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Segunda-feira, 11 de Abril de 2011, 09h:00

Os benefícios do crescimento vão chegar a Cuiabá?

Espera-se a responsabilidade dos nossos gestores e legisladores, porque a Copa do Pantanal é o depositário das esperanças de muitos, que enxergam neste evento oportunidades de redenção a uma vida melhor. Errar agora será um desastre!

DIOGO EGIDIO SACHS

O progresso econômico de Mato Grosso foi intensificado na segunda metade do século passado com o trespasse, quase que gratuito, da titularidade das terras públicas aos colonizadores, às companhias de imigração e cooperativas que, por sua vez, transferiram o domínio das terras a pequenos e médios proprietários. Desde a década de 70 até hoje, de forma constante e ininterrupta, desaparecem do cenário estadual os pequenos e médios produtores rurais. Isso ocorre por vários motivos, que vão desde sucessivas crises financeiras do mercado interno até a necessidade econômica de crescimento da produção em escala industrial por conta da logística e da redução de custos (estes dolarizados).

A concentração de propriedades rurais nas mãos de poucos, mas grandes produtores de grãos e gado e/ou empresas chamadas “tradings”, é convencionalmente denominado Agronegócio (esse sempre se insurge veementemente contra qualquer iniciativa de regulação e fiscalização de suas atividades, inclusas as relativas à sua lucratividade e ao meio-ambiente, mas não cora ao propor, através de seus arautos, a socialização dos seus custos com a sociedade via subsídios e perdão das dívidas). O resultado da atividade primária do campo não é mais a produção, mas commodities, essencialmente destinadas ao mercado externo.

Incrível e impossível deixar de notar a verossimilhança da economia contemporânea do Estado de Mato Grosso e conceitos econômicos, talvez já ultrapassados, outrora mencionados pelo insigne economista Celso Furtado em sua pequena obra “Brasil - a construção interrompida (1992)”: os dados estatísticos não deixam dúvida de que a tendência à concentração da renda persiste em todas as fases da industrialização, quando esta foi precedida por um período de crescimento apoiado na exportação de produtos primários, a qual engendra a modernização. Simplificando, como diz Furtado, onde a propriedade da terra está concentrada e o crédito é monopolizado pelos proprietários, uma maioria de despossuídos não participará dos benefícios do crescimento, acarretando essa concentração de renda (no Brasil). Se esses dados estruturais não se modificam, o aumento de produtividade engendrará necessariamente uma crescente dicotomia social.

A concentração da renda e produção é dramática em várias cidades do interior do Estado, onde municípios com grande produção de grãos e gado contam com instalações urbanas precárias, e população com baixa renda, que se socorre, invariavelmente a já inchada folha de pagamento da prefeitura como meio de subsistência. A cidade de Brasnorte, por exemplo, tem produção considerável de commodities, mas extrema concentração na titularidade da propriedade rural - o município não pode ser chamado de pobre, mas a maioria dos cidadãos que lá reside, sim. Interessante é o fato de não estarem disponíveis, de forma fácil, informações acerca do volume de grãos e madeira lá produzidos, seu destino e o itinerário de escoamento!

Cuiabá, em que pese ser a Capital do Estado e pólo regional de vasta região, concentrando o que há de melhor em comércio, prestação de serviços e empregos públicos ofertados pelo Estado e pela União, se parece e muito com algumas cidades do interior do Estado, pois a maioria de sua população sobrevive com um ou dois salários mínimos. Infelizmente, é uma Capital pouco industrializada e não produz commodities, razões pelas quais, talvez, conte demasiando com investimentos públicos para sustentar sua infra-estrutura.

A Copa do Pantanal já foi decidida politicamente como investimento público, talvez, como uma forma de mitigar desigualdades. O problema é que não cessa a visceral disputa travada em torno da Agecopa, entre grupos políticos outrora “amigos”, para saber quem vai planejar e definir onde, e quais serão as obras da Copa, ultimando, pois, os contratos com as empresas encarregadas da execução dos projetos. Espera-se, ao menos, responsabilidade dos nossos atuais gestores e legisladores, porque a Copa do Pantanal é o depositário das esperanças de muitos, que enxergam neste evento e nas obras demandadas por ele oportunidades de redenção a uma vida melhor. Errar agora, na undécima hora, será desastre! Já não nos basta o sofrimento impingido por sermos ignaros acerca do tamanho da conta da Copa do Pantanal, empenhada às gerações futuras de Mato Grosso?

(*) DIOGO EGÍDIO SACHS é advogado em Mato Grosso. E-mail: [email protected]