigo por ter mais de 50 anos. Ela falou que estava muito triste e que não acreditava que eu tinha a idade que estava no meu RG. É uma frustração muito grande ser rejeitada por isso, pois é algo que a gente não tem como mudar", disse Shyrlley Dias ao HNT.
Para pagar as contas, ela precisou se reinventar e está prestando serviço como cuidadora de idosos e pessoas acamadas. Entre os turno, Shyrlley aproveita para multiplicar o dinheiro na carteira e trabalha para empresas de transporte por aplicativo. Durante as viagens, faz networking e propaganda boca a boca do seu negócio.
OPORTUNIDADES AOS 50+
O Censo do IBGE de 2022 mostra que a taxa de crescimento anual da população brasileira é a menor desde 1.872 e os idosos representam 15% do total de habitantes. As pessoas entre 50 e 59 são equivalentes a 11,4% da população. De acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), esse percentual da população está cada vez menos interessado em aposentar. Levantamento recente da entidade aponta que 21% dos idosos continuam atuantes no mercado.
Mas não se engane, vagas nessa faixa etária são raras. Pesquisa da consultoria Maturi indica que a presença de profissionais maduros nas empresas varia entre 3% e 5%. Em Cuiabá, o Grupo Pereira lançou um programa de contratação pioneiro. O conglomerado de empresas conjuga números que caminham na contramão daqueles vistos porta afora: 2 mil funcionários possuem mais de 50 anos, totalizando cerca de 12% do quadro, mais do que o dobro visto no mercado.
EMPREGADO AOS 73 ANOS
O etarismo é uma forma velada de preconceito. Estudo conjunto do Vagas.com, Colettivo e Talento Sênior afirma que um em cada quatro profissionais entrevistados, um já foi demitido por conta da idade. Eurípedes Marques de Moura, de 73 anos, é uma exceção a essa máxima. O idoso foi contratado há 10 anos para trabalhar como auxiliar de prevenção e perdas no supermercado Comper da avenida Miguel Sutil, em Cuiabá. Ele já estava aposentado quando se candidatou a uma vaga na empresa. A motivação foi a necessidade de complementar a renda da família e o desejo de manter a cabeça ocupada.
"Pensei que fosse ficar na empresa por um curto período, mas me faz tão bem que já faz uma década que estou aqui e pretendo chegar até aos 80 anos trabalhando”, disse Eurípedes.
Sobre a diferença de gerações num mesmo ambiente de trabalho, Eurípedes contou que não há conflitos, pois, em sua bagagem profissional de mais de 40 anos, acumulou muita experiência, que transmite para os mais jovens e também aprende com eles. Assim, vivem numa constante troca de experiências.
“É gratificante ser valorizado depois dos 50 anos e, no meu caso, depois dos 70 anos. Tenho muito orgulho”, enfatizou o auxiliar de prevenção.
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.