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Sexta-feira, 23 de Setembro de 2011, 17h:29

Dois PMs e empresário estão indiciados em homicídio qualificado

Os três são acusados de matarem com socos e pontapés ex-estudante africano, que pedia esmola em uma pizzaria perto da Universidade Federal de Mato Grosso, onde estudou até fevereiro

HÉRICA TEIXEIRA

Mayke Toscano/Hipernotícias

Estudantes reclamam da estrutura da instituição e pedem postura firme da UFMT na solução dos problemas
Os dois policiais militares e o empresário presos sob acusação de matar o estudante africano, natural de Guiné Bissau, Toni Bernardo da Silva, 27 anos, foram indiciados em homicídio qualificado e doloso (quando há intenção de cometer o crime). Os PM já estão no 3º Batalhão da PM e o Sérgio Marcelo da Silva Costa ainda está na Polinter, mas a qualquer momento pode ser transferido para uma penitenciária de Cuiabá.

Os policiais militares Higor Marcel Mendes Montenegro e Wesley Fagundes, ambos com 24 anos, e Sérgio Marcelo da Silva Costa, 27, mataram o jovem estudante na pizzaria Rola Papo, na Capital. O crime aconteceu por volta das 23 horas da quinta-feira (22).

Os executores prestaram depoimento na manhã desta sexta-feira (23), e após oitivas foram encaminhados para a prisão. O delegado que está conduzindo as investigações é Antônio Esperândio.

O delegado Esperândio foi procurado pela a reportagem, mas não atendeu as ligações. O titular da DHPP. Antônio Garcia foi quem adiantou algumas informações.

A informação é de que mesmo autuados em flagrante pelo crime de homicídio, dentro de 24 horas a juíza pode determinar a liberdade dos presos. O delegado titular da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), Antônio Garcia, disse que é o judiciário que vai determinar se os detidos continuarão presos.

“A lei determina que dentro de 24 horas após a autuação em flagrante é que o juiz tem que determinar se vai manter ou dar a liberdade” argumentou, citando a lei de número 12.403 de maio de 2011.

“Por se tratar de um homicídio pode ser que o caso seja encaminhado para a 12° Vara. A comunicação foi encaminhada para o Judiciário, mas ainda não sei quem é o juiz que vai decidir ou caso e até mesmo se os detidos continuarão presos ou se vão responder em liberdade”, afirmou.

REITORIA

O vice-reitor, Francisco Souto, conversou com jornalistas, logo após reunião com alunos africanos que estudam na Universidade de Mato Grosso, que são amigos do estudante morto.

Francisco explicou que Toni não era estudante da Universidade desde fevereiro deste ano. Segundo o vice-reitor, o aluno tinha problemas de conduta e de comportamento.

“Desde fevereiro ele (Toni) não era mais nosso aluno. Estamos consternados com o acontecido e vamos dar todo o apoio”, declarou, e disse ainda que a reitora, a professora Maria Lúcia Cavalli Neder, está viajando, mas também já tomou conhecimento do caso.

Quando o vice-reitor foi questionado sobre o porquê o estudante ainda estaria em Mato Grosso, mesmo após desligamento do curso, Francisco foi enfático e disse: “Não temos obrigação de mandar de volta ao país, o estudante tinha que se apresentar na embaixada, mas preferiu ficar”.

A pró-reitora de Ensino e Graduação da UFMT, Miriam Serra, disse que já acionou a Polícia Federal para atuar no caso. “Todas as medidas que estiverem ao alcance da UFMT serão tomadas em solidariedade”, disse e ressaltou que a instituição apoia os estudantes.

Miriam afirmou que Toni fazia parte do Programa Estudante Convênio de Graduação (PEC-G), que está voltado para estudantes de outros países fazer graduação na Universidade Federal de Mato Grosso.

Serra informou que para o estudante vir para Cuiabá estudar ele recebe uma bolsa no valor de um salário mínimo (R$ 545), e este dinheiro é para custear alimentação e moradia. A informação da pró-reitora é que a UFMT tem em seu quadro de alunos 12 estudantes africanos que fazem parte do programa PEC-G.

REVOLTA DOS ESTUDANTES

Estudantes da UFMT tomaram corredores da universidade indignados com a situação. Uma estudante de Direito, que preferiu não se identificar, disse que é um “absurdo o que aconteceu. A UFMT não ajudou Toni. A reitoria o desligou do curso, então tinha que ter mandado voltar ao seu país e não foi isso que fizeram”, falou, revoltada com a situação.

Um amigo de Toni, também de Guiné-Bissau, identificado como Hernane Dias, confirmou que o estudante foi desligado do curso. Hernane estava nervoso e pouco falou com a imprensa. “Na reunião que tivemos fomos informados de que a Universidade vai nos ajudar, ainda não sabemos de nada”, apontou.

O estudante morto chegou em Cuiabá em 2006 e cursava Ciências Econômicas na UFMT.

Sobre a argumentação de Miriam Serra, de que todos recebia bolsa, os estudantes contestaram e disse “que não é bem isso que acontece”.

Alunos relataram que nem todos os estudantes recebem bolsa e muitos se queixavam da dificuldade de se manter na Capital. “Essa faculdade não tem biblioteca decente, o Restaurante Universitário (RU) nem sempre funciona, nesta greve mesmo, temos que pagar (alimento). Além de tudo isso, os estudantes ainda tem que arcar com moradia e alimentação”, disse uma estudante que não quis se identificar, temendo represálias.

A reportagem procurou Miriam Serra e ela confirmou que não são todos os alunos que recebem bolsas. A explicação é de que alguns alunos vêm para fazer parte do programa de graduação e comprometem que vão se manter.

“Alguns alunos (africanos) não recebem a bolsa, mas estes vieram para cá e falaram que iriam se manter ou até mesmo os pais os ajudariam enquanto estivessem aqui”, explicou.

A UFMT além dos 12 africanos, ainda têm outros quatros estudantes de outros países. São dois portugueses, um francês e um espanhol, no entanto, estes outros quatro estudantes não fazem parte do mesmo programa de estudo a que Toni fazia.