Quarta-feira, 24 de Abril de 2024
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png
dolar R$ 5,16
euro R$ 5,52
libra R$ 5,52

00:00:00

image
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png

00:00:00

image
dolar R$ 5,16
euro R$ 5,52
libra R$ 5,52

Artigos Quarta-feira, 15 de Junho de 2011, 20:28 - A | A

facebook instagram twitter youtube whatsapp

Quarta-feira, 15 de Junho de 2011, 20h:28 - A | A

A Amazônia da grande mídia

A imprensa brasileira não conhece a Amazônia. Trata a região que abriga nove estados e mais de 60% do território brasileiro como se fosse uma coisa só, desconsiderando suas diferenças geográficas, econômicas, de biodiversidade, cultural e problemas

ANDRÉ ALVES

Divulgação

O programa Observatório da Imprensa da última terça-feira (14/06), transmitido pela TV Brasil e conduzido pelo jornalista Alberto Dines, fez uma discussão sobre o estranhamento da grande mídia sobre a Amazônia.

Participaram como convidados o cientista político Sérgio Abranches, o antropólogo Alfredo Wagner Almeida e a repórter de meio ambiente Afra Balazina, do Estado de S.Paulo. A tese do programa era a de mostrar as limitações da grande mídia (leia-se os veículos do sudeste) em cobrir o país em sua totalidade, sobretudo a Amazônia.

Os convidados deram uma grande contribuição à discussão mostrando que os problemas da região são muito mais complexos do que a mídia pressupõe. Wagner, coordenador do importantíssimo Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia fez um paralelo sobre o aumento da violência no campo e a revisão no Congresso Nacional do Código Florestal. Abranches falou do enfraquecimento do interesse da mídia pelo tema e a jornalista do Estadão mostrou a dificuldade de se cobrir à distância assuntos delicados e urgentes.

No entanto, algumas abordagens sobre a Amazônia não foram consideradas como se deveria. Apesar do esforço do antropólogo em mostrar esses debates, Alberto Dines sempre voltava a questão da necessidade de mais profissionais dos maiores jornais distribuídos pelo país e em vários momentos criticou a cobertura dos veículos locais.

Ainda que grande parte dos veículos pequenos mereça críticas e que o jornalista é um grande pensador brasileiro, seu enviesamento no programa deixou muitas abordagens interessantes sem serem discutidas.

Uma questão muito importante se refere ao fato de que a imprensa brasileira não conhece a Amazônia. Trata a região que abriga nove estados e mais de 60% do território brasileiro como se fosse uma coisa só, desconsiderando suas diferenças geográficas, econômicas, de biodiversidade, cultural, potencialidades e problemas. Essa limitação é ancorada num outro fator muito preponderante: o mito sobre a Amazônia. É do senso comum conceber a Amazônia como sendo uma grande floresta em que mesmo em capitais como Manaus, Belém ou Cuiabá é possível ver índios andando semi-nus nas ruas e não raro se deparar com uma onça pintada na esquina ou um jacaré saindo da beira do rio.

Mais do que isso, cria-se um imaginário quase onírico ou saído das páginas de José de Alencar sobre os povos que habitam a região. Já faz alguns anos que parei de contar as vezes que algum amigo, familiar ou jornalista fez considerações etnocêntricas sobre comunidades indígenas quando constatam, por exemplo, que em muitas (talvez a maioria das aldeias em Mato Grosso) existem escolas, telefone, televisão e seus moradores andem vestidos. "Nossa, eles deixaram de serem índios", é o que mais escuto. Não necessariamente por maldade e sim por ignorância, mesmo. No sentido literal do termo.

É claro que a Amazônia tem que sair na mídia por conta do desmatamento que voltou a aumentar e a violência no campo que explodiu na mídia, embora aconteça sistematicamente desde antes da morte de Chico Mendes e Irmã Dorothy, em várias regiões. Mas também tem uma riqueza social, cultural, econômica e ambiental que tem que ser valorizada e discutida na mídia com intensidade parecida.

É muito fácil os jornalistas do sudeste criticarem as mídias do norte por não repercutirem tanto os descasos de sua região, embora sofram muito mais de carência de pessoal e infra-estrutura. E sim, e é claro que quase a totalidade das mídias locais pertence ou sofre severas influências de políticos locais que impedem a divulgação de determinados temas. Mas essa censura (às vezes velada, às vezes às
claras) não é privilégio dos pequenos grupos. As grandes corporações de comunicação também evitam assuntos ao máximo ou deturpam de tal maneira temas como Terras Indígenas, comunidades tradicionais e grandes obras de infra-estrutura que reforçam estereótipos e preconceitos de tal maneira que dificulta ainda mais que as vozes dos que precisam gritar sejam ouvidas.

A grande mídia precisa descer do pedestal e de suas torres de marfins e ir mais a campo, contar com jornalistas locais e ouvir fontes mais diversas. Existe um mundo de organizações não-governamentais, associações de assentados, comunidades tradicionais e indígenas que sistematicamente divulgam suas lutas por sites, blogs e emails, que ajudam a diminuir a distância entre os fatos da Amazônia e os jornalistas do sudeste.

A mídia quando quer faz boa cobertura sobre qualquer assunto. E talvez seja esse o verbo que falte às redações!

(*) ANDRÉ ALVES é jornalista em Mato Grosso e especialista em Antropologia. http://pautasocioambiental.blogspot.com/

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.

Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.

Siga-nos no TWITTER e acompanhe as notícias em primeira mão.

Álbum de fotos

Divulgação

Divulgação

Comente esta notícia

Jorge Estevão 18/06/2011

Prezado André, seu artigo aborda com sensatez um grande problema sobre temas relacionados com Amazônia, este substantivo próprio internacionalizado. É triste saber que norte americanos e eutopeus têm mais conhecimento sobre esta rica região que pessoas (de todos segmentos, inclusive jornalistas) das regiões Sul e Sudeste. Sou manauara, adoro Cuiabá, mas, aqui mesmo, já ouvi perguntas, não dos mato-grossenses, mas de lá (Sul e Sudeste) rirem de cidades como Manaus, Belém, Porto Velho, entre outras, pelo simples fato de estarem próximas à floresta, que eles tanto querem derrubar para transformar num imenso pasto ou campos de soja. Jorge Estevão/Editor do Hipernotícias

positivo
0
negativo
0

1 comentários

1 de 1

Algo errado nesta matéria ?

Use este espaço apenas para a comunicação de erros