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Com a ameaça de deixarem seus trabalhos em outubro, cobradores lotaram a Câmara de Vereadores de Cuiabá na manhã desta quarta-feira (11) em audiência que tratou sobre a falta dos profissionais em várias linhas do sistema municipal de transportes urbanos da Capital.
Os cobradores tiveram o apoio de muitos motoristas que estão sobrecarregados com o serviço diário. A audiência contou com a participação de alguns vereadores e do promotor Ezequiel Borges do Ministério Público do Estado, onde existe um inquérito civil para saber sobre a retirada dos cobradores e o que isso acarreta no sistema de transporte público da Capital.
A vereadora Lueci Ramos (PTB) disse que a retirada de vários cobradores significa o desemprego de centenas de chefes de família, o que pode causar desequilíbrio familiar.
Cobradora há 10 anos, Cristiane Alves Nogueira, 31 anos, trabalha na Pantanal Transporte uma das maiores empresas do setor em Cuiabá, disse que nunca foi promovida e que está faltando união entre os cobradores para que o quadro que está sendo aplicado se reverta. “Os motoristas, apesar de acumularem várias funções, acabam aderindo ao novo sistema por medo do desemprego”, pontuou.
Trabalhando há sete meses sem a presença de um cobrador, o motorista Helton Moreira Farias Júnior, dirige na linha 106 – que interliga os bairros Cidade Verde, Centro e Boa Esperança, ele disse que teve que se adaptar ao sistema porque precisa do trabalho, mas reconhece que as muitas funções acabam por lhe trazer sérios problemas de exaustão psicológica. O motorista também disse que apesar de ter uma portaria que estabelece a não permissão em dar o troco com o veículo em movimento, não é isso que acontece na prática. “Eu passo o troco com o veículo andando”, afirmou.
“O risco de trabalhar sozinho é grande, o cuidado deve ser redobrado”, completou Farias Júnior.
Com a falta dos cobradores, os motoristas ganham em média 20% a mais em cima dos salários. Helton Farias Júnior disse que ganha R$ 1.435,00 por mês.
Dados da Associação Mato-grossense dos Transportes Urbanos é de que existem 1,5 mil trabalhadores diretos no coletivo em Cuiabá. Existem 503 ônibus, dentre os quais 125 estão sem a presença de cobradores. A projeção da AMTU é que em cinco anos não exista mais cobradores nos coletivos em Cuiabá.
DEBATE ANTES DA PRÁTICA
O promotor Ezequiel Borges disse que a discussão realizada sobre a situação do sistema de transporte deveria ocorrer antes da prática, já que a retirada vem causando sérios transtornos à população que tem dificuldades em recarregar o cartão transporte.
“O motorista transformou-se em super-homem porque tem que receber dinheiro, observar catraca, recolher pessoas com deficiência, verificar as portas para não ter problemas na hora do desembarque”, disse Borges.
Projeto de lei do vereador Marcos Fabrício (PTB), aprovado na semana passada pela Câmara, delibera que em 90 dias o pagamento no ônibus deve ser feito através de cartão transporte. O projeto falta ser sancionado pelo prefeito Chico Galindo.
Para a vereadora Lueci Ramos (PSDB) as empresas devem dar condições para que usuários recarreguem o cartão transporte, ampliando o número de locais de recarga, que atualmente são 74 pontos. O promotor Ezequiel Borges disse que as empresas querem, até o final do ano, ampliar para 200 o número de pontos o que ainda é insuficiente, já que exemplos de cidades como Campo Grande existem cerca de 900 pontos de recarga.
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OUTRO LADO
A Associação Mato-grossense de Transportes Urbanos disse que a redução dos cobradores é para diminuir o volume de dinheiro que circula no coletivo e assim evitar os assaltos que são recorrentes.
As linhas de ônibus da Grande Morada da Serra, região mais afetada com os assaltos, são alvos de pelo menos uma ocorrência por dia. Somente em 2011 foram registrados 900 ocorrências de assaltos a ônibus, este ano existe uma média de 50 por mês.
A AMTU reconhece que nesta fase de transição existem muitas turbulências e afirmou que nenhum cobrador foi demitido até o momento, já que houve um acordo de estabilidade até outubro deste ano.
Até lá, os cobradores estão convivendo com a incerteza no trabalho. A associação garante que medidas estão sendo estudadas, como o curso em que 100 cobradores estão sendo treinados para se tornarem motoristas. Os cobradores que estão afastados do coletivo estão trabalhando na área administrativa das empresas.
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