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Sábado, 20 de Agosto de 2011, 16h:00

Muro para os cafajestes?

Uma crise econômica aguda se desenha e o Brasil, às voltas com um mar de escândalos, assiste à indecisão da presidente Dilma, entre enfrentar a corrupção ou, como Lula, adotar a postura do “não sei, não vi”. Isso solapa as forças do governante ...

ARTHUR VIRGÍLIO

Divulgação

 Lisboa – Uma crise econômica aguda se desenha e o Brasil, às voltas com um mar de escândalos, assiste à indecisão da presidente Dilma, entre enfrentar a corrupção ou, como Lula, adotar a postura do “não sei, não vi”. Isso solapa as forças do governante e impede que reaja com rapidez aos fatos, para resolver problemas fundamentais do País.

Lula, que antes, via corrupção em tudo, no Planalto, passou a não ver nada e não saber de nada. Dilma agora demite secretários-executivos e mantém os ministros intocados.

A prisão de 38 funcionários do Ministério do Turismo, a começar pelo secretário-executivo da pasta; o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, mansão milionária em Ribeirão Preto e, agora, o tal jatinho de R$ 7 milhões, tudo obtido a custa de cargos públicos; e Alfredo Nascimento na tribuna do Senado, ameaçando, nas entrelinhas, contar o que sabe, diante dos líderes governistas, que reagem covardemente, com panos quentes, bem ao estilo da República do “rabo preso”.

Menos de sete meses de governo e sete escândalos de porte, num governo que envelhece a olhos vistos.

O exemplo vai se espalhando. Vi na TV, em pequena cidade mineira, os nove vereadores presos e suas esposas investindo furiosamente contra as câmeras e os jornalistas. Uma delas colocava a mão sobre o órgão genital e berrava: “Quer filmar? Então filma aqui”. E um dos vereadores: “Nós somos parlamentares, não vai acontecer nada conosco”. Mais para trás, um prefeito petista do Ceará fugiu de prisão preventiva num ônibus, acompanhado do vice-presidente da Câmara Municipal e mais 34 picaretas.

Dilma Rousseff anunciou não transigir com a ilicitude e contou com o aplauso dos brasileiros. Sua fisiológica base parlamentar, porém, sente-se ofendida com a proposta e reage ameaçando paralisar votações ou apoiar CPIs. Estava acostumada ao sinal verde de Lula para a impunidade.

O próprio Lula, por sinal, sempre que pode aconselha sua sucessora a “tratar bem” os aliados. Leia-se: fazer vista grossa para as “travessuras” de Valdemar da Costa Neto e outros que tais.
O resultado é que Dilma faz o trabalho pela metade: demite o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, mas tentou segurar o titular, Wagner Rossi, protegidodo vice-presidente Michel Temer. Demitiu o secretário-executivo do Ministério do Turismo, mas ainda tenta poupar o titular, Pedro Novais, protegido do presidente do Congresso, senador José Sarney. Glosa a cúpula do Ministério dos Transportes, mas finge esquecer o diretor petista de Infraestrutura. Hipocrisia maior que essa, impossível!

O futuro de Dilma dependerá da forma como ela lidará com a corrupção. As meias soluções lhe minarão a credibilidade. As atitudes insinceras e incompletas terminarão desnudadas diante da opinião pública.

Lula governou sem dúvidas hamletianas: era a favor da delinquência política e ponto. E Dilma? Mais ou menos? Coluna do meio? Muro? Indecisão? Ou impotência pura e simples, diante de uma ordem que ela poderia, mas não quer mudar?

Temo que, hesitante, Dilma acabe virando “murista”. Diante de tudo o que aflorou em apenas sete meses, seu governo periga se tornar um muro para os cafajestes. É esse o lugar que a senhora quer na História, presidente?

(*) ARTHUR VIRGILIO é diplomata, foi líder do PSDB no Senado, e colaborador de HiperNoticias. Twitter: @ArturVirgilioAM