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Quarta-feira, 14 de Setembro de 2011, 09h:00

Família e afeto

A nova família, que se caracteriza pelas diferentes formas de organização, de relações e um cotidiano pela busca do novo. São arranjos diferenciados, mas são famílias (...) e não significa “desestrutura”.

JANETE GARCIA DE OLIVEIRA

Divulgação

“Não importa a forma como a família se apresenta. O que conta é o afeto entre seus membros.”

Uma das bandeiras que os estudiosos têm levantado para explicar determinadas mazelas sociais, a exemplo da violência urbana, prostituição, uso de drogas, entre outros, é a desestrutura familiar. Quando se ouve isso chega a ser sintomático pois a mente se volta, num primeiro momento, para o modelo tradicional de família formado pelo pai, mãe e filhos, todos aninhados sob o mesmo teto, com estabelecimento de regras e respeito mútuo. Por desestrutura se entende divórcios, mães solteiras, gente sem pai, sem mãe e muitas outras situações. É inegável que esse é o conceito enraizado na cultura do povo e que vem atravessando gerações. Se o termo largamente usado hoje é de “desestrutura” logo se infere que a estrutura desmoronou. Nas famílias, verifica-se esse fenômeno quando ela deixa de se apresentar naquela forma dita “perfeita”. Se esse é o entendimento inicial, é preciso rever os conceitos. A família moderna não se configura mais, tão somente, na descrita acima, que se denomina de nuclear.

Hoje ela não se vincula exclusivamente pelos laços biológicos e se apresenta de forma plural sem, contudo, deixar de ser a célula mãe da sociedade. Existem novas formas de reorganização e de representação. E quais são elas? Além da nuclear ou tradicional temos a família monoparental, aquela em que só o pai ou só a mãe cria os filhos; famílias originadas de união estável; famílias avoengas, em que os avós criam os netos; família parental, constituída por laços biológico ou socioafetivo a exemplo de irmãos órfãos; família homoafetiva, composta por pessoas do mesmo sexo; famílias recompostas: divorciados contraem novas uniões e os filhos anteriores de ambos se entrelaçam, nascem outros e formam um verdadeiro mosaico; família unipessoal ou single, formada pelos que optam em viver sozinhos. Nesse contexto, encontramos a nova família, que se caracteriza pelas diferentes formas de organização, de relações e um cotidiano pela busca do novo. São arranjos diferenciados, mas são famílias. Assim, ao se discutir os conflitos sociais temos que ter em mente que a forma como ela se apresenta não significa “desestrutura”.

Então, como se configura a desestrutura familiar? Resulta da ausência de afeto, elemento fundamental para a formação e manutenção da família. A partir do momento em que os grupos familiares são fortalecidos pelo afeto, pelo amor, a estrutura se firma. Ter uma família chamada de tradicional não é garantia de estrutura. Quantas famílias tidas como “perfeitas” você conhece que vive num conflito interno imenso, infelizes e pobres de diálogo? Por outro lado, pais divorciados, por exemplo, podem tranquilamente se respeitar e continuar cuidando dos filhos com responsabilidade e afetividade. Os problemas surgem exatamente quando não se estabelece esse vínculo.

O que se vê são menores abandonados, filhos no meio do fogo cruzado, crianças perambulando pelas ruas, abandono material e afetivo de seus membros, falta de compromisso com a formação escolar, adultos em pé de guerra alicerçando a relação em colunas de areia e alimentando a ira no dia a dia. Se imperasse o ensinamento bíblico “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jô 15:12) a situação não estava caótica. O afeto funciona como elemento fundamental para a construção e manutenção da família e deixo como dica os versos de Caetano Veloso “quando a gente gosta, é claro que a gente cuida!”.

(*) JANETE GARCIA DE OLIVEIRA VALDEZ é advogada em Pontes e Lacerda-MT, Professora Licenciada em Letras, e colaboradora de HiperNoticias. E-mail: [email protected]