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Sexta-feira, 05 de Agosto de 2011, 10h:35

Tiros, tiros e mais tiros!

A aparente crise entre José Riva e Silval Barbosa é o pano de fundo para que o PSD possa negociar sua participação no Governo do zero, deixando para trás os acordos celebrados anteriormente pelo PP, com a participação de Pedro Henry. Natural e obviamente

KLEBER LIMA

 

Mayke Toscano

 

Uma das mais gratas experiências profissionais que já tive em mais de 20 anos de atuação ocorreu durante os 14 meses em que liderei uma fabulosa equipe de radialistas, técnicos e jornalistas na Rádio Cultura de Cuiabá. Uma verdadeira pós-graduação em radiojornalismo e também em cultura cuiabana.

Entre uma programação e outra, as histórias contadas pelos profissionais mais antigos da emissora, que completou 51 anos de fundação este ano, nos compensavam por todas as dificuldades e, pela tradição oral, resgatavam partes já esquecidas ou ignoradas do grande público sobre a própria história do rádio cuiabano.

Uma dessas histórias, contada da forma mais engraçada possível pelo impagável Willian Gomes, professor e mestre do rádio, desenhava o perfil de outro monstro sagrado do radiojornalismo pantaneiro, Lucas Neto.

Certa vez, quando Lucas Neto apresentava o consagrado Ronda Policial, ao dar uma notícia sobre uma determinada ocorrência, assim o fez – segundo Willian, bem explicado: “No meio da confusão ouvia-se tiros, tiros e mais tiros. O meliante empreendeu fuga. A polícia atrás. Era um pega num pega, pega num pega, pega num pega...”.

Todos morríamos de rir com os trejeitos e o modo absolutamente peculiar de Willian contar essa história, que me veio à memória ao observar os últimos movimentos do cenário político local, especialmente na relação entre Executivo e Legislativo de uns dias para cá.

José Riva desenvolveu uma habilidade incomum de expressar seus desejos políticos e negociar suas posições, acima da média local e quiçá nacional. Há quem aposta que sabe o que ele quer pelo modo como penteia o cabelo (não resisti ao trocadilho). Ao mesmo tempo em que lidera um grupo de deputados numa direção, seu alvo, na verdade, está em sentido contrário. Ou vice e versa. O fato é que, em geral, ele atinge seu intento, mesmo nos deixando nós outros – observadores e analistas – meio desorientados.

De uns dois meses para cá, mais ou menos, Riva tem emitido seus sinais. Ao mesmo tempo em que liderou o movimento pró-VLT, e acabou avalizando ou até mesmo articulando a mudança no comando da Agecopa, em dado momento teceu críticas ao pupilo.

Por outro, levanta questões que aparentemente confrontam o governo, mas, na prática, cria um cenário em que todos os projetos do Executivo são aprovados na Assembleia, depois do impasse que só ele pode resolver. Habilidade virtuosa.

Riva também tem batido em alguns secretários e pedido a cabeça de outros. Declarou na semana passada que assim que o PSD estiver formado, todos os seus membros que eventualmente estiverem ocupando alguma posição no Governo irão entregar seus cargos.

Numa leitura apressada, o caso poderia ser narrado pelo Lucas Neto, porque somos levados a crer que há tiros e mais tiros sendo disparados, e também que há um pega num pega eletrizante em curso.

Contudo, entendo que o sinal de Riva nesse caso é claro como o sol, embora confesse que mais erro do que acerto em matéria de analisar os seus sinais – sempre pendo para o lado contrário ao qual penteia suas madeixas.

Mas, nesse caso, a obviedade nos força a acertar: as posições que Riva possui no governo atualmente são resultado direto da negociação feita pelo PP com Silval Barbosa. São os casos das secretarias de Saúde, Ciência e Tecnologia e Esportes, além de outras posições de segundo e terceiro escalões.

Porém, esse tamanho foi negociado por Pedro Henry, Riva e Chico Daltro. Com a saída destes dois últimos do PP para o PSD, acompanhados de metade dos deputados estaduais pepistas, o novo partido precisa entregar os cargos para sentar novamente à mesa com o governador e restabelecerem um novo tamanho.

A tendência é o PP encolher sua participação no secretariado e o PSD ganhar uma fatia maior do que a que tinha quando dividia os espaços com Henry. A menos que Silval crie mais cargos apenas para contemplar o novo aliado, que nasce mais forte que a média dos partidos da base de sustentação e tem o controle absoluto do Poder Legislativo.

(*) KLEBER LIMA é jornalista, consultor de marketing e diretor do HiperNoticias. E-mail: [email protected]. Twitter: @kkleberlima.