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Terça-feira, 24 de Julho de 2012, 11h:51

Como non?

Andando alguns dias por nossa querida Cuiabá, percebe-se com clareza e sem muito suor, mesmo sob sol escaldante, quais os principais problemas e suas soluções em todos os setores públicos municipais. Não é preciso ser um expert nem utilizar instrumentos

ÉZIO OJEDA

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Andando alguns dias por nossa querida Cuiabá, percebe-se com clareza e sem muito suor, mesmo sob sol escaldante, quais os principais problemas e suas soluções em todos os setores públicos municipais. Não é preciso ser um expert nem utilizar instrumentos sofisticados para medir as carências e mazelas que saltam à frente de qualquer observador.

Desde o centro, antigo e moderno, se é que este último existe,   até a mais longínqua periferia, podemos constatar que a situação desta Terra de Dom Aquino está um verdadeiro caos. Ruas de cima, meio e baixo deixaram há muito tempo de ser trafegáveis. Bobeou, tropeçou, caiu. Com calçadas estreitas e recheadas de imperfeições, um pedestre desatento como deveria estar em um passeio, corre grande perigo de parar em um dos corredores sombrios do Pronto-socorro. Mas ainda não quero comentar sobre a nossa Saúde Pública... Ô, coitada!

A cidade cresceu significativamente nas últimas décadas, sem organização, sem prospecção, sem visão empreendedora. Quem é filho daqui sabe a dor que sinto quando assisto tamanha desordem. Com um tiquinho de estratégia, nem digo amor porque aí já seria pedir demais aos nossos gestores, teríamos uma realidade bem diferente. Somos o comando administrativo de um Estado pujante, promissor e destaque nacional em produção de grãos, no entanto, por falta de administração permanecemos estagnados no cenário político-social. Como um adolescente que não sabe o que fazer com sua mesada, gastamos verba e propaganda com tapa-buracos, reformas de fachada de hospitais, mantemos as casas sem esgoto, um trânsito que não conseguirá subsistir até os próximos cinco anos, sendo otimista... Enfim, Cuiabá merece bem mais!

Como um caolho em terra de cego, um gestor que tiver o mínimo de visão e boa vontade para corrigir os descaminhos acumulados pelas eras de Palácio Alencastro, terá além do irrestrito aval dos cidadãos outrora alienados, condições plenas de fazer história neste município e sagrar-se coroado pela mão calejada do eleitor.

Está chegando a época das eleições. Assistiremos, dependendo da paciência e da qualidade dos atores televisivos, diversas promessas e algumas lorotas descaradas para conquistar apenas votos. Projetos sérios de trabalho será raridade. E é justamente por isso que continuamos onde estamos!

Tudo continua do mesmo jeito, quando estourou nos principais jornais do país o estado de nossos doentes, desamparados e morrendo nos corredores e calçadas daqueles que deveriam ser serviços-modelo de atendimento sanitário. Não vem verba? O Estado está falido? Ou negócios escusos contribuem para tudo permanecer convenientemente como é?  Talvez os milhões aplicados em propaganda ou envolvidos em escândalos improbos possam nos nortear na busca de alguma resposta. Conhecendo a problemática como profissional da área, sinto mais ainda. Sei que pode ser diferente, mais humano.

Temos que valorizar o servidor público, investir nas condições de trabalho! Ninguém enxerga isso? Como exigir resultado de alguém que só conta com a coragem, uma caneta bic com tampa mordida e um salário de fome para cumprir seu dever? Como aturar um programa de gestão onde filas inacabáveis lotam as policlínicas e não se oferece o básico? CUIABÁ ESTÁ SEM PEDIATRA NA REDE PÚBLICA, GENTE! NINGUÉM VÊ? A conquista da taça pelo Corinthians teria tapado nossos olhos? Sim, pois é mais fácil mobilizar o brasileiro para o futebol que para lutar pelos seus Direitos Fundamentais! Pão e circo, tudo que Nero (37d.C.-68 d.C.) oferecia e muitos outros governantes, imitando-o, querem oferecer a sua plebe.

Por isso que posterguei este assunto, fico muito revoltado com tanta insensibilidade. Crianças, pelo menos as crianças tinham que ser poupadas!

Aproveito para fazer-lhes um convite: prefeito e todo secretariado: façam um tour pelo Praeirinho. Lá temos um exemplo de como se prolifera o mosquito da Dengue, ratos, baratas e todo tipo de peste. Um deságue gigante de lixo e imundície é realizado há anos em nosso moribundo Rio que nasce limpo em Rosário Oeste e chega podre aqui.

Tenho certeza que se Monteiro Lobato chegasse aqui nestes tempos, não diria o que disse. Nossos ícones da cultura seriam esquecidos do seu discurso lisonjeiro por conta da fedentina do leito fluvial onde atracou seu áqua-plano, na primeira metade do século 20.

Dom Francisco de Aquino Correia (1885-1956) e o Professor Ezequiel
Pompeu (1888-1966) Ribeiro de Siqueira ficariam no ostracismo do ilustre e renomado membro da Literatura Brasileira, de que se reconhece não ser pouco um verbete que seja de elogio.

Infelizmente, não é possível abarcar toda a problemática em um só artigo. Para tal intento, somente um livro comportaria tantas letras, palavras, frases e orações.

Penso, enfim, que juntos e conscientes do nosso papel de formadores de opinião e da mais alva Cidadania, aproveitando esse mar de dinheiro que adentra o cofre estatal, temos todas as condições de reconduzir o barco. Esta terra de pessoas simples e humildes, porém, cheia de honra e desejo de crescer merece mais respeito.

Plagiando o saudoso e brilhante humorista de “tchapa e crush", Liu Arruda (57-99) com o orgulho de ser o médico que assistiu seu último suspiro em um plantão da gloriosa Santa Casa de Misericórdia, no dia 24 de outubro de 1999, faço coro: “como non”?!

 

(*) DR. ÉZIO OJEDA, médico e advogado membro da Comissão de Direito Sanitário da OAB/MT