Divulgação |
Uganda. País de população negra, de natureza exuberante, localizado em região de planaltos, no centro-leste do continente africano. É lá que vive o gorila-das-montanhas, espécie severamente ameaçada de extinção, primata cuja constituição orgânica é a que mais se assemelha à humana, depois do chimpanzé.
Uganda só conquistou a independência da Inglaterra em 1962. Tem cerca de 30 milhões de habitantes, fala 39 línguas, sendo oficiais o inglês e a suaíli.
Essa terra africana esculpe homens deslumbrantes e singelas princesas. É lugar de gente muito bonita, forte, preta, de olhos redondos, tipo jaboticabas, largos sorrisos alvos. É lugar das tranças no cabelo, das roupas coloridas, de belas paisagens.
É lugar também de gente muito empobrecida, onde 33,2% da população não sabe ler e escrever. Lugar de históricos conflitos políticos. De fome e enfermidades básicas, como as causadas pela desnutrição e inanição.
São cristãos 83,9% dos ugandenses, que também mostram-se místicos e respeitam seus curandeiros, talvez até mais que médicos alopáticos.
Em extensão territorial, a Uganda tem a metade do Paraguai, apenas.
Uganda, capital: Campala!
É nesse país que o diretor Kevin Macdonald mergulha os atores Forest Whitaker, 50 anos, e James McAvoy, 32, em um drama histórico, baseado em fatos reais. O filme “O Último Rei da Escócia” (2006/Inglaterra-EUA) narra, buscando ser verossímil, o golpe de estado que elevou ao poder o militar Idi Amin Dada, em 1971.
Whitaker simplesmente incorpora o ditador Amin, carismático e paranóico líder populista, que faz o discurso de tirar a Uganda da profunda miséria e transformá-la em um país livre, livre!!! Livre!!!!
Nos bastidores, porém, mostra-se um líder inseguro, imaturo, inconsequente, egocêntrico e sanguinário.
Nessa farsa entre discurso e prática, Amin comandou a Uganda até 1979 e matou 300 mil ugandenses das formas mais violentas imagináveis nos porões e em silêncio, como em todas as ditaduras.
Na trama, McAvoy vive um vibrante médico escocês, que é a parte ficcional permitida pelo diretor. Depois de formado, após um jantar entediante com os pais – escoceses tradicionais – o rapaz entra para o quarto, mostra-se sufocado com aquela vida batida, ao ponto de dar um berro bem alto. Depois, roda um globo terrestre e, em seguida, resolve se mudar para o lugar onde o dedo aponta: Uganda! O personagem se anima com a possibilidade de ser útil...
Dr. Nicholas Garrigan, embora não passe de um aventureiro bem intencionado, acredita no discurso do ditador Amin e vai prestar serviços ao governo, sendo de fato útil, isso sim, a um déspota populista, sem perceber. Demora muito tempo para o médico conhecer o sangue no subsolo do governo Amin e vê isso da pior forma possível, sendo também vítima da violência e do punho que, vez por outra, assola países, seus povos.
O filme, além de ser uma história incrível e da interpretação brilhante dos atores, faz pensar sobre os riscos do discurso populista mascarando realidades, esvaziado em si mesmo; sobre farsas políticas e traições, que são muitas; sobre as várias formas de ditadura possíveis, que são tantas...inclusive as que parecem não ser e são, enquanto outras, que parecem ser, não são.
O filme faz ainda pensar sobre o tanto que o cinema é uma arte fantástica, educativa, divertida, envolvente e urgente.
(*) KEKA WERNECK é jornalista em Cuiabá e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso.