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Sexta-feira, 15 de Novembro de 2019, 17h:00

Lúdio diz que "centro-esquerda" tem bons nomes para disputa de prefeitura em 2020

FERNANDA ESCOUTO

Assessoria

ludio cabral

 Lúdio é deputado estadual por Mato Grosso

Em entrevista exclusiva ao HNT/Hipernotícias, o deputado estadual Lúdio Cabral, hoje um dos principais representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) em Mato Grosso, afirmou que a sigla vem trabalhando internamente com diversos nomes  para a disputa eleitoral de 2020, entre eles o do ex-juiz federal Julier Sebastião, que deve se filiar à legenda nos próximos dias. 

O parlamentar, que não faz parte da base governista, reconhece a força do chefe do Executivo Mauro Mendes (DEM) na Assembleia Legislativa, porém destaca que a oposição tem conseguido "marcar posição e pontuar as questões que precisam ser modificadas". 

Ainda na entrevista, Lúdio fala sobre a possibilidade de o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) se livrar dos processos judicias e tornar-se candidato ao Palácio do Planalto, em 2022.

"As pesquisas que avaliam a aprovação do mandato do presidente Jair Bolsonaro, mostram que ele tem a pior avaliação, entre todos os presidentes no primeiro ano de mandato. No caso do PT, o que nós precisamos é nos reconectarmos com as bases da população trabalhadora, com as comunidades", disse. 

O petista também comentou sobre a relação conflituosa entre o governador do Estado e o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB). Para ele, as divergências devem ser resolvidas com maturidade e diálogo.

Confira o bate-papo com o deputado estadual abaixo:

HNT/HiperNotícias - O governador Mauro Mendes (DEM) conseguiu aprovar boa parte dos projetos na Assembleia Legislativa (ALMT). Vê isso como força do governador ou falha da oposição?

Lúdio Cabral - Força do governador, que tem uma ampla maioria de deputados que lhe apoiam aqui na Assembleia Legislativa. Nós da oposição, em todas as propostas que o governo encaminha, temos conseguido, pelo menos, marcar posição e pontuar as questões que precisam ser modificadas, e em algumas situações conseguindo alcançar resultados positivos. Um exemplo aconteceu nesta semana: eu analisei o parecer de um projeto que o governador encaminhou à Assembleia com o objetivo de tratar do parcelamento de débitos do IPVA. Embutia um dispositivo para dificultar a isenção do IPVA para pessoas com deficiência. Nós, da oposição, identificamos esse dispositivo e apresentamos emenda para corrigir isso. Felizmente, conseguimos evitar que esse direito de parcela da população fosse perdido.

HNT/HiperNotícias - Deve haver dificuldades para o Executivo em aprovar o projeto da Reforma da Previdência na Assembleia?

Lúdio Cabral - Acredito que sim. Primeiro, porque há uma bancada de servidores públicos aqui na Assembleia, temos um bloco aqui. É um tema muito sensível. Hoje, há uma CPI na Casa tratando da Previdência. Minha posição é que qualquer proposta do governo só seja encaminhada depois que essa CPI concluir seus trabalhos com apresentação de um relatório.

HNT/HiperNotícias - Em outras legislaturas o ex-presidente da Casa de Leis, Guilherme Maluf, foi muito criticado. Os deputados diziam que ele era submisso ao governador da época, o Pedro Taques (PSDB). Como avalia o atual presidente, Eduardo Botelho?

Lúdio Cabral - Nós temos um regimento que é bastante democrático e que dá muito espaço para oposição e para as minorias exercerem o seu papel. O atual presidente tem buscado respeitar o regimento. Não posso falar de experiências anteriores, porque estou deputado há nove meses. O único presidente com quem eu convivi é o Botelho mas, pelo menos, respeitar o regimento ele tem respeitado. O uso do regimento nos permite cumprir na média o nosso papel.

HNT/HiperNotícias -Como parlamentar, como o senhor analisa essas constantes alfinetadas entre o prefeito da Capital, Emanuel Pinheiro, e o governador Mauro Mendes? Essa relação conflituosa não pode atrapalhar o desenvolvimento do município?

Relação entre Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro: "Isso é ruim para o município, porque os dois são políticos experientes, que foram aliados até pouco tempo atrás, que têm uma responsabilidade com 700 mil habitantes, que é a população de Cuiabá, e precisam trabalhar em sintonia"

Lúdio Cabral - Isso é ruim para o município, porque os dois são políticos experientes, que foram aliados até pouco tempo atrás, que têm uma responsabilidade com 700 mil habitantes, que é a população de Cuiabá, e precisam trabalhar em sintonia. A disputa política entre os dois pode prejudicar a população e eles têm maturidade suficiente para resolver isso. Aliás, só se resolve isso com maturidade e diálogo, pensando na população.

HNT/HiperNotícias - O ex-juiz federal Julier Sebastião anunciou que deve ser filiar ao PT no próximo dia 19. Ele chega como candidato a prefeito das eleições de 2020?

Lúdio Cabral - Nós fizemos o convite ao Julier para que ele se filiasse ao PT e será uma opção de qualidade para disputar a prefeitura. Não há, nem da parte dele, qualquer tipo de imposição, e nem da parte do PT qualquer tipo de condição para a filiação dele. Ele vem para representar uma alternativa aos projetos apresentados pelo grupo do atual do prefeito e do grupo do atual governador.

HNT/HiperNotícias - Há chances de o senhor ser candidato a prefeito de Cuiabá nas próximas eleições?

Lúdio Cabral - Eu não serei candidato a prefeito. Essa decisão já foi tomada, bem tomada e bem amadurecida. Não serei.

HNT/HiperNotícias - Nos bastidores também se comenta sobre uma possível aliança do PT com o PROS, que hoje traz como principal pré-candidata a secretária-adjunta de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon-MT), Gisela Simona. Há possibilidade de o PT entrar como vice nessa chapa?

Lúdio Cabral - Há vários bons nomes no campo da centro-esquerda. O Julier, o maestro Fabrício Carvalho, a professora Maria Lúcia (ex-reitora da UFMT), a Gisela, o Arquimedes, a Edna Sampaio, a Rosa Neide [deputada federal]... Há vários bons nomes mesmo. Na minha opinião, a prioridade é definirmos pontos em comum que nós temos e pensar em um projeto para a cidade, para a partir daí identificar nomes. Qualquer formato de chapa, que contemple um projeto alternativo para a cidade, tem que ser considerado por todos os partidos. Nós queremos um projeto que fortaleça a democracia, que fortaleça a participação popular e que priorize políticas públicas. O que não cabe nisso é ódio e as posições da extrema direita, essas não cabem.São incompatíveis com a concepção de projeto que temos para Cuiabá.

"Eu não serei candidato a prefeito. Essa decisão já foi tomada, bem tomada e bem amadurecida. Não serei.

HNT/HiperNotícias - Como o senhor avalia essa proposta do presidente Jair Bolsonaro que pode extinguir 34 municípios em Mato Grosso? 

Lúdio Cabral - É uma cortina de fumaça para tirar atenção dos maiores danos que constam nesse pacote de emendas constitucionais que ele apresentou. O maior dano está exatamente em retirar recursos da Saúde, Educação, das áreas que são essenciais, por meio da desvinculação constitucional. É uma proposta de apelo popular, mas inócua do ponto de vista da história do País, da diversidade regional. Cada estado é uma realidade. É uma proposta que, na essência, é inconstitucional. Portanto, é apenas uma cortina de fumaça, que não será aprovada, para encobrir essas maldades que estão no pacote.

HNT/HiperNotícias - Qual é a análise do senhor sobre essa decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que declarou que mandar réu à prisão em segunda instância é inconstitucional? E como o senhor avalia essa articulação do Senado para reverter a decisão do STF?

Lúdio Cabral - O STF tomou a decisão correta. Fez a leitura certa da Constituição, que é clara ao tratar da presunção da inocência ao tratar do trânsito em julgado. A mobilização que há no Congresso é baseada em algo que eles consideram um fato essencial, mas o artigo 5º, e seus dispositivos, são cláusulas pétreas. Não podem ser alterados, a não ser por uma nova Assembleia Constituinte. É uma movimentação muito mais para acolher a opinião de uma parcela da população, que está contaminada pelo punitivismo, do que algo que vá produzir um resultado prático.

 

Prefeitura de Cuiabá: "Há vários bons nomes no campo da centro-esquerda. O Julier, o maestro Fabrício Carvalho, a professora Maria Lúcia (ex-reitora da UFMT), a Gisela, o Arquimedes, a Edna Sampaio, a Rosa Neide..."

HNT/HiperNotícias - O ex-presidente Lula foi solto na última semana. Como um dos principais representantes do partido em Mato Grosso, o senhor acredita que ele ainda possa disputar as próximas eleições presidenciais?

Lúdio Cabral - Tudo depende do que acontecer nos processos judiciais. A decisão do STF restabelece em parte a justiça ao ex-presidente do Lula. Essa justiça, para ser feita na plenitude, precisa da votação do habeas corpus que está no Supremo, que prevê a suspensão. Se isso acontecer, o Lula retoma os direitos políticos e pode vir a disputar eleições. Mas hoje, eu acho que muito mais do que candidato, o Lula é uma liderança que simboliza a vontade da população em resgatar seus direitos que estão sendo retirados pelo atual governo.

HNT/HiperNotícias - Como o PT pode recuperar o eleitorado dele em MT, avaliando que nas últimas eleições, dos 141 municípios, Bolsonaro só perdeu em 19, conforme o levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)?

Lúdio Cabral - O próprio Bolsonaro está mostrando ao eleitorado que a escolha feita não foi a melhor. Houve uma ‘onda’ nas últimas semanas da campanha. Há um questionamento ainda em debate sobre as origens dessa ‘onda’, inclusive há uma CPI no Congresso tratando das Fake News, mas uma parcela da população já percebeu que não fez a escolha correta, independente do Partido dos Trabalhadores. As pesquisas que avaliam a aprovação do mandato do presidente mostram que ele tem a pior avaliação, entre todos os presidentes no primeiro ano de mandato. No caso do PT, o que nós precisamos é nos reconectarmos com as bases da população trabalhadora, com as comunidades, com a população evangélica, buscar um diálogo e uma aproximação, porque vai ser fundamental a mobilização da população para evitar as muitas perdas de direitos que estão sendo implementadas depois que saímos do governo.

HNT/HiperNotícias - Acredita que o PT deveria fazer uma autocrítica? E se sim, como esse processo deveria ser iniciado?

Lúdio Cabral - O PT é um partido que tem uma democracia interna muito forte. É o único partido que escolhe a sua direção por meio da participação direta de todos os filiados. É um partido que tem muitas lideranças qualificadas em muitas áreas, em vários estados, em várias cidades, em várias temáticas. Há um processo de autocritica que já está sendo feito ao longo dos últimos anos. A opção por um governo de coalisão, a opção pela conciliação com os interesses de certos setores do capital econômico, a convivência com o modelo tradicional de campanha, a relação com a mídia... São autocríticas necessárias que o PT vem fazendo. Nós perdemos a oportunidade de fazer uma reforma política verdadeira e profunda no Brasil, para que a representação que a população tem seja sintonizada com as características que a nossa população tem. Um exemplo: a Assembleia Legislativa tem apenas uma mulher e não tem um negro, para dar um espelho da sintonia entre parlamento e a sociedade. Há uma falta de sintonia. O PT perdeu a oportunidade também de debater a democratização da mídia. Além de ter feito tudo o que se fez de inclusão econômica e social, trabalhar um processo de inclusão e de debate sobre consciência de classe na população.