A decisão foi tomada após avaliação do Comitê de Avaliação de Risco em Farmacovigilância (PRAC) da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que apontou a Noiana como um possível efeito adverso da substância. No Brasil, o sistema de notificação de eventos adversos da Anvisa, o VigiMed, registrou 52 relatos de suspeitas de distúrbios oculares relacionados à semaglutida.
Em nota, a Novo Nordisk, fabricante dos medicamentos, afirmou que a semaglutida foi estudada em "programas clínicos robustos", com mais de 52 mil participantes, além de dados de uso real que somam o equivalente a mais de 33 milhões de pacientes-ano.
Segundo a farmacêutica, "com base no conjunto total de evidências, não há uma possibilidade razoável de relação causal entre a semaglutida e a neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica", e o perfil de risco-benefício da substância "permanece favorável". A empresa informou ainda que também foi notificada pela EMA sobre a inclusão da reação adversa nas bulas e que está colaborando com as autoridades regulatórias.
Em investigação, tirzepatida (do Mounjaro) também foi associada a eventos oftalmológicos
Um estudo publicado no final de janeiro na revista científica JAMA Ophthalmology analisou o surgimento de condições oculares em pacientes que usaram as canetas para diabetes e obesidade, como contamos aqui. Os pesquisadores descreveram nove casos de pessoas que desenvolveram problemas de visão após o uso de semaglutida e também de tirzepatida, princípio ativo presente nos medicamentos Mounjaro e Zepbound.
Entre os nove pacientes avaliados, sete desenvolveram Noiana, um apresentou papilite e outro foi diagnosticado com maculopatia média aguda paracentral. As três condições afetam o nervo óptico e podem, em alguns casos, levar à perda de visão.
Apesar dos achados, os autores do estudo não recomendaram a suspensão dos medicamentos em geral, mas orientaram que os pacientes procurem avaliação médica ao notarem qualquer alteração visual.
O que pode explicar a relação?
Bradley Katz, autor principal do estudo e professor do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Universidade de Utah, afirmou que a pesquisa não foi desenhada para estabelecer uma relação de causa e efeito entre os medicamentos e os distúrbios visuais.
Em comunicado da Universidade de Buffalo, também envolvida na investigação, é destacado que os pacientes analisados - com idades entre 50 e 60 anos - apresentavam diabetes, obesidade e outras condições cardiovasculares, fatores que, por si só, já aumentam o risco de problemas oculares como retinopatia diabética e visão turva.
O endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, chamou atenção ainda para outro aspecto: a redução rápida e acentuada da glicose promovida por esses medicamentos.
"Há décadas sabemos que, em pessoas com grande descontrole glicêmico, esse efeito pode aumentar o risco de reações oculares adversas", afirmou Couri, em entrevista recente ao Estadão.
Segundo ele, o próximo passo deve ser a realização de estudos mais robustos e controlados, voltados especificamente para a avaliação dos efeitos da semaglutida e da tirzepatida sobre a saúde ocular a longo prazo. "Essa é a saída para explicar definitivamente o que está acontecendo", disse.
Ele reforçou que, neste momento, não está claro se existe uma relação de causa e efeito entre o uso desses medicamentos e os prejuízos visuais. Ele lembrou também que, diante da quantidade de gente que recorre aos remédios no mundo inteiro, são poucos relatos de efeitos adversos.
(Com Agência Estado)
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