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Quarta-feira, 27 de Julho de 2011, 22h:15

Salve, Padre Renato!

Curiosamente, as mesmas “forças estranhas” que agem a favor da medicina denunciando o exercício ilegal e as práticas do curandeirismo são as mesmas que, da mesma forma sutil e matreira, tentam promover a falência do Plano de Saúde dos servidores

GUILHERME FILHO

 

Divulgação

 

Médicos que atuam no estado atualmente não escondem mais o desinteresse em atender pelos planos de saúde, indistintamente.

Narrativas não faltam de pessoas que têm buscado esse tipo de serviço sem sucesso, por conta da má vontade dos profissionais conveniados. Em geral, percebe-se que os convênios não atraem mais este tipo de profissional, sobretudo aqueles planos de massa, dentre os quais está o Mato Grosso Saúde, responsável pela assistência médico hospitalar a mais de 50 mil servidores do estado.

Nem mesmo os conveniados da própria cooperativa Unimed têm merecido a atenção dispensada em outros tempos, salvo se o cidadão for proprietário de um destes convênios top de linha. Falo de uma atividade que vem se notabilizando pela forma seletiva de exercer o que deveria ser uma profissão de fé, juramentada nos valores éticos e no compromisso social acima de tudo. Uma consulta oftalmológica, por exemplo, em Cuiabá e Várzea Grande, raramente se consegue num prazo menor que 20 ou 30 dias, caso o paciente não disponha de dinheiro para pagar a consulta e dependa do seu plano. A resposta está na ponta da língua: “O doutor está com a agenda cheia” ou então diz que o médico tem uma viagem marcada. Quase sempre, na versão do atendente, o profissional “estaria participando de um congresso”.

Os danos à imagem do profissional médico parece não estar sendo percebidos pela categoria neste momento. Sobretudo pelo envolvimento cada vez mais constante de alguns destes profissionais em episódios não tão dignos ou equivalentes à importância histórica do ofício. Seja em disputa por cargos públicos, campanhas salariais polêmicas que beiram à suspeitas de caracterização política e até mesmo em casos como o que envolveu o psiquiatra Ubiratan, que recentemente foi alvo de acusação de venda de atestados.

Curiosamente, as mesmas “forças estranhas” que agem a favor da medicina denunciando o exercício ilegal e as práticas do curandeirismo são as mesmas que, da mesma forma sutil e matreira, tentam promover a falência do Plano de Saúde dos servidores estaduais desde que ele foi fundado.

Como toda ação gera uma reação, a iminente ascensão da medicina alternativa e da automedicação é uma realidade em Mato Grosso. Aliás, não seria surpresa se a impunidade reinante em outros setores da nossa sociedade de repente tapasse os olhos das autoridades para as práticas paralelas ao exercício da medicina. Nada impossível dado às dificuldades que se tem hoje para acessar o médico.

Imaginemos o retorno dos famosos farmacêuticos práticos como José de Arcênio ou João Moraes, verdadeiras personalidades que atuaram em Várzea Grande e Rondonópolis, respectivamente, nas Décadas de 1950 e 1960, juntamente com as não tão remotas Farmácias São Benedito e Santa Terezinha, em Cuiabá, esta última comandada pelo respeitado farmacêutico seo Odil, que faleceu recentemente, enquanto era processado, acusado de praticar ilegalmente a medicina.

Estes homens fizeram verdadeiros “milagres” com suas prateleiras repletas de medicamentos tradicionais como o Biotônico Fontoura, Solução de Scoth, pomada Minâncora e elixir Paregórico, além dos clássicos xaropes. Mesmo que tenham atuado ilegalmente, eles utilizaram de práticas não menos éticas que os BO’s de hoje vendidos livremente nas modernas drogarias, fabricados muitas vezes em laboratórios de fundos de quintais e distribuídos como “amostras grátis”.

A vítima maior do corporativismo da medicina em Mato Grosso é o Padre jesuíta Renato Barth, naturalista criador do polêmico programa de medicina alternativa Bio-Saúde, que desde 2005, somente na baixada cuiabana, já atendeu mais de 100 mil pessoas. Apesar das campanhas difamatórias e os processos a que responde na Justiça pela prática de curandeirismo, padre Renato não está nem aí.

Enquanto os planos de saúde insistem em dificultar o acesso da população aos serviços médicos tradicionais ele ganha mais adeptos aos seus métodos de cura à base de ervas, argila e até urina. E o mais surpreendente é que apesar da polêmica, o sacerdote demonstra estar preocupado apenas com a pouca estrutura que possui para atender o número cada vez mais crescente de pessoas que o procura na busca da cura para todo tipo de doença.

(*) GUILHERME FILHO é jornalista em Cuiabá. E-mail: [email protected]