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Sexta-feira, 16 de Agosto de 2019, 09h:06

Maria Nazareth Hans: símbolo de luta da mulher mato-grossense

NEILA BARRETO

Divulgação

Neila Barreto

Nascida em Caiapônia, Goiás, em 1919, Maria Nazareth Hans foi vereadora que por mais tempo legislou por Cuiabá. Maria Nazareth ingressou no parlamento municipal em 1955 pelo Partido Socialdemocrata (PSD). Ela tomou posse pela primeira vez em janeiro de 1955, no início da segunda legislatura. Hans entrou para a história do Legislativo por ter sido a mulher que mais teve mandato em Cuiabá. Dali para frente se reelegeu por cinco vezes, completando seis mandatos em sua carreira. A vereadora ficou muito conhecida por seus trabalhos na área social e assistencial e foi figura decisiva na construção do bairro Praeirinho, auxiliando famílias a se assentarem no local. Em seus seis mandatos completou 26 anos de Câmara Municipal. Foi a segunda a assumir uma vaga no Parlamento Municipal, pois a primeira foi Estevina Abalém, a mãe do radialista J. Márcio, de Cuiabá.

Um vereador que foi contemporâneo de Câmara de Maria Nazareth foi o escritor Gilson de Barros. Conforme as suas memórias, Maria Nazareth foi uma vereadora que se tornou uma espécie de referência na casa. “Ficou famosa por eleger o bairro Praeirinho e cuidou dele sempre. O bairro surgiu a partir do movimento dos favelados e, Maria Nazareth desenrolou todos os assuntos para que as pessoas conseguissem se assentar no local”, disse Gilson. Ele ainda lembrou uma cena em que, no calor das discussões entre Arena e MDB, do qual Gilson fazia parte, um vereador que hoje é seu amigo sacou um revólver e a própria Maria impediu que um acidente maior acontecesse.

“Nesse dia ela passou a frente do vereador e impediu que ele me acertasse um tiro. E, depois do episódio, mesmo sendo do partido do governo, a Arena, ela me deu razão. Sempre foi uma mulher de coragem e soube agir de forma independente quando ela acreditava”, recordou Barros. Outro colega de legislatura foi Aldísio da Cruz. Ele explicou que “no Praeirinho ela ficou apelidada de “Minisanandu”, pois “Sandu” era o atendimento de saúde pública da época e, ela fazia muitos atendimentos, principalmente, às senhoras e esposas abandonadas e levava para o pronto-socorro”, recordou.

Durante os seus mandatos, também foi presidente e vice em exercício por algumas vezes, da Câmara Municipal de Cuiabá. Foi presidente, por duas vezes seguidas, da União dos Vereadores de Mato Grosso – UVEMAT, participando dos principais encontros de vereadores do Brasil, conforme deixou registrado o jornalista Severino Mota.

Conviveu com figuras mato-grossenses ilustres, como Filinto Muller, João Ponce, Licínio Monteiro da Silva e Saldanha Derzi.

A vereadora Maria Nazareth Hahn, em uma sessão realizada no dia 31 de março de 1967, em comemoração ao 3º aniversário da "Revolução" de 1964 fez o seguinte pronunciamento: "Estaremos ao lado do espírito nacional, que por vocação inata e democrática, de cuja atitude cívica atual surgiu a benemérita Revolução de 31 de março de 1964, cujo evento vem dando com eficiente prudência e segurança, a restauração moral e administrativa do país, fixando com firmeza nesta hora, uma nova etapa promissora de respeito internacional à pátria e à família brasileira’, conforme Ata de registro das sessões da Câmara Municipal de Cuiabá, de 26 de dezembro de 1966 à 8 de abril de 1967. (Acervo da Coordenadoria de Cultura e Resgate Histórico/CMC).

Maria Nazareth Hahn foi casada com um imigrante alemão, iniciou sua carreira política pelo PSD, ficou por muitos anos no Arena até sua extinção, foi para o PDS e depois PFL. Segundo seu filho, Silvio Ramos, “a política já estava em seu sangue, ela era prima do Pedro Ludovico e Mauro Borges, que foram governadores de Goiás. A principal característica dela era o corpo a corpo: sempre estava junto daqueles que ela representava”, lembrou.

Conta a história que Maria Nazareth possuía um binóculo. Da janela da Câmara Municipal, ela costumava fiscalizar os taxistas que deixavam os passageiros em frente à Câmara, verificando se os seus veículos estavam sujos e, se estavam vestidos adequadamente, para atender à população. O povo era respeitado e os parlamentares municipais mais ainda. A única vez que um bêbado entrou lá e falou besteira foi jogado pelas nossas eternas vereadoras Maí do Couto e pela Maria Nazareth pela janela do segundo andar na calçada em frente ao Jardim Alencastro. Após ser engessado, o Calazans foi curar a ressaca e o braço quebrado em casa, deixou registrado Paulo Zaviaski.

Humanitarista, a vereadora foi autora de inúmeros projetos de lei e requerimentos que redundaram em benefícios para Cuiabá, principalmente, em bairros carentes, em obras de saneamento, iluminação, asfaltamento, abertura de ruas, redes de água e luz, assim como, promoveu trabalhos sociais e filantrópicos em Cuiabá. Maria Nazareth visitava, pessoalmente, seus eleitores e percorria os bairros da cidade procurando saber das necessidades dos moradores.

Foram parceiros de Maria Nazareth na Câmara Municipal de Cuiabá, Giunchíglio Luiggi Bello, Gilson e Evaldo de Barros, Newton Alfredo, Augusto Mário Vieira, Ana Maria do Couto, a nossa eterna “May” (lê-se Maí); Maria Nazareth Hahn, Estevão Torquato, Alves de Oliveira e tantos outros bons, que fizeram a história de conquistas, honra e competência de nossa Câmara de antanho.

A Lei 3955, de 02 de junho de 2000, na gestão do prefeito Roberto França, denominou o Centro Integrado de Atendimento à criança e ao adolescente, localizado no bairro Jardim Araçá, em Cuiabá de Vereadora "MARIA NAZARETH HAHN", em sua homenagem.

Maria Nazareth Hans encerrou a sua carreira política em 1982, merecendo uma sessão solene na Câmara Municipal de Cuiabá. Foi homenageada pela Rede Globo de Televisão no Ano Internacional da Mulher em 1982, como símbolo de luta da mulher mato-grossense.

Faleceu em Cuiabá, em 04 de dezembro de 2004.

 

(*) NEILA MARIA SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]