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Segunda-feira, 13 de Junho de 2011, 07h:00

Crianças praticam trotes no 190 estimuladas pelos pais ou adultos

Do total de ligações de janeiro a abril deste ano, 54% são consideradas ligações ilegais, que prejudicam não só a polícia, mas a própria sociecdade

ALIANA F. CAMARGO

 

Mayke Toscano/Hipernotícias

A coordenadora Daise Backmann, no centro de monitoramento,  diz que a cultura do trote ainda é muito grande

Trote aos números 190 (Polícia Militar) e 193 (Bombeiros) ainda é o grande problema para o Centro Integrado de Segurança Pública (Ciosp). A maioria desses trotes, que no Códgo Penal é crime, é realizada por crianças em horário escolar.

Mesmo a quantidade de trotes tendo caído em 1% de 2010 para 2011, reflexo da ação conjunta entre Secretaria de Segurança Pública do Estado e imprensa, a coordenadora da Polícia Civil no Ciosp, Daise Backmann Morel Luck, 25 anos de profissão, diz que o grande prejuízo, além do financeiro, é o prejuízo à vida.

Daise coleciona histórias que ajudam a entender o grande prejuízo do delito. “No começo do ano, não me recordo o mês, recebemos uma ligação muito convincente (de um adulto), no qual havia um sequestro a um casal na estrada que vai para Santo Antônio de Leverger. No caminho, o pessoa tinha visto dois elementos levando um casal. A partir disso, acionamos todas as viaturas da Rotam (Rondas Ostensivas Tático Metropolitanas), Bope (Batalhão de Operações Especiais), o GOE (Grupo de Operações Especiais), as viaturas mais próximas do local, e até a aeronave Águia 1 foi deslocada para dar o apoio aos policiais em terra. Todos foram até o local que concentra várias chácaras. Chegando lá, nada foi constatado. Esse é o verdadeiro trote, que causa gastos aos cofres públicos, porque além de criar o gasto em dinheiro, há o transtorno em via pública”.

Mayke Toscano/Hipernotícias

Sargento Cleberson do Corpo de Bombeiros e Daise Backmann da Policia Civil revelam que a maioria dos trotes são feitos por crianças em período escolar

Para se ter uma ideia, o governo gasta, para deslocar um helicóptero em um voo de uma hora de operação cerca de R$ 1,8 mil, segundo informações da Secretaria de Segurança.

Mas as campeães em ligações ilegais são as crianças. De Janeiro a abril 2011, das 304.816 chamadas para o  Ciosp, 160.523 foram consideradas trotes (54% em relação ao total de ligações), feitos por adultos, crianças e chamadas não concluídas.

Deste universo, 43.004 foram feitos por crianças (veja quadro). “Observamos que o período das ligações é realizado no intervalo das aulas das  crianças e em todos  os turnos. Temos crianças que ligam 9 horas da noite. Muitas vezes ouvimos a voz do adulto falando o que a criança deve falar”, diz o sargento Cleberson do Corpo de Bombeiros.

“O trote é como jogar o lixo na rua, se não teve aquela educação, você vai crescer com aquela educação que você não teve. As crianças não têm noção do que estão fazendo. Ela acha divertido, tem um número gratuito e eles  vão continuar fazendo porque acham que é normal. Acaba sendo um problema social que atinge sempre o serviço público”, reflete Cleberson.

CAMPANHA

A Secretaria de Segurança Pública (Sesp) está estudando mecanismos para aplicar no segundo semestre, campanhas nas escolas públicas e particulares.

O objetivo é introduzir na discussão do espaço escolar a cultura do trote, a mesma que pode levar as crianças, ao se tornarem adultas, a inventarem algo ou mentirem para prejudicar outras pessoas.

A campanha dentro das escolas é parte do foco. A boa educação sai, na maioria das vezes, dos lares. Pais e mães devem dialogar com seus filhos sobre muitas situações de se fazer uma brincadeira tão perigosa.

A Sesp irá produzir cartilhas e estudar meios para tratar do assunto com criatividade no meio da criançada. “O caminho que a gente traçou é a educação. O trote diminuiu porque fizemos uma intensa campanha com palestras em creches e escolas, então isso aí foi muito divulgado. Queremos continuar este ano porque os gastos com trotes são muito elevados”, comentou Daise.

TROTES ESTRATÉGICOS

Outro ponto relevante na questão do trote são as ligações estratégicas, aquela que é feita por um crimnoso, que entende o aparato da segurança pública e se utiliza disso para desviar a atenção de um crime. “O cidadão do crime conhece o aparato da segurança pública, então eles se utilizam da ferramenta de comunicação tirando as viaturas daquela área para eles cometerem o crime. Por isso que nossos atendentes necessitam fazer algumas perguntas no chamado procedimento padrão”, diz sargento Cleberson.

Os trotes estratégicos são mais normais e recorrentes do que se imagina. Na dúvida de ser trote ou não, o Ciosp sempre manda uma viatura para a ocorrência.

CRIME

O trote é previsto no Código Penal e prevê punições aos pais das crianças e aos adultos que praticam, com sanções rigorosas. O trote é previsto pelo artigo 266 e a prisão chega até três anos e multa, que varia de acordo com a gravidade do delito e pode ser aplicada em dobro, caso tenha prejudicado alguma operação para salvar vidas.

Gabriel Soares/Hipernotícias
TRABALHO

Diariamente o Ciosp recebe de três a 5 mil ligações. Mais de 50% são de pessoas que fazem ligações para atrapalhar o trabalho dos 70 atendentes, que se revesam em cinco períodos. “Tem muitas pessoas que não tem o que fazer. Muitas confundem o nosso trabalho e acreditam que aqui é o CVV (Centro de Valorização da Vida) e querem conversar. Às vezes querem falar mau do vizinho e como não tem ninguém para ouvir acabam ligando para cá. É por falta de ter o que fazer”, argumenta Daise Backmann.

O Ciosp foi criado em 2004 e desde a sua implantação até 2007, do total de ligações, cerca de 65% a 70% foram consideradas trotes. O centro recebe atendimento através dos números 190 e 193, que são para ocorrências, e pelo 197, que é destinado especificamente para denúncias.

O Ciosp integra as policias Civil, Militar, Corpo de Bombeiro, Guarda Municipal de Várzea Grande e o atendimento por telefone é terceirizado. A equipe que trabalha no atendimento direto passa por cinco meses de treinamento.
 
Apesar da diminuição das ligações ilegais, Daise Backmann pede que os infratores pensem melhor antes de aplicarem o trote. “Todo mundo, crianças, pais e adultos, devem pensar antes de fazer um trote porque está dificultando a vida de alguém que está realmente precisando de nossa ajuda. Da ajuda de uma viatura, do socorro de um bombeiro. Eles devem se conscientizar de que estão fazendo algo errado. Fazer trote é crime”, conclui.