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A contemporaneidade é fascinante, sobretudo a hipocrisia: nada somos se não temos, e nada temos se não nos corrompemos. À hipocrisia, vamos ao seu remédio: a ironia. Neste mundo que tem donos, aquela realidade corrupta faz sentido para estes poucos.
O restante sobrevive na marginalidade, não entendem ou não querem entender, não são a favor de nada e tão pouco contra alguma coisa. Calam-se todos, rir até é que permitido, mas nesta democracia atual falar sério sobre o que é público só para autoridade pública.
A vida vai se levando, mas querendo me importar, sem querer ser autoridade, peço uma nova pausa para o olhar o bem público: as árvores, as praças, a água, a saúde, o orçamento, a política, até se chegar a universidade.
Enfim, fácil de lembrar, e difícil de importar, mas vai o lembrete: tudo o que tem público no nome é do povo, é meu e seu por direito. A autoridade que também é pública nos deve satisfação por dever.
O olhar se torna coalho quando você é corrompido para entender esta realidade como os donos do mundo e/ou as autoridades públicas entendem. Não é realmente irônico, a história se corrompendo torna-se óbvia: era uma vez, um lindo lugar chamado Governo, lá depositamos nossa confiança, e o nosso dinheiro. Não precisamos nos preocupar, os governantes fazem tudo direitinho, e não existe maldade na terra dos cidadãos palhaços.
Neste universo paralelo desassociado completamente da realidade social, o tempo é escravo da burocracia, e o espaço é a casa-grande dos políticos. Na burocracia, o tempo das definições é do Judiciário. No espaço, quem encena as discussões é o Legislativo. A definição do roteiro é do Executivo, mas é o controle disso tudo, o Ministério Público?!
Aconteceu é que o controle remoto é da sociedade, mas está sem pilha, não funciona. Este sistema político-jurídico zapeia autonomamente e só curte os canais da corrupção. Sem nada fazer, estamos assistindo um filme de terror sem sentido chamado: a bolha, o domínio da anomalia moral.
No Mato Grosso: privatizaram a saúde, nada fizemos. Mercantilizaram a água, nada sabemos. Tercerizam a UNEMAT, nada questionamos. BRT ou VLT, nada perguntaram. Leiloam os rios, vendem a floresta, e a hipocrisia se fez no passado e está no presente: ao exemplo da terra, tudo o que é público ironicamente não parece, mas já tem dono.
Pare leitor, despertai a atenção, e desça do muro. Você não é e não será milionário, pare de consumir seus sonhos, e comece a se importar. A classe média é quem está pagando a conta, não só com o imposto, mas com o sacrifício da qualidade de vida. Tenha razão crítica e seja feliz ao mesmo tempo, sim este outro mundo é possível!
Marchemos então como nunca, mas, por favor, não mais como cabeças de pastéis. As faixas não podem ser apenas expressões de uma vontade reprimida, são exigências, e não paremos de marchar até que se tornem a realidade social. Sem hipocrisia e ironia.
(*) BRUNO BOAVENTURA é advogado. www.bboaventura.blogspot.com @BoaventuraAdv