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Artigos Quarta-feira, 19 de Outubro de 2011, 20:05 - A | A

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Quarta-feira, 19 de Outubro de 2011, 20h:05 - A | A

O belga e os nhambiquaras

O “francês” mal humorado, o pugilista inveterado, o bitolado em velhas leis, o destemperado chef francês, o artista de novela Jeanito, o delirante do metrô movido a hidrogênio. Mon ami, excelente cozinheiro, verdadeiro, inteligente. Pai do VLT de Cuiabá

HONEIA VAZ

Divulgação

Estou em viagem e acabo de saber da morte do Jean M. Van Den Haute.

O “francês” mal humorado, o pugilista inveterado, o bitolado em velhas leis, o destemperado chef francês, o artista de novela Jeanito, o delirante do metrô movido a hidrogênio. Mon ami, excelente cozinheiro, verdadeiro, inteligente ao ponto de ser um visionário, frágil, idoso, educado, o pai do VLT em Cuiabá-MT.

Começamos com uma “briga” de ideias. Nunca deu tempo de terminarmos nossos bons tempos de amigos. A morte o levou antes que nossas divergências intelectuais cheias de agravantes pudessem nos separar. Creio até que, pelo que evoluíamos, isto jamais aconteceria, porque já nos convencíamos, ou por outra apostávamos na diferença total do outro tendo em conta a credibilidade e o respeito mútuo. De qualquer forma, as concessões sempre foram mais e maiores do que nós.

Ele estava com câncer, mas o que o levou à UTI foi um AVC. E o que nos mata mesmo é lembrar que trabalhamos o VLT x BRT todo este tempo com ele doente e o fato de que para cada “descanse agora” que eu lhe dizia, ele retrucava “vamos resolver o que é preciso primeiro, hã”. Mata-me mais o fato de que não se conseguiu nestes vários anos de procura pelos sistemas públicos de Saúde de Cuiabá e Várzea Grande o tratamento e cirurgia para sua doença. E que trabalhando em prol da comunidade o tempo todo, contra suas próprias forças e recursos, e utilizando toda a sua genialidade, morreu pobre, financeiramente falando. O trabalho mais importante e necessário na atualidade de tanto egoísmo e busca por interesses exclusivos, a maioria em detrimento do próximo e do todo, era para muitos “nada”, “coisa dele”. Eu desminto: era mais para nós, porque ele já sabia de seus poucos dias. Admito: era veemente, era cabeça-dura, era mais a própria opinião e certezas do que as de todo mundo: mas era para o todo, era para a sociedade os sonhos que nasciam de sua individualidade.

Falava mal do Brasil. E tenho que concordar que estava certo em muitas vezes. Em determinada ocasião me disse pejorativamente que este era “um país de nhambiquaras”, denotando “coisa de índio” como se fosse “subdesenvolvimento, falta de cultura e desordem”. Nem isso o tirou da minha lista dos melhores em Mixed Martial Arts no ringue e lutas contra todas as inverdades e políticas que não visassem a população.

Depois de um tempo corrigiu, me contando uma historinha. “Estes governantes não sabem de nada, esta gente não entende nada, hã. Veja que o chefe dos nhambiquaras se posiciona no centro e consegue visualizar todos os problemas da aldeia. Agora aqui na cidade, o prefeito e o governador não conseguem enxergar nada e nem sabem realmente como fazer Mobilidade Urbana”.

E acho que agora vai ficar até mais difícil chegarmos aos necessários conceitos de Mobilidade Urbana em nossas cidades, porque perdemos não só um profissional altamente experiente, mas alguém com uma característica rara nos dias de hoje: em seus projetos pensava realmente no correto para o povo, não para seu partido político, para a França ou para seu bairro somente. Não pode haver concepção mais divina, nem demanda mais necessariamente técnica.

P.S. Espero que você tenha tido sorte e feito sua passagem para o outro mundo de VLT, o que é muito justo, afinal aqui conseguimos o nosso contando com você. O ruim é que com a sua partida, ficamos aqui sempre na estimativa de afundar sob a política deteriorante socioeconômica e a nada-técnica das ações, meio que naquele estilo “Aglurb, glurb, glub, glub, glub”, mon ami!

(*) HONÉIA VAZ é jornalista em Cuiabá e colaboradora de HiperNoticias. E-mail: [email protected]

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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Honeia Vaz 24/10/2011

Não querido Gilmar, ele falava como pejorativo mesmo, ele era meu amigo e posso falar. Pesquisas mostram que cada grupo tem seu modo de viver e se organizar, na cultura que vivem. Nosso olhar é que os coloca como "primitivos". Isso é etnocentrismo, não podemos julgar a organização deles com nosso olhar capitalista ou de centro urbano de sociedade branca. No mais, Jean nunca foi mato-grossense de coração, foi sim um homem que em sua verdade, independente de ser no BRasil, Irã ou França faria o correto dentro de sua concepção. Era honesto. É isso. Outro abraço.

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Gilmar Maldonado Roman 19/10/2011

Prezada Honéia; O belga e/ou francês o qual voce refere, foi estritamente um mato-grossense de coração. Quando referia a nossa gente como \"nhanbikuara\", estava realmente fundamentado nos resultados das pesquisas Antropológicas, sociológicas e etnográficas brasileiras. Os Nhambikuaras são em seu modus vivendi o segundo grupo mais primitivo/tradicional do Brasil. Grande abraço.

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