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Segunda-feira, 28 de Março de 2011, 12h:42

Informação e conhecimento livres

Jornalista avalia inteligência coletiva em artigo sobre mídia e democracia

PABLO RAMOS

Começo citando uma máxima do mestre Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “…Na TV nada se cria…tudo se copia!” Hoje, não necessariamente na TV, mas, em toda e qualquer informação e conhecimento, essa máxima continua presente.

O recente caso de plágio na USP, que resultou na demissão de um Pesquisador/Professor, as brigas por direitos autorais e acusações de copiar músicas, artes, conhecimentos na academia, informações nos meios e veículos de comunicação já não geram tanta polêmica, nem tanto estranhamento na "Sociedade da Informação." Tanta tecnologia, desenvolveu a chamada Inteligência Coletiva.
A inteligência coletiva é uma forma de inteligência que emerge a partir da colaboração e ajuda de muitas pessoas.(Vale lembrar que o termo Inteligência Coletiva é do filósofo da informação Pierre Lèvy. De acordo com o livro Cultura da Convergência, do autor Henry Jenkins, o termo de Lèvy se refere à capacidade de comunidades virtuais de alavancar o conhecimento e a especialização de seus membros, normalmente pela colaboração e discussão em larga escala.)

O Wikipédia, a enciclopédia livre, é um resultado da Inteligência Coletiva.

Outro resultado da Inteligência Coletiva são as chamadas Mídias Sociais, que é a produção de conteúdos de forma descentralizada e sem o controle editorial de grande grupos. O que caracteriza uma Produção de muitos para muitos.

As mídias sociais dão voz ao povo, democratizam a informação, transformam meros espectadores desconhecidos em criadores e redefinem o conceito do amadorismo.

O conteúdo das mídias sociais é feito pelo povo e para o povo, envolvendo sempre uma conversa natural e genuína entre pessoas que tem interesses em comum.

Esse conteúdo pode ser veiculado de várias formas através dos elementos que compõem as mídias sociais como: Blogs, Compartilhamento de fotos, Compartilhamento de vídeos, Email, Redes sociais, entre outros.

Esta última, (Redes Sociais), sob a perspectiva do conceito que engloba a mídia social, é um de seus elementos, os chamados sites de relacionamentos, como o Facebook, Orkut, twitter, entre outros. Já de um ponto de vista mais amplo, as redes sociais são uma estrutura composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns.

A mobilização social no Oriente Médio e as informações destes acontecimentos pelas mídias e redes sociais, foi tanta, que chegou ao ponto da secretária de estado dos EUA ( Hillary Clinton ) dizer que a potência imperialista está perdendo a " Guerra da Informação". E ai está o problema.

O monopólio e a chamada “propriedade cruzada” ( que ocorre quando um mesmo grupo ou família pode ter TV, rádio, jornal e revista, e reforça as relações entre grupos de mídia e as oligarquias tradicionais) da mídia mundial, vem perdendo espaços, credibilidade e lucros, provando assim, que a tal “ liberdade de imprensa” pregada pelos Barões da mídia é apenas uma falácia, que na verdade representa a "liberdade dos monopólios".

É estarrecedor ver as maneiras utilizadas pelo mercado para auferir lucro. Todas elas, ou praticamente todas, não se importam com o direito do cidadão – do consumidor, já que na sociedade capitalista em que vivemos, deixamos de sermos pessoas para sermos consumidores.

Como exemplo dessa sociedade, podemos refletir o caso que aconteceu no Piauí, onde três vizinhos de baixa renda resolveram ratear o preço do acesso à internet. Um dos vizinhos contratou o serviço sem sua linha telefônica. Depois, eles foram a uma loja de informática e adquiriram um roteador wirelles e estão, os três, compartilhando o acesso à rede mundial de computadores. O valor das mensalidades, que vinham pagando em dia, era dividido entre eles. Porém eles não sabiam que estavam cometendo um crime. Alguém os denunciou para a Anatel – aquela agência reguladora que deveria fiscalizar o serviço oferecido pelas empresas de telefonia, pautada pelo direito do cidadão (consumidor) – e um fiscal da agência foi ao local, apreendeu os equipamentos e multou o assinante do serviço em R$ 3.000,00. ( Leia na integra a noticia no http://www.diariodeteresina.com.br/site/noticias/tecnologia/anatel-multa-usuarios-por-compartilhar-internet-wirelless.html).

A luta do mercado contra qualquer forma de compartilhamento está se transformando na cruzada do século XXI. A internet é o principal alvo desta guerra econômica. Compartilhar arquivos digitais também pode se transformar em crime. Lembro da minha infância, quando um amigo comprava um CD e a gente copiava em fitas cassete para o resto da galera. Éramos crianças cometendo o crime inafiançável de compartilhar.

O certo mesmo é ensinar para as crianças que cada um tem que ter o seu, e tem que ter o dinheiro para comprar o seu. E assim formar jovens e adultos sob a cultura do você é o que você tem e o que importa é você ter e não o outro.

Na prática, a inteligência coletiva propagada pelas mídias e redes sociais, é a realização da autêntica defesa da liberdade de expressão, da liberdade da informação, enquanto a mídia hegemônica comprova que serve apenas aos interesses dos poderosos e às ambições do império. Para eles, compartilhar informações é crime. Compartilhar, dividindo serviços e despesas não é exploração econômica, portanto ninguém leva vantagem econômica sobre os outros, e isso deve ser combatido.

(*) PABLO RODRIGO RAMOS: Jornalista em formação pela UFMT, membro do Conselho Estadual de Educação CEE-MT e membro da Comissão Política do PCdoB MT. E-mail: [email protected]