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Domingo, 16 de Outubro de 2011, 16h:19

Bastidores da criação do Estado de MS revelam muitas mazelas políticas

Segundo Pedro Pedrossian, um dos governadores do Estado vizinho, brigas atrasaram o desenvolvimento; já Garcia Neto, que governou MT, lutou muito contra divisão

G1 / MS

Os bastidores do período que antecedeu a criação de Mato Grosso do Sul e dos primeiros anos de existência do Estado são recheados de episódios que poderiam servir de enredo para um livro ou filme. São histórias de reuniões a portas fechadas entre presidentes, ministros, parlamentares e assessores que decidiram e, principalmente, influenciaram a vida e o destino de milhares de pessoas.

Um dos protagonistas do projeto de criação de Mato Grosso do Sul foi ouvido pelo G!: o ex-governador Pedro Pedrossian que fora convidado pelo então presidente Ernesto Geisel para dirigir o novo estado. Também é resgatada uma entrevista concedida em 2007 pelo ex-governador de Mato Grosso à época da divisão, José Garcia Neto, ao G1 em Mato Grosso. Dois anos depois morre Garcia Neto.

Apesar de existirem relatos históricos sobre interesses divisionistas da parte sul de Mato Grosso ainda no século 19, a criação do novo Estado foi uma decisão do Planalto e não resultou de uma mobilização popular. O regime militar já tinha um programa definido para o desenvolvimento do Brasil, principalmente das regiões menos povoadas, como o Centro-Oeste e a região Amazônica.
 

A criação de Mato Grosso do Sul fazia parte de um projeto de integração nacional proposto pelo general Golbery Couto e Silva, então ministro da Casa Civil, e encampado pelo governo federal. A nova unidade federativa serviria de modelo para o futuro. Mas a fragilidade política dos primeiros anos fez com que três governantes ocupassem o cargo em um período de dois anos: antes de Pedrossian assumir: Harry Amorim Costa e Marcelo Miranda foram nomeados.

Além disso, a gestão de pouco mais de três anos foi maculada por acusações de corrupção. O historiador Hildebrando Campestrini relata, em seu livro “A História de Mato Grosso do Sul”, que a administração Pedrossian teria levado as finanças estaduais à bancarrota, apesar do perfil empreendedorista. O livro registra, ainda, uma tentativa da Assembleia Legislativa de destituí-lo do cargo com a votação de um projeto de impeachment.

ARRANJOS

Convidado para ser o primeiro governador do novo Estado, o nome de Pedrossian não tinha respaldo de algumas lideranças políticas locais. Sem saída, o ex-goverrnador acatou a decisão de Brasília de nomear o engenheiro Harry Amorim Costa, ex-diretor do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) e homem de confiança de Geisel. Enquanto isso, Pedrossian disputaria a eleição ao Senado e, caso eleito, pleitearia a vaga futuramente. Esse teria sido o arranjo.

Já eleito, Pedrossian intervém junto ao presidente João Figueiredo (sucessor de Ernesto Geisel) para que fosse nomeado governador o então prefeito de Campo Grande, Marcelo Miranda. Mas a gestão do afilhado político deixara Pedrossian insatisfeito, e ele pediu novamente ao Planalto para mudar o comando do executivo estadual. Desta vez, era ele quem desejava governar Mato Grosso do Sul.

Figueiredo não queria desagradar o antecessor com novas mudanças. Pedrossian precisou viajar ao Rio de Janeiro para ter um encontro reservado com Geisel, e assim obter o aval do ex-presidente.

ATRASOS

O imbróglio político dos primeiros anos teria provocado, na avaliação de Pedrossian, um atraso de 20 anos no processo de desenvolvimento do Estado. Ele afirma que, com a disputa política cada vez mais acirrada, a União teria tirado o apoio prometido, principalmente em relação aos recursos que seriam destinados para obras de infraestrutura.

Sem dinheiro federal, os sucessivos governos tomaram vultosos empréstimos para promover obras públicas, principalmente em pavimentação de rodovias. Indagado sobre o seu papel no processo de criação do estado, Pedrossian disse que nunca foi um entusiasta do projeto.

GARCIA NETO

“Uma barbaridade”. Assim o ex-governador José Garcia Neto define o processo de divisão de Mato Grosso. Para ele, a medida poderia comprometer a viabilidade financeira dos dois estados.

Para tentar demover o Planalto da ideia de criar Mato Grosso do Sul, Garcia Neto preparou um estudo provando que as novas unidades federativas não teriam condições de absorver os custos de mais uma máquina administrativa. "A despesa dobra. Ter uma filial aumenta os gastos. Se Mato Grosso tivesse unido, só perderíamos em receita para os estados do sul", afirmou.