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Sábado, 30 de Abril de 2011, 12h:37

Onde está a “Internet para todos”?

A democratização da internet deve ser uma bandeira de todos. Penso agora, onde está a “Internet para Todos”? Um projeto da prefeitura de Cuiabá que atenderia 67 bairros da capital, cujo objetivo é proporcionar a inclusão digital com qualidade?

ALIANA CAMARGO

 

Arquivo Pessoal
No mundo da conectividade quem fica longe de um acesso a banda larga parece perceber certo deslocamento social. Se antes as atenções eram voltadas para programas televisivos, as exigências passam a ser o universo da internet. A célebre frase de René Descartes se ajusta perfeitamente ao nosso cotidiano. Agora se “estou conectado, logo existo” fundamenta a existência dos urbanóides e porque não dizer também da vida de muitas pessoas do meio rural.

Basta pensarmos que os bancos funcionam através da rede, os supermercados, muitos sistemas de energia, os tratores de colheita, as transações internacionais, os fluxos culturais, é tanta coisa que não caberia neste pensamento.

Com a contribuição do pesquisador português Manuel Castells, entendemos que a “geografia da produção da internet é a geografia da inovação cultural que [...] sempre esteve centrada nos principais centros urbanos do mundo e continua a estar”.

As potências geradas pela internet por conta do seu dinamismo, interatividade, interconectividade e tantos outros adjetivos que se agregam a rede é uma forma importantíssima de desenvolvimento das cidades atuais. Segundo Castells, as cidades que não se preocuparem com a universalização da banda larga se configurarão como uma “cidade de concreto”, estagnada, sem mecanismos de troca, principalmente do conhecimento.

Diferente de muitos países como Estados Unidos e China em que a banda larga chega a ter uma velocidade de até 2.000 vezes maior do que a que temos aqui, o Brasil caminha a passos lentos, ainda sem chegar a um consenso sobre o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

A presidente Dilma Rousseff alterou, em abril deste ano, o PNBL, que exigia os mirrados 600 kbps de conexão para 1 Mbps (megabit por segundo) pelo preço de R$ 35. A briga maior é que as teles querem que o governo pague a maior parte do sistema de cabeamento de fibra ótica, o que seria uma discrepância sem precedentes. No fim, pagaríamos com grande percentual o trabalho que as empresas devem executar. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, anunciou no dia 20 deste mês que o governo quer investir R$ 1 bi por ano até 2014 na infraestrutura da banda larga para tentarmos alcançar o padrão internacional.

É um contra senso querermos o desenvolvimento horizontal do Brasil sem que haja um esforço, por todas as partes, de levar a banda larga para lugares que precisam entrar na rota da criatividade cultural, da produção de informação, do conhecimento permitido pela rede.

Enquanto países estão na vanguarda tecnológica, construindo ambientes inteligentes, estamos ainda discutindo o plano que deverá ser implantado. As teles, aqui no Brasil, fazem exigências como a liberação do mercado de TV a Cabo, a venda de linhas telefônicas com taxas de assinaturas, constituindo a venda casada e até mesmo as coberturas de conteúdos televisivos, como o Brasileirão. Essas exigências, que para as empresas são “contrapartidas” estão gerando impasses com o Governo Federal.

No dia 25 de abril o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou campanha “Banda Larga é um Direito Seu!” (confira aqui), um esforço em defesa da internet como um direito fundamental. A transmissão ocorreu em plenárias nas cidades de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e ao vivo para todo o Brasil.

A democratização da internet deve ser uma bandeira levantada por todos. Penso agora, onde está a “Internet para Todos”? Um projeto da prefeitura de Cuiabá que atenderia 67 bairros da capital, cujo objetivo é proporcionar a inclusão digital com qualidade? Espero, sinceramente que esteja a todo vapor, espero...

(*) ALIANA CAMARGO é comunicóloga, jornalista, mestranda na UFMT e repórter de Hipernoticias. E-mail: [email protected].