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Segunda-feira, 29 de Junho de 2020, 18h:40

Com 102 casos e 20 mortes, Xavantes temem serem dizimados pelo coronavirus

Rhayssa Carvalho

Divulgação

Aldeia Xavante


Com mais de 102 casos notificados de Covid-19 e 20 mortes registradas até esta segunda-feira (29) nos nove territórios da comunidade Xavante, na região de Barra do Garças (MT), integrantes das aldeias temem que seu povo seja dizimado pela pandemia do coronavirus. O alerta em tom de desafabo e denúncia foi feito pelo líder Rafael Wérée, neto do Cacique Mario Juruna, o primeiro deputado federal indígena do Brasil, falecido em 2002. Rafael é representante da comunidade e morador da aldeia São Marcos, localizada entre os municípios de General Carneiro e Barra do Garças.

“Meu povo está sendo dizimado com o coronavírus e nenhum protocolo está sendo aplicado para o povo Xavante. Nenhuma orientação do que se deve fazer o que não deve fazer, meu povo senti apenas a dor da perda e o medo pela própria vida. Não tem médico, nem estrutura, nem uma campanha sendo feita para ajudar, é triste”, afirmou Rafael Wérée a HiperNotícias, por telefone. Segundo ele, falta orientação adequada por parte das instituições responsáveis.

De acordo com Rafael, a população Xavante é de cerca de 23 mil pessoas que vivem na comunidade, divida em nove territórios, constituindo-se atualmente na quarta maior população indígena do País.

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Rafael Wéré

 Rafael: temor pelo povo

Rafael contou ainda que a população está sem medicamentos, cama e respiradores para atender aos infectados, o que agrava ainda mais o serviço de atendimento público das cidades vizinhas.

Nesta época do ano, diz ele, os xavantes costumam realizar vários rituais, como o de perfuração da orelha, que marca a passagem da adolescência para a vida adulta, como o que ocorreu há cerca de duas semanas na aldeia São Marcos, em Barra do Garças. Em um vídeo gravado por um morador da aldeia é possível ver que não há o distanciamento mínimo recomendado de 1,5 metro entre os presentes e que ninguém está usando máscara de proteção, gerando mais preocupação, afirma Rafael.

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TRATAMENTO DOS INDÍGENAS

A secretaria municipal de saúde de Barra do Garças divulgou neste domingo (28) que 18 dos 33 leitos da Unidade de Pronto atendimento (UPA) e 8 leitos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital municipal estão sendo ocupados por pacientes da aldeia.

Dos oito óbitos notificados em Barra do Garças no fim de semana, segundo a secretaria de Saúde, quatro foram indígenas. A cidade conta com 211 casos confirmados do Covid e 20 óbitos, sendo a maioria de indígenas, conforme o boletim divulgado nesta segunda. Há outros 11 óbitos de pacientes de outras cidades da região, já que Barra é sede do Consórcio de Saúde Garças/Araguaia.

SOS Xavante

Nesta semana foi lançada uma campanha nacional encabeçada pelo ator Marcos Palmeira. Denomiada SOS Xavante, a campanha visa a doação de medicamentos, camas e tendas.

“Essa campanha é específica para o povo Xavante, que está lutando há 80 anos. Um dos povos mais guerreiros do Brasil. Então, é muito importante que você colabore, ajude, para que esse povo consiga passar por essa pandemia com o mínimo de dignidade”, afirma o ator em suas redes sociais.