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Sexta-feira, 30 de Setembro de 2011, 15h:15

Crise internacional e capitalismo em Mato Grosso são destaque em Seminário marxista

Embora o sistema capitalista tenha falhas, o socialismo marxista em sua forma original também não é solução

KARINE MIRANDA

Mayke Toscano/Hipernotícias

No primeira dia seminário, na quarta-feira, cerca de 250 pessoas, o que mostra o sucesso do evento

O 1º Seminário Desenvolvimento Social e Econômico de Mato Grosso, o cenário econômico internacional e mato-grossense foram principais pontos de discusão do evento. Com cerca de 250 pessoas, o Seminário promoveu uma mesa redonda cujo tema foi “Um novo projeto nacional de desenvolvimento na perspectiva da esquerda” e explanou as consequências da aplicação capitalismo no Brasil.

A mesa começou, no segundo dia (quinta-feira) com o doutorando em Economia Social e do Trabalho pela Unicamp e diretor de estudos e pesquisas da Fundação Mauricio Grabois, Aloísio Barroso, que mostrou a temática da crise internacional por meio da discussão “Evolução e possibilidade para uma nova agenda civilizatória”. Ele iniciou expondo que a ideia da sua explanação é tratar da crise internacional como significado do contexto do mundo em transição. Isso seria uma nova agenda civilizatória mais estratégica que os países deveriam se debruçar, sendo esta uma questão nacional.

A crise do capitalismo surgiu desde a existência do próprio capitalismo, sendo que eles não são permanentes, mas regulares, pois segundo o doutorando, “as crises se devem a própria natureza anárquica do regime capitalista”. Em 2007, por exemplo, período em que o Brasil passou pela terceira grande crise, tem origens no forte componente financeiro que desencadeou os problemas na economia que ainda mantem reflexos hoje e que possui relação com os processos especulativos que se intensificou a partir da década de 80 trazendo a tona, um capitalismo voltado para finanças.

Isso fez com toda a economia girasse em torno do ganho de dinheiro de todas as formas possíveis sem que houvesse um foco na produção, que deveria ser prioridade de uma nação. Esse chamado capitalismo financeiralizado que direciona sua atuação as questões puramente econômicas de câmbio, moeda, dinheiro e derivativos, por exemplo, está vinculado a dinâmica do capitalismo que vem se intensificando e se mostrando como um “desastre social”, de acordo com o doutorando Aloísio.

Esse desastre resulta na crise do capitalismo que só se resolve as custas dos trabalhadores. “A Europa é um exemplo em que os mais afetados são aqueles que recebem aposentadorias e benefícios sociais”, assegura. Por outro lado, aquilo que o governo arrecada da sociedade é usado para resolver a questão da crise internacional da crise internacional. Segundo Aloísio, o governo tenta suprir o problema dos banqueiros, ou seja, as autoridades políticas buscam minimizar os impactos do capitalismo econômico investindo em setores que deveriam se auto-sustentar. No entanto, esta possível solução atinge uma pequena dimensão do crescimento da economia e da recuperação do emprego que foram perdidos devido ao avanço do capitalismo financeiralizado.

Embora o capitalismo se mostre como prejudicial ao crescimento econômico político e social do Brasil, ele não pode ser totalmente descartado para dar lugar ao socialismo pregado por Karl Marx. Mesmo com as crescentes leituras do filósofo na Europa e nos países desenvolvidos, o socialismo difundido por ele ainda não se mostra como solução para o problema da crise. “A ideia de Marx é mais centrada e faz uma crítica ao capital e a economia, mas isso não significa que seja uma proposta a ser cumprida, pois a referência de Marx é esparsa”, garante. Para ele, a filosofia de Marx só não pode ser colocada em prática, porque “as receitas não se aplicam a países diferentes”. Dessa maneira o doutorando Aloísio Barroso, aponta como única forma de controle do capitalismo, a reconstrução do socialismo, ou seja, uma superação do capitalismo.

Isso porque o socialismo é uma rota estratégica para todo o caminho que leve a elevação da consciência das pessoas que movem a sociedade e do trabalho. Assim, a questão da expansão do capitalismo e da crise esta relacionada ao desenvolvimento desigual da economia. A segunda mesa redonda trata da temática “Mato Grosso no contexto nacional de um novo projeto de desenvolvimento” que foi explanada pelo doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo, Tito Carlos Machado de Oliveira.

Ele inicia sua fala trazendo os fatos ocorridos no capitalismo dos anos 30, que teve função histórica. Ele explica que o capitalismo que vivenciamos hoje já alcançou sua função econômica e os fatores que faltam cumprir seu papel, são apenas, de cunho político. Esse processo faz com que haja dissipação do processo produtivo para a periferia do sistema. “Há uma descentralização do processo produtivo que tem como reforço a concentração do capital”, afirma.

Essa ação faz com que haja a descoberta de regiões que antes não eram tidas como produtivas. “Este é um fator que nem a própria economia consegue entender”, ressalta. No caso de Mato Grosso, por exemplo, o agronegócio tem muito pouco compromisso com a região, pois todos os setores administrativos são externos ao estado na qual a economia externa reage pouco com a economia interna. “Na medida em que não há essa relação fica impedido de criar a inteligência regional”.

Essa ausência da chamada inteligência regional, inviabiliza todo o processo de relação externo no que se refere as melhores condições de desenvolvimento do Estado. O doutor Tito explica que a interação de cabeças pensantes da sociedade regional como as universidades, o comércio local, o governo, entre tantos segmentos de forte atuação em Mato Grosso, territorializa o espaço em que se vive e faz com que os atores regionais interessados em criar um ambiente favorável para o desenvolvimento não permitam que os fatores externos e internos se separem. “Tudo deve estar interligado para que haja desenvolvimento. Isso traz respostas às crises regionais, especialmente porque os lugares que possuem essa inteligência se tornam menos suscetíveis a problemas externos”, avalia.

No entanto, isso não é o que acontece. As inteligências regionais só se manifestam na sociedade quando estão com problemas e quando isso começa a refletir no seu ganho financeiro. “Não devemos mais procurar políticas para resolver nossos problemas econômicos e sociais. É preciso criar políticas para desenvolvimento que deve partir da sociedade e não de camadas que não representam o povo que hoje é o classe política”, finaliza Tito de Oliveira, Doutor em geografia.

É bom ressaltar que 1º Seminário Desenvolvimento Social e Econômico de Mato Grosso termina nesta sexta-feira (30) com a temática “A esquerda e o desenvolvimento de Mato Grosso”. Os debates estão sendo realizados na Universidade Federal de Mato Grosso.