HiperNotícias - Você bem informado

Segunda-feira, 16 de Setembro de 2019, 14h:43

Preso em fraude na Sema é servidor de carreira e ex-candidato a deputado

LUIS VINICIUS

O coordenador da Secretaria de Estado e Meio Ambiente (Sema), Ronnky Chaell Braga da Silva, foi um dos alvos da 6ª fase da “Operação Polygonum”, deflagrada pela Delegacia Especializada de Meio Ambiente (Dema) e pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), na manhã desta segunda-feira (16).

Reprodução

Ronnky

Esquema tinha como objetivo reduzir áreas de Reserva Legal

Ronnky foi preso em sua residência, localizada em Cuiabá. Além de servidor, ele já foi candidato a deputado estadual no ano de 2014 pelo Partido Social Cristão (PSC).

O homem passará por audiência de custódia no Fórum de Cuiabá, onde deverá ser decidido se a prisão será mantida e sendo assim, qual unidade penitenciária ele deverá ser encaminhado.

Além dele, outros 11 servidores também foram presos e 13 mandados de busca e apreensão foram cumpridos pelos agentes. Durante os trabalhos foram apreendidos carros de luxo, como: uma BMW e uma Toyota SW4 nas residências dos presos.

Dentre os presos, estão empresários, servidores e engenheiros florestais como alvos.

A investigação refere-se às fraudes praticadas por servidores públicos, proprietários rurais e engenheiros florestais, no âmbito da Gestão Florestal, visando a supressão da vegetação nativa, diminuindo a área destinada à Reserva Legal, ao classificar a tipologia da propriedade de área de floresta em área de cerrado, em desconformidade com a lei.

Relatórios de Tipologia elaborados por Engenheiros Florestais, contendo informações falsas acerca do tipo de vegetação existente no imóvel, eram encaminhados à Sema, cujo órgão era responsável por vistoriar a área e confrontar as informações apresentadas no laudo.

Ocorre que alguns servidores responsáveis pela vistoria iam nas propriedades rurais e validavam as informações falsas, reenquadrando a classificação da fitofisionomia vegetal da propriedade, aumentando a área passível de desmate com diminuição do coeficiente de reserva legal.

bmw apreendda.jpg

 Relatórios fraudados permitiam áreas imensas de desmate

As investigações indicam que proprietários de imóveis rurais, através de engenheiro florestal, estariam fraudando o sistema ambiental com relatórios ambientais inidôneos. O imóvel localizado em bioma amazônico, por exemplo, pode ser desmatado em apenas 20%. Contudo, se a tipologia florestal for de Cerrado, o proprietário tem direito a desmatar 65%.

Com um relatório falso aprovado pela Sema é possível desmatar mais do que o triplo permitido pelo Código Florestal. Assim, uma fazenda de 10.000 hectares, localizada no bioma amazônico, poderá desmatar 4.500 hectares a mais com o relatório fraudado aprovado pela Sema.

Essas informações ficam registradas no sistema e, com o uso de imagens de satélite e outras ferramentas tecnológicas, podem ser auditadas em qualquer momento, mesmo após os desmatamentos.

Peritos do Ministério Público, auxiliados por um pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e fiscais do Ibama, vistoriaram 22 propriedades, com indícios de crime em 18. Na operação desta segunda-feira, são 10 propriedades investigadas, em que foram constatadas as fraudes.

Os peritos constataram que as fraudes consistiam em inserir nos relatórios dados falsos sobre a fisionomia da vegetação (como dossel e sua altura) e composição florística (leva em conta o tipo de vegetação que ocorre no bioma). A vegetação típica de floresta apresenta, por exemplo, altura de dossel (tipo e altura da copa das árvores) e vegetação diferentes do que ocorre com vegetação típica de cerrado. Nos relatórios de tipologia, os engenheiros florestais atestavam que a altura do dossel e a vegetação encontradas na propriedade eram de cerrado quando na verdade eram de floresta.

Ainda, durante o minucioso trabalho realizado por equipe de analistas da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), em apoio às fases anteriores da Operação Polygonum, foi possível o cruzamento de informações, auxiliando no presente trabalho investigativo.

Os trabalhos de investigação das demais tipologias suspeitas serão feitos em conjunto pelo MP, Dema e Sema.