As manifestações, que ontem chegaram ao sexto dia consecutivo, fizeram ao menos 24 autoridades municipais decretarem toque de recolher para tentar conter os tumultos, os saques e as vidraças quebradas. As autoridades tentavam determinar se havia extremistas infiltrados nas manifestações.
Foi a primeira vez, desde as mobilizações de 1968, após o assassinato de Martin Luther King Jr., que tantas cidades adotaram a medida ao mesmo tempo como resposta à agitação civil. A Guarda Nacional foi acionada em 11 dos 50 Estados, mas manifestantes desafiaram a polícia e o toque de recolher e continuaram nas ruas. Ontem, a Guarda Nacional disse que 5 mil homens foram postos em prontidão em 15 Estados e na capital, mas "as agências de aplicação das leis locais eram responsáveis pela segurança".
Os protestos contra o racismo na abordagem policial começaram em Minneapolis, no Estado de Minnesota, onde Floyd, um homem negro de 46 anos, foi morto asfixiado por um policial branco que pressionou o joelho sobre o pescoço dele. A morte de Floyd reacendeu o movimento contra o racismo na polícia, já visto em 2013 e 2014. Mas, desta vez, a revolta chega em meio a uma grave pandemia e a uma crise econômica comparável apenas à Grande Depressão de 1929.
Com o maior número de mortos pela covid-19 no mundo - mais de 104 mil até agora -, 40 milhões de desempregados e uma ebulição social, os EUA entraram neste final de semana em uma crise histórica.
Os EUA iniciaram um processo de reabertura gradual da economia nas últimas semanas, após indicativos que o pico da contaminação por coronavírus passou. Mas os protestos podem fazer com que a prevista segunda onda de contágio chegue antes do esperado (mais informações nesta página).
Em Londres, Berlim e no Rio de Janeiro, manifestantes saíram às ruas em apoio à pauta americana. Nos EUA, a maioria das manifestações foi pacífica, mas houve conflito entre policiais e manifestantes em cidades como Minneapolis, Los Angeles, Chicago, Filadélfia, Atlanta, Nova York e Washington, com carros de polícia incendiados, lojas depredadas e saqueadas.
O crescimento e a escalada no tom das manifestações indicam que os manifestantes terão dificuldade em manter a coesão. Vídeos mostram manifestantes negros no Brooklyn, em Nova York, tentando evitar que uma loja da rede Target fosse depredada, indicando o desacordo interno.
À frente da Casa Branca, Donald Trump é uma figura que provoca divisão. O país é rachado entre os que amam e os que odeiam o americano. No sábado, ele chegou a sugerir que seus apoiadores se manifestassem na Casa Branca, o que poderia piorar a tensão caso houvesse choque entre grupos.
Ontem, o presidente anunciou que vai designar o grupo antifascista Antifa, em quem coloca a culpa pelos episódios de violência das manifestações, como uma organização terrorista. Atualmente, mais de 60 grupos são designados como organizações de terrorismo estrangeiras, como Al-Qaeda e o Estado Islâmico. A designação é considerada uma ação política e diplomática, mas especialistas apontam que Trump terá dificuldade em executar a medida.
(Com Agência Estado)
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