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Sábado, 09 de Abril de 2011, 17h:25

Farmácia Biológica: Um case de sucesso

Parou de mamar tem que trabalhar. A lição de casa que levou Célio Fernandes a construir um empreendimento de sucesso em Cuiabá

ISADORA SPADONI

 

Mayke Toscano / Hipernotícias

Na casa de Célio Fernandes, caçula de oito irmãos, prevalecia a lei do ‘desmamou tem que trabalhar’. O que pode parecer, aos olhos de muitos, como uma crueldade dos pais, foi a base da formação moral e profissional do homem que anos mais tarde – e numa cidade muito distante da sua terra natal - fundaria a empresa que seria um case de sucesso em seu segmento: A Farmácia Biológica, de Cuiabá.

A história da Farmácia Biológica começa quando, aos 12 anos de idade, Célio Fernandes inicia sua trajetória profissional em uma pequena farmácia na cidade de Altônia-PR (668 km de Curitiba), onde morava com a família. Na farmácia Garcia, Célio fazia limpeza, arrumava frascos e caixas na prateleira, panfletava, era office boy. Dois anos depois, registrado na carteira como auxiliar de laboratório, ele lavava ampolas de injeção, misturava pastas de enxofre e passou a vender – comissionado – remédios no balcão.

Já aos dezenove, com um fusquinha e uma motocicleta 25cc adquiridos com o trabalho, Célio decidiu ir para a Capital estudar. “Não tinha um natal ou ano novo que eu não estivesse trabalhando, de plantão. Quando eu saí de lá, decidi que não queria mais saber de farmácia. Na verdade, o que eu estava dizendo era que não queria mais trabalhar em drogaria. E tampouco ser empregado”, relembra.

Contudo, na hora do vestibular, Célio não teve dúvidas e optou por farmácia e bioquímica. E assim começou sua história de sucesso.

A escolha da praça Cuiabá

Após fazer uma pesquisa de mercado em várias localidades, percorrendo a região Sul, São Paulo, Campo Grande, Rondonópolis e ido até Rondônia, Célio e sua esposa, sócia e também farmacêutica chegaram a Cuiabá, no dia do aniversário da cidade – 8 de abril de 1988.

O diagnóstico foi rápido: mercado promissor e pouca concorrência. Então tiveram certeza de que aqui era o lugar com melhores oportunidades e condições para um rápido desenvolvimento.

O pioneirismo da Biológica se deu, dentre outras razões, pelo envolvimento com a área médica. “Quando chegamos aqui, havia cerca de três farmácias de manipulação, que desenvolviam apenas o básico. Dessas, duas fecharam. Trouxemos mais tecnologia, com diversidade de matéria prima, proporcionando coisas que o mercado até o momento não oferecia. Eu precisava mostrar aqui que nós tínhamos condições de fazer o que já existia em outros lugares”, conta o empreendedor.

Essa estratégia rapidamente transformou a Biológica numa referência do mercado de medicamentos de manipulação de Cuiabá, possibilitando o sucesso do negócio e um resultado financeiro significativo.

Valores como diferenciais

Um dos valores fundamentais da empresa é a excelência. Célio acredita que é preciso trabalhar para buscar certo nível de exigência, em tudo que se faz. “Se queremos um país diferente, temos que pôr isso em prática na sociedade, não tolerar mediocridade, coisas mal feitas ou que não estão a contento. Conforme passamos a ser mais exigentes, alcançamos melhorias.”

Uma dessas experiências se deu em outubro de 1993, quando a Biológica tomou uma decisão muito feliz ao trazer o médico venezuelano Efraim Olszewer para ministrar uma palestra sobre medicina ortomolecular – especialidade hoje bastante em voga.

“Conheci o Efraim no Rio de Janeiro e me interessei muito por seu trabalho. Convidei-o para vir pra cá e ele aceitou. Cuiabá precisava acordar para isso. O evento reuniu cerca de 90 médicos que, pela primeira vez, tiveram contato com evidências desse estudo”.

Iniciativas como essas marcaram o histórico de responsabilidade social, muito trabalhado pela empresa ao longo dos anos, bem como o da qualidade, da responsabilidade socioambiental e o compromisso que a empresa desde aquela época tinha com a vanguarda na área médica.

“A Biológica tinha apenas quatro anos e antes disso eu já vinha realizando diversos eventos na área médica, a princípio com ginecologia e pediatria. Eram muito simples, um balcãozinho e um banner divulgando quais motivos a pessoa tinha para aderir a essa forma. Serviam como uma espécie de convencimento ao médico, mostrando bons motivos para prescrever uma manipulação. A redução da automedicação, maior adesão ao tratamento. A personalização da dosagem – você não tem desperdício, nem risco de sobredose. Tudo bem estudado antes para levarmos a informação correta.” Pouco a pouco a opção ganhou espaço e até hoje mostra resultados.

Mayke Toscano / Hipernotícias
Importância do planejamento

A maior dificuldade era a distância entre as famílias, que ficavam no sul. “Foram raríssimos os tropeços. Tudo que fazíamos dava certo, devido ao planejamento e fôlego. Penso que teria dado certo até se eu tivesse montado um restaurante.”

A empresa atravessou alguns dos planos que afetaram o mercado e fizeram muitos empreendedores quebrarem no país – o plano Sarney, o Collor, o Bresser.

“Estávamos sempre muito focados no negócio, desenvolvendo a atividade com uma intensidade muito grande, intensidade que existe até hoje. Quando criamos o slogan, fomos muito bem sucedidos: ‘Mais do que a sua receita, nós queremos você feliz’. A felicidade é o estado de saúde, de bem estar, é você ser bem atendido e bem respeitado, ser tratado com justiça e pagar por um preço justo”.

Reconhecimento

O olhar empresarial voltado para a responsabilidade socioambiental fez com que a Biológica implantasse, em 1998, o “Programa Criança Feliz”, que ganhou o prêmio nacional Racine, em 2001.

O programa atendeu 159 crianças do bairro Sucuri, em estado de desnutrição. Em um ano de trabalho, a média de desnutrição – que naquela localidade era 10%, enquanto que a nacional era de 4,2% - reduziu para 2%.

O empreendimento também recebeu os prêmios “Qualidade na Pequena Empresa” por dois anos consecutivos – 1997 e 1998 –, concedidos pelo Sebrae; o Prêmio "Top Of Mind", em 2007, 2008, 2009 e 2010, como a marca mais lembrada no segmento de farmácia de manipulação e homeopatia em MT; "Certificado de Responsabilidade Social de MT" em 2008 pela Assembléia Legislativa e finalista em 2008 na categoria pequenas e médias empresas do 4º "Prêmio de Responsabilidade e Sustentabilidade Social no Varejo" pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

 

 

Para Célio Fernandes, empreender é: "SAIR DO PAPEL"

1. Dicas para quem quer iniciar um empreendimento

Em primeiro lugar é preciso desenvolver foco. Hoje não dá mais para ser genérico. O profissional tem que focar em uma atividade específica, não adianta abraçar o mundo. A não ser que se tenha um grande capital para investir, e um excelente plano de negócio para poder dar sustentação e fôlego para aguentar e dominar determinado mercado. É preciso se especializar, conhecer todos os detalhes do mercado para poder obter um bom resultado com aquilo. Segundo: Fazer o que gosta é fundamental. A probabilidade de ter sucesso trabalhando com algo que se gosta é muito grande. Se você faz o que não gosta, vai ter dificuldades, se saturar. E se a cabeça do líder está focada em outro lugar que não o negócio, porque ele não gosta, o negócio deixa de existir. No entanto, mesmo trabalhando com algo que dá prazer, o empreendimento não é feito só de alegrias e motivos de comemorações. Existem desafios, interferências.

2. O que é mais importante: dinheiro ou criatividade?

As duas coisas são importantes. Com dinheiro, eu posso fazer investimentos que me dão relativa tranquilidade. Com criatividade, eu posso fazer dinheiro. Numa ordem, a criatividade e inovação vêm antes. Quem tem uma idéia fantástica encontra um patrocinador. E encontra viabilidade para isso. E quem tem muito dinheiro, mas não tem criatividade e boas ideias, tem grande probabilidade de queimar todo seu recurso sem resultados. Então a criatividade vem em primeiro plano.

3. O Custo Brasil é realmente um obstáculo para empreender?

O Custo é um monstro na vida de todos os empresários. Está relacionado à sociedade em geral. Quando pensamos em carência de estrutura, educação, segurança, tudo está inserido no custo do país. Falando mais precisamente na questão produtiva, o Brasil é um dos piores países para se empreender. A burocracia trabalhista é uma fábula. Um monte de gente para cuidar de controles, a justiça trabalhista tendenciosa, que não conhece a realidade do negócio e muitas vezes se baseia em relatórios forjados do funcionário e advogado e acaba tomando decisões que prejudicam a empresa. É um contexto trabalhista muito pesado e difícil de tocar que acaba impedindo o desenvolvimento, e apesar disso as pessoas conseguem se desenvolver. Nós temos carga tributária de primeiro mundo e retorno de serviço de país subdesenvolvido. O contexto burocrático do governo é muito ruim, hoje em dia já melhorou muito, mas ainda é complicado. Nos dias atuais, para se abrir uma farmácia de manipulação, a pessoa, trabalhando corretamente, leva cerca de um ano. Há vinte anos, quando eu cheguei no dia oito de abril, em 20 de junho já estava com a farmácia aberta. Aquele era um outro momento. A vigilância sanitária levou dez anos para fazer a primeira inspeção. As coisas hoje em dia estão muito atreladas e extremamente burocratizadas.

Mayke Toscano / Arquivo de Imagens