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Sexta-feira, 18 de Setembro de 2020, 09h:58

Memórias do Eng. José Brunello Bombana – Final

NEILA BARRETO

ARQUIVO PESSOAL

NEILA BARRETO

Em diversas oportunidades, a SANEMAT foi chamada a desempenhar funções do Estado, suprindo as municipalidades sem recursos, no atendimento de populações desassistidas, em emergências ou abastecimentos a título precário. Como exemplo, podemos citar Nortelândia (MT) e Alto Parnaíba (MS), localidades nas quais os moradores estavam sem água, devido à contaminação de seus poços domésticos. Como solução emergencial, a SANEMAT providenciou uma bomba movida a diesel, que, colocada sobre um flutuante de tambores na margem do rio, recalcava para uma pequena linha de distribuição ramificada.

Outro caso interessante foi Paranatinga (MT), à época distrito de Chapada dos Guimarães, distante cerca de 400Km da sede do município, sem estrada alguma, acessível apenas por avião de pequeno porte, capaz de operar em pista de terra muito precária. Neste local, abrira-se um novo garimpo de diamantes, com mais de mil pessoas trabalhando sem qualquer suprimento de água potável. A única solução possível foi captar água em um riacho próximo, ainda não poluído pela atividade garimpeira e aduzi-la a uma torneira pública. Nestes casos, uma das maiores dificuldades para implantar qualquer obra, não era a falta de recursos no local, mas sim a falta de mão de obra, pois os raros operários existentes, tão logo recebiam algum pagamento, abandonavam o serviço e iam para o garimpo, na esperança de encontrar um tesouro.

Quando o eng. José Brunello Bombana, lá esteve, em companhia do prefeito, encontrou duas pessoas das quais nunca mais me esqueceu: uma freira de fala alemã, que sozinha, cuidava de um ambulatório improvisado, único atendimento médico no local.  Ao chegar, notei que ela trazia na cintura, um revólver 38. Espantado, perguntou-a o porquê de estar armada, tendo ela respondido que à noite, o posto médico havia sido roubado, por algum desclassificado. E que ela não permitiria que isto se repetisse. O outro personagem que me chamou a atenção, foi um mascate turco que lá estava estabelecido, sozinho, sem falar português e recém-chegado de sua terral há apenas 05 dias. “ Nunca consegui entender como fora ele parar em Paranatinga”, recordou Bombana.

De um modo geral as obras não apresentaram dificuldades técnicas para sua implantação, mas dois casos são dignos de nota, informou Brunello Bombana : A Tomada d’água de Cuiabá – originalmente, o projeto previa uma torre oval implantada no leito do rio Cuiabá, com as bombas submersas de eixo prolongado colocadas em seu interior, do qual partiriam 3 linhas adutoras de ferro fundido, internamente revestidas com cimento centrifugado. As 2 primeiras, com 550mm de diâmetro, saindo da casa de bombas, atingiriam a margem por uma pequena ponte de concreto, seguindo por um aterro na várzea até a margem firme; e daí para diante, seria enterrada até a estação de tratamento.

Ocorreu, porém, que a sondagem feita por uma firma especializada, providenciada pela empresa Guandu, mostrava uma camada impenetrável em toda a extensão da obra, em uma profundidade de 3 a 4m. Em função disso, a solução foi construir a torre de tomada com fundação direta sobre a camada e a ponte apoiada em pilares com sapatas. Feita a ensecadeira no local, a empresa contratada iniciou a concretagem das fundações, mas com a chegada das chuvas e o aumento do nível do rio, as sapatas já concretadas afundaram, bem como um pesado trator do DEER – Departamento de Estradas e Rodagens que trabalhava no local.

Toda a várzea ficou alagada, destruindo o aterro já feito. Reestudado o assunto, verificou-se que a camada impenetrável era um conglomerado de cascalho de alguns metros, sob o qual existia uma camada de argila arenosa que perdia totalmente sua capacidade de suporte com a alta do lençol freático. A torre foi substituída por 5 tubulões de 2,2metros de diâmetro, dentro de cada um, dos quais ficava uma das bombas, tendo sido a ponte estendida até o final da várzea, com apoio em tubulões cravados a ar comprimido. Para cravar os primeiros tubulões, ainda no final da estação das chuvas, durante a etapa de concretagem, os mesmos tiveram que ser amarrados em estacas laterais para não afundarem com o próprio peso.

Outro, foi a Tomada d’água de Corumbá (MS). O projeto previa uma casa de bombas a montante da foz do canal do Tamengo altamente poluído, no rio Paraguai, daí seguindo a adutora para a Estação de Tratamento. Iniciadas as obras, a SANEMAT foi informada que a travessia do canal do Tamengo não podia ser efetuada por uma simples passarela apoiada em estacas, como planejado, pois em função de um tratado internacional com a Bolívia, o Brasil deveria manter as condições de navegabilidade do canal, como saída daquele país para o rio Paraguai. Como este acordo previa um gabarito mínimo para embarcações, foi preciso substituir a passarela por um arco de concreto sobre o qual passa a adutora, descrevendo um sifão.

Assim, a companhia de saneamento sobreviveu às dificuldades orçamentárias para o Estado de Mato Grosso, determinando novas negociações com o Banco Nacional de Habitação, órgão no qual a SANEMAT possuía elevado conceito, por ter sido a primeira empresa estadual de saneamento a cumprir as metas contratadas.

Nesse período, as obras de saneamento estavam, então, nas seguintes fases: • implantadas as estações de tratamento de Corumbá e Cuiabá; Encerrada a 1ª etapa das ampliações das redes de captação, adução e distribuição de Cuiabá; Terminados, ou em fase final, os sistemas menores; Tomada de Corumbá, pendente de solução.

Após ter cumprido a sua missão na Sanemat, o eng. José Brunello Bombana, foi requisitado em 26 de setembro de 1969, pelo Banco Nacional de Habitação, com sede no Rio de Janeiro, para assumir na sede do banco, a coordenação técnica do SISTEMA FINANCEIRO DO SANEAMENTO, responsável pelo acompanhamento das obras financiadas pelo BNH, em todo o Brasil.

Assumindo os novos encargos no BNH, passei a passou a presidência da SANEMAT para o Eng. OSCAR JOSÉ DE CASTRO LACERDA, que respondeu pela mesma, até a eleição e posse do novo presidente, o General AUSTREGÉSILO HOMEM DE MELO. Nesta oportunidade, o Diretor Administrativo NILSON REIS, havia retornado a Minas Gerais, tendo assumido suas funções, o Coronel ALBERTO VERLANGIÈRE DE CASTRO.

Como executivo do BNH, o eng. José Brunello Bombana pôde ainda, viabilizar ajuda técnica e financeira para a conclusão dos programas do Estado de Mato Grosso para a SANEMAT, segundo o que aquela instituição podia proporcionar.

Ao Eng. José Brunello Bombana os nossos agradecimentos.

 

(*) NEILA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]