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Sábado, 09 de Abril de 2011, 10h:00

Sustentabilidade, a grande ‘commodity’ - 2

Preservar floresta ou plantar árvores é tão ‘negócio da China’ quanto abrir uma indústria no País. Na área ao longo do Rio Yang Tsé, que alimenta as turbinas da megausina de Três Gargantas os fazendeiros recebem dinheiro por hectare reflorestado

HONEIA VAZ

Sem nunca ter deixado de falar no tema “China x Brasil”, mesmo que de forma não-explícita, há contextos que colocam o Brasil, e com certo preparo, destacadamente Mato Grosso, com muito mais bases para serem o que a China já é. Arrisco dizer que praticamente todas as necessárias mudanças de rumos para alcance deste ‘Plano China’ se baseiam na nacional e regionalmente ignorada sustentabilidade, na qual, por outro lado, os chineses, tendo em conta suas deficiências e desafios, igualmente têm despontado tão arrojadamente (pelo critério usado) quanto em produção e comercialização mundiais.

Hoje preservar floresta ou plantar árvores é tão ‘negócio da China’ quanto abrir uma indústria naquele País. Na estratégica área ao longo do Rio Yang Tsé, que alimenta as turbinas da megausina de Três Gargantas (50% maior que Itaipu) os fazendeiros recebem dinheiro por hectare reflorestado.

Não, o governo chinês não se tornou mártir da natureza e merecedor de alguma espécie de Prêmio Nobel de preservação ambiental. A visão aqui é de mercado, com amplo resultado (alimentação da cadeia de negócios), novamente tendo em conta “sustentabilidade”. A equação é simples: “+árvores=mais água=a mais energia com menos custo, e portanto + barata”.

A metodologia arrojada de investimento financeiro prevê a contenção da inconstância do fluxo da água do rio – em termos de enchentes e de seca, lembrando que as árvores respondem pela fotossíntese (que regula as chuvas).

A China, nação que mais polui dada sua alta produção industrial, e que inaugura uma infinidade de pequenas e médias usinas de carvão por mês para atender a este crescimento, “corre” paralelamente com estratégias de retornos interessantes, em que eles atestam o resultado da equação aqui apresentada como sendo: “energia mais barata=mais capacidade de produção e atração de novas empresas=a mais tributos=a mais dinheiro para pagar o reflorestamento e preservação=sustentabilidade em parte do ciclo”. Isto sem contar seu crescente consumo de tecnologias de energia eólica, entre outras.

Na América Central, em Costa Rica, a parceria governo e empresa que responde pela companhia hidrelétrica para financiar a preservação das florestas e reflorestamento é uma prova de longo prazo da viabilidade do ciclo positivo. O País responde pelo mais antigo projeto na linha adotada pelos chineses.

Em 1950, a Costa Rica tinha 75% de suas florestas. Em 1987, apenas 21%. Com a implantação da Lei Florestal de 1997, permitindo que proprietários de terra possam receber pagamentos por usos específicos do solo, incluindo novas plantações, manejo sustentável de madeira e conservação de florestas nativas, em 2000 o satélite mostra um índice de 45%, provenientes de alto percentual de conservação das matas que ainda existiam (atualmente, o desmatamento é quase zero!), e crescente reflorestamento subsidiado. As diferenças socioeconômicas de ambos os países – China e Costa Rica – determinam valores respectivamente de US$450/ano por hectare, e US$ 50 a 70/ano por hectare/com florestas.

No Brasil, o processo caminha inversamente, num contra-senso a estudos e ações, tendo em conta estratégias bem sucedidas e várias fontes de energia disponíveis, bem como atentando gravemente contra um fator que em curto e longo prazos (5 anos acima), estará entre os critérios vitais de escolha de migração e permanência das empresas com verdadeiros planejamentos (principalmente com o fortalecimento da análise de tendências para segurança dos negócios – projeção acima de 8 anos): a sustentabilidade, que inclui tanto solos aptos a alta produtividade, quando chuvas regulares para a produção agrícola, entre outros subtítulos nesta planilha.

Em todas as culturas agrícolas, a água é hoje uma das maiores causadoras de perdas nas lavouras, seja pelo excesso de chuvas no momento da colheita, seja pelo “estresse hídrico” decorrente dos longos períodos estiagem. O prejuízo, por causa de queda mínima de chuvas nos corredores de Floresta Amazônica, segundo a ONU, fica entre US$ 1 bi e US$ 30 bilhões para as plantações nos arredores destes. Reforçando o valor financeiro de “sustentabilidade”, o relatório IPCC aponta que o aquecimento global e mudanças climáticas gerarão em torno de R$ 3,9 bi a R$4,3 bilhões de prejuízos em não mais do que 10 anos – em 2020 - na produção do grão de maior destaque na agricultura brasileira – a soja. Para o café a estimativa é de R$600 mi e há números para todos os tipos de plantações e variações climáticas em cada país do mundo e seus consequentes cifrões a menos no bolso do produtor e como impostos nos cofres públicos. Além dos desdobramentos bem visiveis - menor capacidade de honrar financiamentos ou de obter novo crédito nos bancos (e possibilidade de aumento do juro deste pelo risco crescente), vulnerabilidade do ciclo de plantio da semente-colheita-lucro-incremento, manutenção e geração de emprego e renda.

Novamente mostrando nosso contra-senso em resistirmos ao investimento em ciclos virtuosos e, por tal, resultante maiores prejuízos, o Brasil, segundo a Embrapa, até fevereiro deste ano contava com cerca de 28 projetos oficiais abertos para viabilizar soluções relacionadas ao assunto, a um custo de R$138 mi. Em outro ângulo, o “desmatômetro” mostra que nossa nação e a Austrália derrubaram cerca de 500 hectares/ano, e de outro lado China, EUA e Índia (este último, outro país que está na briga pelo ranking do “Futuro”) reflorestam entre 50 e 500 hectares/ano. No caso do Brasil, o apontamento não leva em conta a o dado referente a florestas inundados com a hidrelétrica de Belo Monte-Rio Xingu: 512 km².

Outro exemplo positivo de que dinheiro e árvore são a soma do agora e aposta para o futuro está na marca Etnies, que lançou o plano “Buy a shoe, plant a tree” (Compre um tênis, plante uma árvore). Para cada par de tênis “Jameson 2 Eco” vendido, a Etnies vai plantar uma árvore, somando 35 mil a serem plantadas ainda em 2011 no norte da Costa Rica, na reserva Maleku (tribo indígena, que durante décadas teve sua floresta muito prejudicada pela exploração dos pecuaristas e seringueiros). E lá, vocês já sabem, projetos ambientais como este, são pagos em dinheiro. Portanto, potencial de lucro (em dinheiro) triplicado, pois, além da venda dos tênis com margem de lucro determinada pelo valor de mercado da marca e da nova coleção, tem-se ainda: o pagamento por hectares/árvores naquele País e também acréscimos de vendas relacionadas a marketing de responsabilidade ambiental e social (reflorestamento dos bosques e o relativo aos índios).

Reafirmo assim, mesmo com especialistas por demais renomados e todas as bolsas de mercadorias desmentindo, que desde já a melhor aposta em commodity é na sustentabilidade, como produto de base e matéria-prima necessária a qualquer produção e planejamento público. Também confirmo o ditado popular de que “dinheiro não dá em árvore”, mas ressalto que nasce outro para atender à realidade presente e à demanda futura, longe de mera opinião, mais sustentável e científico, e este sim precisando ser popularizado: “árvore dá dinheiro”.

Leia a primeira parte aqui.

(*) HONÉIA VAZ é jornalista em Cuiabá. E-mail: [email protected]