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Sexta-feira, 08 de Junho de 2018, 15h:42

Despertando conceito para novos sistemas construtivos sustentáveis

A racionalidade, a modulação, a otimização de materiais, gera uma obra com menos resíduo

BENEDITO LIBÂNIO SOUZA NETO

REPRODUÇÃO

BENEDITO LIBÂNIO SOUZA NETO

 

No limiar do século 21, com todo desenvolvimento alcançado, ainda temos setores da nossa economia que necessitam despertar-se para novos conceitos tecnológicos, principalmente os que adotam os princípios da sustentabilidade. A indústria da construção civil, como uma das molas propulsoras da nossa economia, contribui com uma parcela significativa do nosso PIB, gerando em torno de 10% da nossa produção,  mas sua cadeia produtiva, ao longo dos anos reflete um grande paradoxo. Se de um lado, as indústrias vêm desenvolvendo produtos de alta tecnologia e os profissionais buscando ter uma formação continuada, nossa mão-de-obra vem timidamente investindo em qualificação, dificultando assim a implantação de novos sistemas construtivos inovadores em alta escala.

 

No Brasil, até mesmo por questões culturais e sociais, o setor da construção civil ao longo dos anos, vem absorvendo grande parte da mão de obra sem qualificação. Os serviços “braçais” erroneamente nos levam a uma visão míope, de que a qualificação permanente não é necessária. Se de outro lado olharmos para o setor agrícola, através do agronegócio veremos que a tecnologia e qualificação foram as grandes responsáveis pelos altos índices de produção obtidos aos longo dos últimos anos, nos colocando como um dos maiores produtores mundiais de grãos.

 

Se no campo o produtor rural revolucionou a forma da sua produção através de investimentos tecnológicos, tanto no equipamento como na mão-de-obra, porque não na produção do espaço urbano onde residem praticamente mais de 80% da nossa população, não podemos aplicar novos sistemas construtivos que permitam reduzirmos custos, atender a crescente demanda desenvolvendo e qualidade de vida para as novas e futuras gerações por meio da sustentabilidade.

                                                                                                                                

Na Europa na década de 40, principalmente no pós-guerra, com a necessidade da sua reconstrução, muitos países investiram em sistemas construtivos inovadores. Técnicas como estruturas pré-moldadas, pensadas e produzidas em plantas indústrias, passam a ganhar força. A racionalidade, a modulação, a otimização de materiais, gera uma obra com menos resíduos e consequentemente mais limpa, além de reduzir o tempo e o seu custo. Nos países da América do Norte, desde o início do século passado, o aço veio ganhando cada vez mais espaço na estrutura dos edifícios, estruturas antes autoportantes passam a serem mais esbeltas, flexíveis e arrojadas oferecendo aos projetistas oportunidades nunca antes vistas.

 

No Brasil, com o advento da arquitetura Moderna no inicio do século passado, seguindo os princípios do mestre Le Corbusier, passamos a ter uma ruptura, entre sistemas construtivos com técnicas vernacular, baseados em sistema autoportantes tendo à cerâmica, a pedra como matéria prima e as novas possibilidades trazidas pelo concreto armado. Brasília, hoje patrimônio da humanidade, obra singular, fruto da generosidade de dois dos nossos maiores arquitetos, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer nos colocaram na vanguarda da produção do espaço urbano mundial.

 

Envoltos num projeto nacional de modernização, a arquitetura e a engenharia brasileira tendo como base as universidades possibilitaram o desenvolvimento de novas técnicas construtivas, dentre elas o concreto protendido, possibilitando obras como o Museu de Arte de São Paulo MASP, referência da arquitetura mundial, projetado pela genial arquiteta italiana, Lina Bo Barde e uma equipe de grandes engenheiros arrojados, dentre muitas outras obras.

 

Passado mais de meio século, pós Brasília, mesmo com muitos avanços tecnológicos na nossa indústria da construção civil, mais direcionado aos materiais, a maioria da nossa produção, no setor da construção civil, ainda esta enraizada em técnicas já superadas, há muito tempo nos países desenvolvidos. Um exemplo disso é ainda utilizarmos, para os fechamentos dos ambientes, alvenaria de tijolos, gerando desperdícios em torno de 25%. Esses sistemas construtivos “arcaicos” precisam ser superados, até mesmo pelas questões da sustentabilidade, é inadmissível hoje trabalhar com índices em torno de 25 a 30% de perda em nossos canteiros de obras.

 

Nesse sentido, é importante que possamos fomentar ações positivas no sentido de desperta para novos conceitos tecnológicos para o setor produtivo da construção civil, com bases em processos sustentáveis. A capacitação permanente de todos os atores envolvidos, bem como o nivelamento de conhecimento entre as universidades, a indústrias de materiais e os operadores e aplicadores desses produtos industrializados é crucial. Enfim o desafio é gigantesco, mas a nossa capacidade criativa e de superação é superior aos desafios impostos.

 

*BENEDITO LIBÂNIO SOUZA NETO é Arquiteto e Urbanista.